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SEM DESTINO
Locais simbólicos de São Paulo, como o Hotel Hilton e o Cine Ipiranga, estão fechados à espera de novos projetos
Prédios históricos buscam nova identidade
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Hotel Hilton, símbolo do luxo
do centro da capital nos anos 70,
está fechado. O Cine Ipiranga
também. O Hotel Lord Palace,
idem. O Hospital Umberto Primo
ninguém nem se lembra mais
quando deixou de funcionar. Prédios que marcaram época aguardam um destino e, enquanto isso,
tentam vencer o abandono e evitar depredações. Todos eles fazem
parte da história paulistana.
Dependem, agora, de projetos e
de acordos. O Hilton quer continuar sendo hotel. O Lord Palace
está virando prédio comercial. O
Umberto Primo sonha em abrigar
consultórios ou uma faculdade ligada à área médica. Já o Cine Ipiranga está sem rumo e pode acabar se tornando bingo, como vários outros cinemas.
Primeiro hotel cinco estrelas do
Brasil, o Hilton deixou de funcionar no fim do ano passado.
Os proprietários do prédio onde
estava instalado não entraram em
acordo com a rede hoteleira, conta Marcos Ruiz, gerente de manutenção do edifício.
A parceria, que durava 33 anos,
foi quebrada. Agora, estão à procura de uma nova bandeira. "Não
vamos deixar de ser hotel", afirma
Ruiz. "Estamos negociando com
alguns grupos, mas ainda não há
nada certo."
Até que uma nova rede assuma
o edifício, os proprietários mantêm equipes de segurança, de limpeza e de administração trabalhando. Tudo para que o novo
parceiro já possa começar a operar assim que assinar o contrato.
A Folha teve acesso ao hotel na
última sexta-feira. Descontando a
ausência de hóspedes, pôde conferir que quase nada mudou. A
piscina continua cheia, a recepção
está toda equipada e a suíte presidencial permanece arrumada.
É como se os hóspedes pudessem voltar a qualquer momento.
Até o contrato de assinatura com
a TV à cabo prossegue.
O Hilton foi inaugurado em
1971 com um show de Roberto
Carlos. Hospedou presidentes, artistas, atletas. Mas nenhuma celebridade causou tanto alvoroço
quanto o grupo Menudos, nos
anos 80. A confusão foi tão grande
que o hotel precisou da polícia para conter os fãs. Logo depois, Michael Jackson, em turnê brasileira, queria ficar por lá. Traumatizada, a gerência do hotel recusou.
Ruiz torce para que esses dias de
corre-corre voltem logo. "Vira e
mexe chega algum hóspede, com
mala e tudo, que não sabe do fechamento. A gente tem de indicar
outro hotel. É uma pena."
Os administradores do Hospital
Umberto Primo, que fica ao lado
da avenida Paulista, também não
se sentem confortáveis em ver
seus prédios às moscas. Além de
os paulistanos deixarem de ter
um serviço médico de qualidade,
a cidade vem perdendo um importante representante da arquitetura italiana. Fechadas há 12
anos, as construções do complexo
estão se deteriorando.
Proprietária do imóvel desde
1996, a Previ (fundo de pensão do
Banco do Brasil) informa que ainda estuda o que fazer com o imóvel, já que a Associação de Amigos e Moradores em Defesa da
Qualidade de Vida da Bela Vista
conseguiu, em 99, uma liminar
que limita as obras no local.
Segundo a assessoria do fundo
de previdência, apenas projetos
na área da educação ou da saúde
serão aceitos. Ao ser eleito, o prefeito José Serra (PSDB) prometeu
reabrir o hospital, mas nenhuma
proposta foi encaminhada.
Se o Umberto Primo tenta manter sua função médica, o Hotel
Lord Palace, na região central desde 1958, não faz questão de continuar com sua função original.
William Bumaruf, atual proprietário do local (fechado em junho do ano passado) conta que
está alugando andares inteiros do
prédio para empresas. "Não deu
para continuar", afirma. "Além
de o movimento no centro ter diminuído por causa do abandono
da área, a concorrência com hotéis baratos era desleal."
Três dos 11 andares já estão ocupados. E o restaurante funciona
em sistema de quilo, servindo 300
refeições por dia.
Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP,
Nabil Bonduki acredita que edifícios antigos podem ter seu uso alterado desde que elementos estruturais, como as fachadas, sejam preservados.
"É importante manter esses
prédios porque eles exercem um
papel na paisagem da cidade", diz
Bonduki, ex-vereador pelo PT. "A
reciclagem do edifício é bem-vinda, basta ter bom senso para não
destruir a história."
A empresa Alvorada, que mantém o Cine Ipiranga, parece não
estar tão preocupada com a memória da cidade. Ao fechar as
portas do cinema, em fevereiro,
só divulgou um comunicado informando que as atividades seriam encerradas, sem revelar os
motivos. O cinema, em seus primeiros anos, foi considerado o
mais luxuoso da América do Sul.
Procurada pela reportagem
nesta semana, a empresa não respondeu aos e-mails. Por telefone,
uma pessoa que se identificou como Godói e se negou a dizer seu
cargo e nome completo, afirmou
apenas que a empresa está fazendo uma série de estudos.
Ao ser questionado sobre os
projetos analisados, disse que não
queria falar sobre o assunto e desligou o aparelho.
Na última quinta-feira, o local
estava fechado com portões verdes e repleto de tábuas de madeira
na entrada. O Ipiranga, inaugurado em 1943, era um dos últimos
cinemas do centro.
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