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SAÚDE
Têm sido atendidos diariamente em Feijó de 30 a 50 pacientes com sintomas de contaminação, como diarréia e febre
Rotavírus já matou 15 crianças no Acre
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
Pelo menos 15 crianças já morreram neste mês, em Feijó (AC),
contaminadas pelo rotavírus
-um dos principais causadores
de diarréia viral e gastroenterite
(inflamação simultânea do estômago e dos intestinos) e que atinge na maioria das vezes crianças
menores de cinco anos.
O Hospital Municipal de Feijó, o
único da cidade, tem atendido
diariamente de 30 a 50 crianças
que apresentam algum dos sintomas desse vírus -como diarréia,
vômito, febre alta, náusea e cólica.
Das cerca de 1.500 crianças que
foram examinadas no hospital
desde o início de setembro devido
ao rotavírus, ao menos 60 delas
-em estado grave de desidratação- tiveram de permanecer internadas por alguns dias.
O rotavírus se alastra pelo ar e
pela água e só pode ser combatido
por meio de hidratação. As crianças morrem porque perdem muita água em pouco tempo. O leite
materno e o soro caseiro seriam
suficientes para protegê-las da desidratação causada pelo vírus.
Jackson Vaz, um dos dois únicos médicos da cidade credenciados pela Secretaria Estadual da
Saúde, afirma que a maioria das
crianças que morreram desidratadas tinha menos de um ano.
"Aqui em Feijó, as mães não
têm o hábito de amamentar seus
filhos. É um problema cultural
que acaba aumentando a epidemia. Por isso, após serem contaminadas, as crianças acabam
morrendo desidratadas."
Na opinião de Vaz, que está no
Acre há apenas dois meses, a dificuldade para a contenção da epidemia se resume ao fato de cerca
de 95% dos 23 mil habitantes da
cidade não receberem água tratada em suas residências.
"As crianças vivem diariamente
em contato com as águas contaminadas, principalmente na zona
rural, onde vive pelo menos 70%
da população do município e o
transporte é feito quase que sempre por meio de barcos."
Aglomerações
Para o diretor do departamento
de ações básicas de saúde da Secretaria Estadual da Saúde, Amsterdã Sandres, os períodos em
que o centro da cidade recebe
mais pessoas do que o normal, como em dias de eleições, podem
agravar o alastramento do vírus.
"Os moradores da zona rural
vêm votar na cidade, ficam um ou
dois dias aglomerados em locais
de pouca higiene e depois voltam
contaminados aos seus vilarejos."
De acordo com Sandres, muitas
crianças morrem devido à falta de
orientação de seus pais, que na
maioria da vezes preferem levar o
filho contaminado a uma rezadeira e não ao médico.
"As crianças contaminadas pelo
vírus passam dias e dias com curandeiros e benzedeiros. Quando
os pais percebem que o caminho
correto é a medicina, já é tarde demais. Elas (as crianças) chegam
ao hospital no último estágio da
desidratação e com pouquíssimas
chances de cura."
Na opinião de Sandres, por opção das famílias, a maioria das
crianças mortas nem chegou a ser
diagnosticada.
"A cidade enfrenta um problema cultural muito sério, que mesmo com maiores investimentos
nas áreas básicas de saúde não seria resolvido a curto ou médio
prazo. Deve-se investir em tudo,
mas principalmente na educação."
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