São Paulo, sábado, 18 de julho de 1998

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Declínio naval ajudou a colonização do Brasil

RICARDO BONALUME NETO
enviado especial a Natal

A incapacidade de Portugal de manter uma navegação eficiente para a Ásia um século e meio depois da viagem inaugural de Vasco da Gama em 1498 foi um dos motivos da decadência do império marítimo que o país construiu.
E, indiretamente, esse declínio ajudou e foi paralelo ao maior interesse pela colonização do Brasil.
Essa tese está sendo desenvolvida em um doutorado por Fábio Pestana Ramos, orientado por Mary Del Priori, do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP).
No período estudado por Ramos (1497-1653), 19,08% dos navios que partiram de Portugal na chamada "carreira da Índia" malograram. "Um em cada cinco navio se perdia", diz Ramos.
Em alguns momentos o problema foi bem mais grave. De 1590 a 1599, dos 55 navios que partiram 43,64% se perderam; e, de 74 enviados de 1600 a 1609, as perdas foram de 41,89%.
"Quando Portugal caiu sob domínio espanhol, passou a ter a Holanda e a Inglaterra como inimigas", lembra Ramos. E a luta com essas duas grandes potências navais ajudou a dizimar as frotas portuguesas.
A demanda de navios aumentou muito, o que causou problemas de construção.
Além de se ter congelado o modelo dos navios, que passaram a ficar obsoletos -isto é, mais lentos e com pior capacidade de manobra que os adversários-, eles se tornaram muito mal-acabados.
"Havia navios tão mal calafetados que a água começava a entrar na primeira viagem", diz Ramos.
Além disso, pouco se fez para melhorar o conforto a bordo. Cada marinheiro tinha em média 50 centímetros quadrados de espaço. A superlotação trazia doenças e era comum metade de uma tripulação morrer.
Uma solução teria sido fazer uma escala no Brasil no caminho. Mas essa parada aumentava o risco de deserção dos tripulantes.
Na volta, os navios partiam superlotados e isso também contribuía para a sua perda.
Ramos passou um mês em Portugal pesquisando os dados do seu trabalho. Ele pretende ainda conseguir dados equivalentes sobre a "carreira do Brasil" e sobre outros países no mesmo período.



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