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DANUZA LEÃO
A tal da maturidade
A gente nasce criança, vira
adolescente, depois adulto, e
é condenada à tal da maturidade,
queira ou não.
É uma obrigação, por assim dizer, e ser chamada de imatura depois dos 40 é praticamente uma
ofensa. Se dito por grandes amigos, pode até ter uma conotação
carinhosa: que para você o tempo
não passa, que continua a mesma
criança de 20 anos atrás. Um elogio, mas no qual vem embutida
uma censura do tipo "nela não se
pode confiar". Uma criança, sabe
como é: uma delícia para passar
umas horas, mas sempre uma
criança. Falando mais claro: um
ser imaturo é, basicamente, irresponsável. E quem confia num ser
irresponsável, seja para dar um
emprego, dar o antibiótico de
quatro em quatro horas ou entregar o coração?
E a gente se pergunta: afinal,
para que crescer, para que ser
adulto? Com a maturidade chegam as responsabilidades; você
passa a ser responsável por sua vida, por suas opções e, mais tarde,
pela vida dos filhos, tomando decisões das quais não tem nenhuma certeza, por obrigação. E,
quando esses filhos crescem e têm
seus próprios filhos, é possível que
você seja chamada, pelo menos
para dar uma opinião -afinal,
se foi difícil para você amadurecer, para eles também é. Para
quem apelar? Para você, é claro,
que tem -ou deveria ter- as
respostas certas para todas as perguntas.
Ah, os filhos; como eles sabem
pouco de nós. Não sabem que
nossos cabelos brancos não querem dizer nada e que temos tantas dúvidas quanto eles. Como saber se é melhor abrir mão de um
excelente trabalho em troca de
outro que privilegia a qualidade
de vida? Aliás, o que é qualidade
de vida?
Ter tempo para ouvir o canto
dos passarinhos, ouvir música
clássica e ler?
Uma mulher madura tem a
obrigação de tomar suas decisões,
e sozinha. Detalhe: decidir sozinha significa se responsabilizar
pelas conseqüências de seus atos,
e é sempre preciso fazer uma escolha: faz a reforma da cozinha ou
uma viagem? Troca o computador ou manda forrar o sofá da sala? Divide com os filhos, generosamente, uma grana que pintou, ou
pensa que eles têm muito mais vida pela frente do que você e dá
uma puxadinha na cara? E como
saber?
Ninguém imagina do quanto
ela precisa de alguém que -simbolicamente- segure sua mão
para atravessar a rua, como
quando era pequena; que segure
sua mão para atravessar a vida,
que é mais perigosa do que qualquer esquina na hora do rush. De
alguém que diga que, se continuar sem comer -com essa mania de magreza-, vai acabar
doente; de alguém que telefone e
diga para sua empregada para
cuidar de sua alimentação. Lembra de como você ficava com raiva quando isso acontecia? "Você
pensa que eu ainda sou criança,
para me controlar?" Pois é.
Também seria bom ter um outro alguém, um alguém que perguntasse se você lembrou de fazer
o Imposto de Renda, que se propõe a mandar o boy pagar aquela
conta no banco, e que dissesse,
com a maior segurança, que você
pode trocar o apartamento por
um mais caro; que se, na pior das
hipóteses, não conseguir vender o
antigo a tempo, ele adianta o dinheiro e você paga depois. Ah, e
que lembrasse de que é preciso
mandar registrar a escritura.
Porque só se amadurece quando não se tem com quem contar;
quando não se tem mais pai e
mãe.
É a maturidade que faz as pessoas ficarem velhas, mas você já
reparou que existem outras que
vão ficando cada vez mais jovens?
O que me faz pensar que, no
fundo, é apenas uma questão de
escolha.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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