São Paulo, sábado, 18 de julho de 1998

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Fêmeas de saguis usam cheiro para impedir gravidez de rivais

do enviado especial a Natal

Um grupo de saguis "punks" deu algumas lições sobre sexo para cientistas, o que poderá, no futuro, auxiliar algumas mulheres estéreis a ter filhos e também ajudar no tratamento de uma doença dos ossos, a osteoporose.
O termo "punk" foi usado pelo cientista britânico David Abbott para se referir aos saguis da espécie Callithrix jacchus de seu laboratório. Eles tiveram seus tufos de pêlos claros pintados para melhor identificação -marrom e azul para os machos, cor-de-rosa e verde para as fêmeas.
Abbott e seus colegas da Universidade de Wisconsin, nos EUA, mostraram como as fêmeas dominantes de um grupo de saguis conseguem impedir que as fêmeas mais submissas na escala social ovulassem e tivessem filhotes.
Agora os pesquisadores norte-americanos estão tentando descobrir o mecanismo bioquímico que faz isso acontecer. O conhecimento desse mecanismo poderá auxiliar mulheres com distúrbios hormonais e incapazes de ter filhos.
Curiosamente, essas fêmeas submissas têm uma diminuição de certos hormônios no sangue, o que deveria causar a osteoporose (rarefação anormal dos ossos), mas não é isso que acontece. Descobrir o porquê poderá auxiliar no tratamento dessa doença.
Embora a pesquisa com os saguis não possa ser extrapolada diretamente para a sociedade humana, segundo Abbott, o comportamento sexual dos saguis têm mais pontos em comum com o dos seres humanos do que com o dos chimpanzés -apesar de os macacos africanos serem geneticamente mais próximos do homem.
"Nós também vivemos em jaulas", brinca Abbott. Já foi provado que mulheres vivendo juntas tendem a sincronizar seus ciclos menstruais e, em determinadas sociedades humanas, algumas mulheres "dominantes" têm uma inclinação a ter mais filhos.
Os saguis, animais típicos da mata atlântica da região Nordeste do país, vivem em grupos de seis a oito indivíduos, mas que podem chegar a 15.
Uma fêmea dominante praticamente monopoliza a atenção dos machos. De acordo com o pesquisador, ela age como se fosse uma "sagui-rainha", da mesma maneira que acontece com a sociedade das abelhas.
Para reforçar essa idéia, Abbott mostrou a montagem de um slide de um sagui com a cara da ex-primeira-ministra britânica Margareth Thatcher, a "dama de ferro".
O grupo de saguis coopera em tarefas como a criação dos filhotes ou a vigilância contra predadores. Para poder usufruir dessas vantagens, as fêmeas subordinadas pagam o preço da menor frequência na reprodução.
Os saguis têm um cheiro bem característico. A fêmea desse animal utiliza a secreção de uma glândula para anunciar seu status social, que também influencia as fêmeas subordinadas.
Nas pesquisas de Abbott, foi demonstrado que a presença desse cheiro e até o mero contato visual com a fêmea dominante serviram para bloquear a ovulação das subordinadas -levaram 30 dias em vez de cinco para ovular.
Em contrapartida, o mesmo cheiro de uma fêmea dominante desconhecida -que pertencia a um outro bando de saguis- foi incapaz de gerar o mesmo efeito.
Segundo Abbott, "não se trata de um feromônio (hormônio ligado à atração sexual), mas sim de uma substância ligada à sinalização social". (RBN)


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