São Paulo, sexta, 18 de setembro de 1998

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Ação se desculpa com 'erro de cálculo'

da Reportagem Local

O dono da Ação Distribuidora, José Celso Machado de Castro, responsável pela distribuição de 15 mil caixas do remédio Androcur falso para vários hospitais do país, que pode ter acelerado a morte de pelo menos dez doentes de câncer de próstata, prestou depoimento ontem no 1º DP de Santo André, onde é investigada a comercialização do produto falsificado.
Castro, que deu entrevista coletiva antes do depoimento, afirmou que é inocente e que também é vítima da máfia que fabrica remédios falsos no país. "Assim como as vítimas e os hospitais a Ação também foi vítima", disse.
A acareação entre o dono da Ação e os outros acusados de vender o Androcur falso foi adiada para hoje.
Castro afirma que não vendeu mais Androcur falso do que comprou e que a diferença aconteceu por um erro de cálculo.
"Nas notas fiscais das licitações, as quantidades são expressas em comprimidos, mas na primeira avaliação tudo foi contabilizado como caixas, por isso essa soma (de 92 mil caixas, quando na verdade seriam 15 mil)", disse.
O delegado Guerdson Ferreira, que investiga o caso, disse não entender como Castro, há sete anos no mercado, não percebeu que vendia Androcur falso, já que comprava o produto a preços mais baratos que os do laboratório Schering do Brasil.
Castro afirma que, como distribuidor, não pode checar se o produto é ou não falsificado.

Enriquecimento
Ele disse também que os bens que possui são compatíveis com as atividades dele. "Não existe fortuna nenhuma", declarou, lembrando que parte dos seus lucros são revertidos em obras assistenciais e culturais em Minas Gerais.
Castro afirmou que não acredita que alguém queira prejudicar a Ação. "A Justiça cumpre a parte dela, que é investigar e chegar a conclusão correta, que vai mostrar que a Ação é vítima."
A polícia de Santo André investiga o caso desde janeiro, quando prendeu o comerciante autônomo de remédios Elcio Ferreira da Silva, que possuía notas em branco da distribuidora Minister, falida desde 96. Ele pagou um carro com caixas de Androcur falso.
Além de Silva e Castro estão presos com prisão temporária de 30 dias mais cinco comerciantes e donos de distribuidoras: Antonio Linares Lázaro, José Bueno Alves, Chafic Rassou Neto, Haroldo de Abreu e José Antonio de Oliveira. Eles dizem ter comprado o Androcur de Silva e o repassado à Ação.
O delegado Ferreira, que deve concluir o inquérito hoje vai pedir a prisão preventiva de alguns dos acusados, que assim ficariam detidos até o fim do processo judicial.
(MARCELO OLIVEIRA)


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