São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2001

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AMBIENTE

Lixão de Gramacho, localizado em Duque de Caxias, está perto da saturação e projeto de novo aterro foi abandonado

Em 3 anos, Rio deve ficar sem área para lixo

ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO

O destino da maior parte do lixo da região metropolitana do Rio está indefinido. O lixão de Gramacho, que recebe cerca de 10 mil toneladas de detritos por dia, está próximo da saturação e os planos para instalar um novo aterro em Saracuruna foram abandonados, depois da pressão de ambientalistas e moradores.
Gramacho e Saracuruna ficam em Duque de Caxias, cidade da região metropolitana localizada a 20 quilômetros do centro do Rio.
O município do Rio contribui com 80% do lixo depositado no lixão da cidade vizinha, implantado em 1977.
Estudos realizados por técnicos da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio) apontam que o local só tem mais três anos de vida útil.
Uma alternativa que estava sendo estudada no próprio município carioca, de construção de um novo aterro no bairro de Paciência, não saiu do papel.
Em Bangu, os moradores prepararam protestos para fechar o depósito que funciona atualmente no local. Os dois bairros ficam na zona oeste do Rio.

Projeto
O projeto para construir o novo aterro em Saracuruna surgiu em 1999 e ganhou fôlego no ano passado, quando o Ministério do Meio Ambiente prometeu repassar para as prefeituras da região parte de uma multa de R$ 51 milhões aplicada contra a Petrobras.
A estatal foi punida por ter poluído a baía de Guanabara com o derramamento de 1,3 milhão de litros de óleo, em janeiro de 2000.
Os opositores da construção do novo aterro argumentam que o dinheiro da multa iria acabar servindo para agredir novamente a baía, que forma o litoral de Saracuruna. A área, próxima do rio Estrela, é composta por regiões de mangue, que são protegidas por legislação federal.
Em agosto, o prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito dos Santos, compareceu a uma reunião com moradores da região e, depois de ter sido vaiado, negou que o projeto de construção do aterro vá ser executado. Pelo convênio firmado com o ministério, a prefeitura iria receber R$ 3 milhões para realizar o projeto.
No ano passado, a Prefeitura do Rio também anunciou investimentos na cidade vizinha, como medidas compensatórias pelo fato de depositar ali a maior parte do lixo que produz. O dinheiro viria de um empréstimo de R$ 42 milhões obtido com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O subsecretário municipal de Meio Ambiente de Duque de Caxias, engenheiro Evaldo Louredo de Araújo, diz que o atual aterro em Gramacho é "como alguém de 102 anos de idade, podendo viver mais uma semana ou um ano, mas que certamente já ultrapassou a expectativa média de vida".

Estudos
Para resolver o problema, Araújo diz que a secretaria vem realizando estudos tentando definir um novo local para o aterro, porém não antecipa as opções, procurando evitar futuras resistências. "Com certeza a definição só irá surgir depois de discussões com a população e seguindo as determinações da legislação ambiental", afirma ele.
O lixão de Gramacho, que se tornou célebre pelas imagens de favelados garimpando detritos, também foi construído sobre uma área de manguezal.
Porém, Araújo afirma que, na época, o regime de força do governo militar e a falta de resistência de ambientalistas tornaram o projeto possível.
As características do solo na área, que é composto por argila orgânica, é a maior causa do final da vida útil do lixão. As montanhas de detritos lançadas no local, mesmo compactadas por tratores, estão sofrendo deslizamentos internos, mostrando que a região é geologicamente instável.


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