São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 2000

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VIOLÊNCIA
Estudante obtém direito de ficar no país após alegar ter sido espancado por policiais do DF devido à sua orientação sexual
EUA dão asilo a brasileiro por discriminação

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Um estudante brasileiro conseguiu asilo político nos Estados Unidos alegando ter sofrido discriminação sexual no Brasil. O escritório do Serviço Nacional de Imigração (INS) em Miami (Flórida) concedeu no último dia 6 o direito de o brasiliense Adriano G., que não revela o sobrenome, ficar indefinidamente no país.
Adriano, 23, recebeu o asilo em tempo recorde, depois de provar às autoridades norte-americanas que teria sido vítima de violência policial causada por sua orientação sexual. Atualmente desempregado, o ex-estudante de Direito da Universidade de Brasília chegou à Flórida em 29 de maio com visto de turista.
Segundo declarou, ele havia sido humilhado e espancado por policiais no parque Sara Kubitschek, no Distrito Federal, em setembro do ano passado, enquanto conversava à noite no carro com um amigo, no estacionamento. Adriano disse que desde então estava sendo perseguido.
"Eram dois soldados da PM e dois da polícia civil, que acharam que nós éramos gays e nos tiraram do carro", disse o ex-estudante à Folha. "As pessoas tendem a achar que as coisas são melhores em Brasília, por ser a capital do país, mas o preconceito está em todos os lugares."
As assessorias de imprensa dos consulados brasileiros na Flórida e em Nova York disseram desconhecer o caso do brasileiro.
Desde o incidente, segundo ele, apresentou queixa contra os policiais ao Ministério Público no Distrito Federal e à Corregedoria da Polícia. Foi quando teria começado a sofrer ameaças. "Pedi proteção à Promotoria Pública, mas sem sucesso", disse. Adriano resolveu, então, deixar o país.
Uma vez em Miami, para chegar até o INS, o ex-estudante contou com os serviços legais da entidade religiosa Catholic Charity, que pagou advogado, e o apoio da ONG Human Rights Foundation, que emprestou sala, telefone e computador para que ele juntasse as provas de seu caso.
Seus pais, um empresário e uma professora que moram em Brasília, não sabem do ocorrido e pensam que o filho está em viagem de férias. "Nem sei ainda como vou contar tudo isso a eles", disse.
"Não penso em viver aqui", afirmou. "Só queria legalizar minha situação, por isso pedi o asilo político, mas volto para o Brasil assim que as coisas acalmarem." O ex-estudante não quer mais morar na capital federal. "Brasília, nunca mais", disse. "Devo ir para alguma cidade do Sul."
A promotora Yara Velozo Teixeira, do Ministério Público do Distrito Federal, disse que não se lembra do caso de Adriano G..
"Não há registro disso no Núcleo de Investigação Criminal. Tenho uma memória de elefante e certamente me lembraria dessa ocorrência porque é "sui generis"."
Entre maio de 1999 e junho deste ano, Yara era uma das duas promotoras responsáveis pelo Núcleo de Investigação Criminal e Controle Externo da Atividade Policial. O núcleo apura casos de abuso de autoridade cometidos pelas Polícias Militar e Civil.
Em abril deste ano, outro brasileiro, o bancário Joaquim de Abreu, 43, conseguiu asilo político nos EUA por ter se sentido discriminado sexualmente no Brasil.



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