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SAÚDE
Médicos divergem sobre ejaculação feminina
JAIRO BOUER
especial para a Folha
As mulheres ejaculam? O assunto, que continua controverso
até os dias de hoje, ainda divide os
especialistas em sexualidade humana e as próprias mulheres.
A ejaculação feminina, da forma como descrevem seus defensores, seria semelhante à masculina. No momento do orgasmo, a
mulher liberaria um líquido incolor, inodoro, em pequenos jatos,
pela uretra (orifício por onde
também sai a urina e que está logo
acima da entrada da vagina).
O líquido "ejaculado" seria
muito menos viscoso que a lubrificação vaginal e teria aspecto totalmente diverso da urina. As mulheres que dizem ejacular afirmam que não
há como confundir com qualquer
outro líquido do corpo.
Para pesquisadores americanos, que demonstraram a existência da ejaculação feminina nos
anos 80, ela estaria associada ao
orgasmo mais intenso (vaginal) e
à estimulação do ponto G (na região da parede anterior da vagina,
a cerca de cinco centímetros da
entrada do órgão).
O ginecologista Francisco Siervo Neto, de São Paulo, diz que
nunca viu em seu consultório nenhuma mulher que contasse que
teria a ejaculação.
O ginecologista Gerson Lopes,
de Belo Horizonte, um dos maiores especialistas brasileiros em sexualidade da mulher, diz que já
foi mais radical com relação à ejaculação feminina.
Lopes sempre trabalhou com a
perspectiva de que a ejaculação
feminina fosse apenas mais um
dos mitos sexuais, que ganham a
força de verdade absoluta.
Nos diversos congressos que
participou, nunca nenhum pesquisador conseguiu comprovar,
de fato, essa teoria.
No entanto Lopes afirma que
atendeu, recentemente, algumas
pacientes que modificaram um
pouco suas idéias. Segundo ele,
elas descreviam a ejaculação feminina com uma riqueza de detalhes que não deixava muita margem de dúvida com relação ao
que acontecia com seu corpo.
Mas Lopes insiste que a ejaculação feminina não pode ser considerada como uma manifestação
padrão da sexualidade feminina.
"Talvez poucas mulheres, em alguns orgasmos especiais, consigam ter esse tipo de ejaculação."
Para Lopes, o líquido seria produzido por glândulas rudimentares (ao lado da uretra) que seriam
vestígios da próstata (glândula
masculina responsável por boa
parte dos líquidos presentes no
esperma).
Essas glândulas, em algumas
mulheres, teriam uma forma anatômica especial que permitiria
uma contração mais intensa no
momento do orgasmo e faria com
que o líquido produzido por elas
saísse com pressão, como nos jatos da ejaculação do homem.
O ginecologista se posiciona
contra a idéia de que toda mulher
tenha esse tipo de ejaculação e
que técnicas deveriam ser empregadas para facilitar a obtenção
dessa manifestação.
"Perseguir a idéia de uma suposta ejaculação feminina é reduzir demais toda a sexualidade da
mulher. O universo sexual feminino é muito mais amplo do que
isso", afirma.
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