São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2004

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CRIME NO VESTIBULAR

Esquema funcionaria há 10 anos; 200 estudantes de medicina e odontologia teriam sido beneficiados

PF investiga alunos envolvidos em fraude

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal começaram a investigar uma extensa rede de alunos de odontologia e medicina que teriam fraudado o vestibular de 24 instituições de ensino superior, públicas e particulares. Uma quadrilha presa em junho atuava há cerca de dez anos passando cola eletrônica com as respostas das provas ao custo de até R$ 60 mil.
Os investigadores querem, agora, identificar os alunos beneficiados com a fraude e, por meio de ações na Justiça, retirá-los das universidades. A maior dificuldade hoje, segundo o procurador da República Marco Vinícius Macedo, é descobrir aqueles que, formado, já estão trabalhando.
"Imagine a quantidade de médicos e dentistas atuando profissionalmente, quantos aprovados em concurso se valendo do diploma. Temos indícios de que a quadrilha vinha agindo desde 1981, pelo menos", disse Macedo.
Como não houve envolvimento das universidades, o procurador teme que seja impossível identificar quem usou o esquema das colas eletrônicas, caso a quadrilha não tenha registro dos clientes. Sem o registro, também seria impossível conseguir, na Justiça, o cancelamento dos concursos.
Policiais federais ouvidos pela Folha estimam que haja cerca de 200 alunos de medicina e odontologia que fraudaram o vestibular. A PF pedirá auxílio do Ministério da Educação e das instituições.
O procurador já conseguiu na Justiça afastar 28 alunos da Universidade Federal do Acre por terem supostamente fraudado o vestibular de medicina. Segundo ele, são apenas os primeiros.
"Vou para Vitória [ES] e depois para os outros Estados. O que mais temos aqui é papel apreendido que estamos examinando na medida de nossas possibilidades. Quando [Jorge Nascimento] Dutra foi preso, encontramos ainda mais arquivos. Vamos começar a análise desse material."
O suposto líder da quadrilha, Jorge Nascimento Dutra, foi preso na última quarta-feira em Goiânia (GO) e transferido ontem para Rio Branco (AC).
Anteontem, o procurador Macedo entrou com uma ação civil pública pedindo a saída da filha de Dutra da faculdade de medicina da UnB (Universidade de Brasília). O advogado de Dutra não foi localizado ontem pela Folha para comentar o caso.
Segundo o MPF, Dutra movimentou em alguns meses R$ 2 milhões. Também foram encontrados carros e imóveis em nome dele em Goiás. Outros membros da quadrilha também tiveram parte do patrimônio identificado, parte em nome de parentes.


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