São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 2000

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BARBARA GANCIA

O bicho-papão somos nós

Se você já bateu os olhos na direção desta coluna outras vezes, não preciso perder tempo explicando que a Nike e eu não somos exatamente o que se pode chamar de um caso de amor à primeira vista.
De fato, nem a Nike vai com a minha cara nem eu morro de amores pela Nike. No meu caso, por conta dos mesmos dois ou três motivos pelos quais meio mundo também implica com ela. No caso da Nike, pelo motivo inverso proporcional, imagino.
Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Por mais que pairem sobre a Nike suspeitas de trabalho escravo lá na Tailândia ou de ingerência na seleção (fato este que, pelo que se sabe até agora, não é corroborado por nenhuma prova concreta), parece um exagero do tamanho de um bonde, quando não uma armação de baixo nível, chamar a CPI do Futebol, instaurada pela Câmara, de "CPI da Nike".
Os malandros jogam lá uma Nike no meio do caldeirão para ver se emplaca, e a horda de trouxas engole sem dar um pio.
É isso aí, moçada, está tudo dentro dos conformes! Desde que Itamar Franco fedia a cueiros, todos não estão cansados de saber que as multinacionais são o verdadeiro bicho-papão, o inimigo que só está aqui para sugar o sangue do ingênuo tapuia?
A Nike pode até comer criancinhas lá na Ásia, mas não lhe parece, caro leitor, bem mais provável que o buraco desse rebuliço seja mais embaixo -e pintado de verde-amarelo?
Quando é que a gente vai deixar de ser besta e aprender que não passa de um medo idiota, gerado por um sentimento de inferioridade, esse cacoete de achar que os estrangeiros só estão aqui para nos prejudicar? Não precisamos de ajuda externa para sabotarmos uns aos outros, lembra?
Não seria mais apropriado chamar a CPI que está sendo instalada na Câmara dos Deputados de "CPI de um dos membros da própria CPI, o deputado Eurico Miranda"? Eu sei que o título da CPI ficaria um tanto quanto longo para o gasto, mas você não acha que tem mais a ver?
Ou, então, que tal chamar a CPI de "CPI do Ricardo Teixeira, Eduardo José Farah, João Havelange e dos outros cartolas todos, inclusive de um dos membros dessa CPI, o Euricão"?
Todos esses personagens já não dançavam o "boogie-woogie" bem antes da chegada da Nike e do Wanderley Luxemburgo ao pedaço? Pois então... Por falar no Wandeco, será impressão minha ou ele está ficando a cara do senador Jader Barbalho?

QUALQUER NOTA

Sem "bulhufas"
Todo ano eu coloco a mesma nota, e todo ano alguém escreve para reclamar que não fica bem falar de frescura em um país onde se morre de fome. Mas, como a variedade é o tempero da vida, lá vou eu de novo: a estação de trufas brancas do Piemonte dura pouco e, para deleite de quem tem tutu, o Fasano está abastecido com uma batelada delas. Se você gosta de comer bem, cometa esta loucura. É inesquecível.

Esmero
Por falar em comer, a Brasserie do Nando, em Pinheiros, tem a melhor relação custo-benefício da cidade. E é uma belezuca.


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