São Paulo, Domingo, 18 de Julho de 1999
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SAÚDE
Médicos divergem sobre ejaculação feminina

JAIRO BOUER
especial para a Folha

As mulheres ejaculam? O assunto, que continua controverso até os dias de hoje, ainda divide os especialistas em sexualidade humana e as próprias mulheres.
A ejaculação feminina, da forma como descrevem seus defensores, seria semelhante à masculina. No momento do orgasmo, a mulher liberaria um líquido incolor, inodoro, em pequenos jatos, pela uretra (orifício por onde também sai a urina e que está logo acima da entrada da vagina).
O líquido "ejaculado" seria muito menos viscoso que a lubrificação vaginal e teria aspecto totalmente diverso da urina. As mulheres que dizem ejacular afirmam que não há como confundir com qualquer outro líquido do corpo.
Para pesquisadores americanos, que demonstraram a existência da ejaculação feminina nos anos 80, ela estaria associada ao orgasmo mais intenso (vaginal) e à estimulação do ponto G (na região da parede anterior da vagina, a cerca de cinco centímetros da entrada do órgão).
O ginecologista Francisco Siervo Neto, de São Paulo, diz que nunca viu em seu consultório nenhuma mulher que contasse que teria a ejaculação.
O ginecologista Gerson Lopes, de Belo Horizonte, um dos maiores especialistas brasileiros em sexualidade da mulher, diz que já foi mais radical com relação à ejaculação feminina.
Lopes sempre trabalhou com a perspectiva de que a ejaculação feminina fosse apenas mais um dos mitos sexuais, que ganham a força de verdade absoluta.
Nos diversos congressos que participou, nunca nenhum pesquisador conseguiu comprovar, de fato, essa teoria.
No entanto Lopes afirma que atendeu, recentemente, algumas pacientes que modificaram um pouco suas idéias. Segundo ele, elas descreviam a ejaculação feminina com uma riqueza de detalhes que não deixava muita margem de dúvida com relação ao que acontecia com seu corpo.
Mas Lopes insiste que a ejaculação feminina não pode ser considerada como uma manifestação padrão da sexualidade feminina. "Talvez poucas mulheres, em alguns orgasmos especiais, consigam ter esse tipo de ejaculação."
Para Lopes, o líquido seria produzido por glândulas rudimentares (ao lado da uretra) que seriam vestígios da próstata (glândula masculina responsável por boa parte dos líquidos presentes no esperma).
Essas glândulas, em algumas mulheres, teriam uma forma anatômica especial que permitiria uma contração mais intensa no momento do orgasmo e faria com que o líquido produzido por elas saísse com pressão, como nos jatos da ejaculação do homem.
O ginecologista se posiciona contra a idéia de que toda mulher tenha esse tipo de ejaculação e que técnicas deveriam ser empregadas para facilitar a obtenção dessa manifestação.
"Perseguir a idéia de uma suposta ejaculação feminina é reduzir demais toda a sexualidade da mulher. O universo sexual feminino é muito mais amplo do que isso", afirma.


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