São Paulo, sábado, 18 de julho de 1998

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POLÍCIA
Distribuição seria apenas para tratamento clínico; secretário Antidrogas diz que governo não irá liberar uso da maconha
Governo analisa uso controlado de drogas

da Sucursal de Brasília

O uso controlado de drogas no tratamento clínico dos dependentes químicos no país será uma das propostas analisadas pela Secretaria Nacional Antidrogas e apresentada ao Ministério da Saúde. O programa já existe na Suíça e na Itália.
O governo deixou claro que essa proposta limita-se aos tratamentos de saúde e não admite nem a descriminação das drogas nem a distribuição para dependentes.
A idéia do uso controlado em tratamentos clínicos foi defendida pelo secretário nacional Antidrogas, Wálter Fanganiello Maierovitch, com apoio do ministro-chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso, durante reunião com 25 presidentes de conselhos estaduais de entorpecentes no Palácio do Planalto.
Cardoso e Maierovitch se baseiam no resultado obtido pelo governo suíço, que por meio do uso controlado de drogas em tratamentos de saúde, teria recuperado 82 dependentes de um grupo de 114. "O Estado tem a responsabilidade de colocar o que existe de mais atual para que a sociedade civil discuta", disse Maierovitch, após afirmar que a secretaria está aberta a sugestões por meio da Internet (no seguinte endereço: SENAD@planalto.gov.br).
Cardoso disse ter conhecido uma experiência semelhante à aplicada na Suíça, em Barbacena (MG), mas com alcoólatras. Segundo ele, nessa clínica mineira, o médico controla a quantidade de bebida alcoólica a ser dada ao paciente, que ocorre com horários marcados. A dose de bebida diminui aos poucos, até chegar a zero.
"No dia em que eu estive lá, o médico acabou se atrasando para dar a dose da bebida aos pacientes, quando ele chegou, ouviu de um deles: "Doutor, hora é hora', em tom de repreensão porque havia demorado", disse o general. Na opinião dele, o tratamento deve ser analisado como um meio possível de curar a dependência.
Maierovitch disse que o objetivo da secretaria é apresentar propostas para o tratamento dos dependentes, mas a decisão final caberá ao Ministério da Saúde. A adoção desse tratamento clínico não admite a possibilidade de o governo vir a descriminar (absolver de crime) o uso de drogas no país. A descriminação foi descartada por Cardoso.
"O governo não estuda de forma nenhuma a descriminação das drogas", disse o general. Segundo o general, ao autorizar a descriminação da droga poderá aumentar o número de usuários no país. Citou como exemplo a maconha, que na opinião dele, é "a porta de entrada do vício". Por essa razão, Maierovitch descartou também a possibilidade de o governo vir a distribuir drogas para os dependentes, como ocorre em alguns países europeus. (RENATA GIRALDI)


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