São Paulo, sábado, 18 de julho de 1998

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IMUNOLOGIA
Produtos inócuos facilitam a proliferação de microrganismos resistentes a antibióticos
Remédio falso favorece surgimento de superbactérias, diz pesquisador

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Natal

O uso de medicamentos falsificados, com pouco ou nenhum princípio ativo em sua fórmula, poderá provocar o aumento da taxa de infecção hospitalar no Brasil.
O alerta foi feito ontem pelo professor de imunologia e microbiologia José Mauro Peralta, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), durante simpósio na 50ª Reunião Anual da SBPC, em Natal (RN).
A utilização desses medicamentos nos hospitais, disse, também pode induzir o surgimento de cepas (variedades) de microrganismos resistentes às substâncias que deveriam combatê-los.
Os tratamentos com esses medicamentos, afirmou Peralta, exigem a utilização de doses controladas. Sem esse controle, disse, aumenta o risco de proliferação de microrganismos mutantes.

Doenças emergentes
O mecanismo das eventuais mutações, comparou Peralta, seria semelhante ao que provocou o ressurgimento da tuberculose. A doença, disse, reapareceu em função do abandono prematuro da terapêutica por pacientes.
A interrupção sistemática do tratamento, afirmou o professor, fez surgir cepas resistentes aos antibióticos até então usados, facilitando sua disseminação.
Peralta ressaltou que modificações genéticas de microrganismos não são beneficiadas apenas pelo uso inadequado de medicamentos ou de drogas incapazes de combater doenças.
Fatores ambientais, econômicos, demográficos e sociais também favorecem o reaparecimento ou surgimento de novas infecções.
O controle sobre as variantes virulentas, disse o professor, passa pelo monitoramento genético dos microrganismos, que pode levar anos para ser concluído.
Por meio desse método, afirmou, é possível acompanhar eventuais alterações e prevenir as comunidades contra o surgimento ou ressurgimento de doenças.
Peralta citou como exemplo de doença emergente a infecção por choque tóxico. Relatada pela primeira vez em 1987, ela é causada por uma bactéria do gênero Streptococcus, que tornou-se agressiva por motivos ainda desconhecidos.
Normalmente, afirmou Peralta, essa bactéria só provocaria faringites e febre reumática, doenças conhecidas "há muito tempo".



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