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Declínio naval ajudou
a colonização do Brasil
RICARDO BONALUME NETO
enviado especial a Natal
A incapacidade de Portugal de
manter uma navegação eficiente
para a Ásia um século e meio depois da viagem inaugural de Vasco
da Gama em 1498 foi um dos motivos da decadência do império marítimo que o país construiu.
E, indiretamente, esse declínio
ajudou e foi paralelo ao maior interesse pela colonização do Brasil.
Essa tese está sendo desenvolvida em um doutorado por Fábio
Pestana Ramos, orientado por
Mary Del Priori, do Departamento de História da Universidade de
São Paulo (USP).
No período estudado por Ramos
(1497-1653), 19,08% dos navios
que partiram de Portugal na chamada "carreira da Índia" malograram. "Um em cada cinco navio se perdia", diz Ramos.
Em alguns momentos o problema foi bem mais grave. De 1590 a
1599, dos 55 navios que partiram
43,64% se perderam; e, de 74 enviados de 1600 a 1609, as perdas
foram de 41,89%.
"Quando Portugal caiu sob domínio espanhol, passou a ter a
Holanda e a Inglaterra como inimigas", lembra Ramos. E a luta
com essas duas grandes potências
navais ajudou a dizimar as frotas
portuguesas.
A demanda de navios aumentou
muito, o que causou problemas de
construção.
Além de se ter congelado o modelo dos navios, que passaram a
ficar obsoletos -isto é, mais lentos e com pior capacidade de manobra que os adversários-, eles
se tornaram muito mal-acabados.
"Havia navios tão mal calafetados que a água começava a entrar
na primeira viagem", diz Ramos.
Além disso, pouco se fez para
melhorar o conforto a bordo. Cada marinheiro tinha em média 50
centímetros quadrados de espaço.
A superlotação trazia doenças e
era comum metade de uma tripulação morrer.
Uma solução teria sido fazer
uma escala no Brasil no caminho.
Mas essa parada aumentava o risco de deserção dos tripulantes.
Na volta, os navios partiam superlotados e isso também contribuía para a sua perda.
Ramos passou um mês em Portugal pesquisando os dados do seu
trabalho. Ele pretende ainda conseguir dados equivalentes sobre a
"carreira do Brasil" e sobre outros países no mesmo período.
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