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Após 100 horas de cárcere privado, reféns são baleadas
Polícia diz que invadiu apartamento após ouvir um tiro disparado pelo ex-namorado
Estado de saúde da garota Eloá, 15, é gravíssimo; amiga dela Nayara também foi atingida com um tiro
na boca, mas passa bem
DA REPORTAGEM LOCAL
Terminou no final da tarde
de ontem, após mais de cem horas e de modo trágico, o mais
longo caso de cárcere privado
do Estado de São Paulo.
Por volta das 18 horas, Eloá
Cristina Pimentel, 15, que desde segunda-feira era feita refém pelo ex-namorado, Lindemberg Fernandes Alves, 22,
levou dois tiros -um na cabeça
e outro na virilha. A amiga dela
também foi baleada.
A polícia invadiu o apartamento onde os três estavam,
em Santo André (ABC). Policiais afirmam que só tomaram
essa decisão depois de ouvir um
disparo.
De "zero a dez", nas palavras
de Rosa Maria de Aguiar, diretora do Centro Médico Hospitalar de Santo André, a gravidade do estado de saúde de Eloá é
"nove". Ela perdeu massa encefálica, estava em coma induzido
e corre risco de morte.
O secretário da Segurança
Pública, Ronaldo Marzagão,
chegou a informar o governador José Serra (PSDB) que Eloá
estava morta -o que foi divulgado pelo Palácio dos Bandeirantes e depois desmentido. O
governo se desculpou pelo erro.
A outra vítima, Nayara Rodrigues da Silva, 15, levou um tiro na boca, mas não corre risco
de morte. Amiga de Eloá, Nayara chegou a ser libertada por Alves, mas voltou ao apartamento
por orientação da polícia para
tentar "ajudar" na negociação.
A polícia justificou que essa
era uma exigência do ex-namorado, que havia se comprometido a soltar as duas em seguida.
O coronel Eduardo Félix, o
mesmo que autorizou a volta de
Nayara ao apartamento, disse
que a polícia entrou no imóvel
ao ouvir um tiro.
A invasão ocorreu às 18h08,
quando se ouviu um forte estrondo seguido por um clarão
-os policiais do Gate (Grupo
de Ações Táticas Especiais) bateram ao menos seis vezes na
porta com um equipamento especial até conseguir derrubá-la.
Eles estavam posicionados
num apartamento vizinho. O
promotor Augusto Rossini, que
acompanhou o caso, disse que a
polícia usou armas não-letais.
Alves levou um tiro de bala
de borracha. Na saída do imóvel, cercado por policiais, recebeu tapas e socos. Os policiais
disseram que encontraram no
imóvel um revólver calibre 32
com cinco tiros disparados.
Nayara foi a primeira a deixar o prédio, andando. Eloá
saiu carregada e inconsciente.
Familiares dela foram levados
chorando para o hospital.
À noite, na porta do prédio de
Eloá, moradores com facas
ameaçavam agredir jornalistas.
O fio de um equipamento de
uma emissora de TV foi cortado. A polícia voltou ao local.
O advogado de Alves, Eduardo Lopes, disse que desistiu de
representá-lo.
Pela manhã, questionado sobre o fato de Nayara ter sido devolvida ao criminoso, José Serra disse confiar na atuação da
polícia. "Tenho certeza que ela
vai obter o melhor resultado."
(KLEBER TOMAZ, ROGÉRIO PAGNAN, CÁTIA SEABRA e BRUNA SANIELE)
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