São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 2002

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NARCOTRÁFICO

Ocupação de favela só deve acabar quando for preso o principal suspeito de comandar o assassinato de Tim Lopes

Rio aciona 500 policiais contra Elias Maluco

Publius Vergilius/Folha Imagem
Crianças observam policiais civis que ocuparam ontem parte do complexo do Alemão


TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Como tentativa desesperada de prender Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, a Polícia Civil do Rio iniciou ontem uma operação, batizada de Pandora, em que, segundo a Secretaria de Segurança Pública, 500 policiais se revezarão na favela da Grota (complexo do Alemão, zona norte) até encontrar o traficante.
Faltam nove dias para que termine o prazo de um mês dado pelo secretário de Segurança, Roberto Aguiar, para a prisão de Elias Maluco, 36, apontado como assassino do jornalista Tim Lopes, da TV Globo. O crime ocorreu no complexo no dia 2 de junho.
A operação começou às 8h30 de ontem, com 250 policiais. Outros 250 passariam à noite na favela. Dois helicópteros e o dirigível a serviço da Secretaria de Segurança participaram da ação.
Apesar do aparato, a operação não havia tido sucesso até a conclusão desta edição. Elias Maluco não havia sido encontrado.
Até as 19h30, os PMs tinham detido três suspeitos. Em um dos acessos à favela, a polícia colocou uma carceragem móvel em um microônibus. O veículo ficou praticamente vazio o dia inteiro.
O trabalho dos policiais se divide em dois turnos. São 250 das 8h às 20h e o mesmo número das 20h às 8h. Segundo o delegado titular da DH (Delegacia de Homicídios), Paulo Passos, não há data para a ação terminar. "Só saímos daqui com o Elias Maluco", disse.

Refúgio
Passos afirmou que a análise de várias denúncias recebidas pelo setor de inteligência da Polícia Civil indica que o traficante está escondido na Grota, favela em que o jornalista da Globo foi assassinado, depois de capturado na vizinha Vila Cruzeiro. Lopes fazia uma reportagem para a emissora.
"Sabemos que ele pode reagir e pode estar fortemente armado, mas a determinação do chefe da Polícia Civil [delegado Zaqueu Teixeira" é só sair daqui com Elias Maluco preso", afirmou.
A polícia espera que a comunidade ajude, com denúncias anônimas. "Logo depois do assassinato do Tim Lopes, pensávamos que os próprios traficantes iriam entregá-lo. No entanto, o que vemos é que ele ganhou mais respeito. Hoje é um dos homens mais fortes do Comando Vermelho [facção criminosa" em liberdade."
Ontem, quando os primeiros policiais chegaram à favela, às 8h30, tiros foram ouvidos. Mas, segundo Passos, não houve confronto entre policiais e traficantes.

Rendição
A rendição de Elias Maluco, vem sendo tratada de maneira sigilosa desde o início do mês pelo corregedor-geral de Polícia Unificada do Rio, Aldney Peixoto.
O corregedor disse ontem que, por intermédio do advogado de Elias Maluco, Paulo Roberto Cuzzuol, ofereceu ao traficante todas as garantias de segurança, se ele concordar em se entregar. Cuzzuol ficou de consultar seu cliente, segundo Peixoto, mas ainda não deu resposta.
Peixoto diz não ter dúvidas de que o traficante ainda não foi preso porque está sendo protegido por policiais corruptos. Ele disse que propôs a rendição por temer que Maluco seja assassinado por esses policiais. "Meu interesse não é capturar Elias Maluco, e sim que ele conte o nome dos policiais que estariam envolvidos com ele."
Em agosto, a Corregedoria recebeu a denúncia de que Elias Maluco teria sido preso em São Gonçalo (região metropolitana do Rio de Janeiro), mas teria pago R$ 600 mil para policiais do 7º Batalhão da Polícia Militar para ser solto.


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