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PM diz que só invadiu casa após ouvir tiro
Coronel que chefiou operação de resgate de reféns afirma que apartamento não foi invadido antes por causa do risco
Promotor que acompanhou negociação e a ação da polícia afirma que equipe que prendeu Alves não utilizou armas letais
Rivaldo Gomes/Folha Imagem
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Lindemberg Alves é retirado por policiais do apartamento onde mantinha amiga e ex-namorada reféns
DA REPORTAGEM LOCAL
A polícia só invadiu o apartamento em Santo André depois
que uma equipe do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais),
que estava ao lado, ouviu um tiro, afirmou o coronel Eduardo
José Félix, comandante do Batalhão de Choque da Polícia
Militar de São Paulo, oficial que
estava à frente da operação.
"Não justificaria entrar antes,
justamente pelo risco", disse.
O coronel concedeu uma entrevista por volta das 19h ao lado do promotor de Justiça Augusto Rossini, que estava
acompanhando, segundo ele, "a
lisura das negociações".
A decisão de entrar no apartamento, segundo o coronel, foi
tomada pela própria equipe do
Gate, mas, de acordo com essa
versão, já havia sinais de que
Lindemberg Fernandes Alves
não pretendia se entregar, o
que deixou a PM de prontidão.
"Não teve ordem. Só que a equipe que estava na lateral ouviu o
tiro e entrou", disse.
De acordo com o coronel, a
situação estava chegando a um
impasse. "Desde o começo da
semana vínhamos tentando
negociar, mas ele ficou irredutível. Ficamos mais de duas horas embaixo do prédio esperando uma posição dele, até que
começou a dizer que não iria
se entregar, que estava pensando", afirmou o coronel.
A situação foi ficando mais
tensa, de acordo com o oficial
da PM, depois que Alves pediu
que sua irmã, que também esperava o desfecho do caso, fosse
embora do local.
"Poderíamos ter agido antes,
mas deixado ele [Alves] escolher. Parecia que ele estava decidido a fazer alguma coisa",
declarou. Na avaliação da equipe do Gate mais próxima do
apartamento, disse Félix, ele
"não iria se entregar".
Indagado pelos jornalistas se
havia ocorrido alguma falha na
ação do Gate, o coronel respondeu: "O que deu errado foi justamente o tiro que ele deu na
menina [Eloá Pimentel]".
De manhã, outro disparo foi
ouvido, de acordo com Félix, e a
equipe de negociadores telefonou para Alves. "Ele disse que
estava tudo bem e pedimos para falar com a Nayara [Rodrigues da Silva]. Ele deixou, e ela
confirmou", disse.
Segundo o promotor Rossini,
os policiais envolvidos na operação não portavam armas letais. "Sou testemunha de que
houve tentativas, ficamos mais
de duas horas esperando. Fizemos todos os esforços".
O Gate usou explosivo plástico para estourar a porta do
apartamento e, segundo Félix,
Nayara estava deitada no chão.
Os policiais usaram balas de
borracha para imobilizar Alves,
que caiu.
O coronel Félix disse que não
havia sido autorizada a entrada
de Nayara no apartamento, o
que foi criticado até mesmo por
Rick Hughes, negociador da
Swat (elite da polícia dos EUA
para casos com reféns).
"Ela entrou no apartamento
de livre e espontânea vontade.
Não pedimos para entrar", declarou o coronel Félix.
Dupla personalidade
Segundo o coronel Félix, era
impossível prever que fosse esse o desfecho da operação. "Ele
variava muito. Às vezes dava
uma de coitadinho, de pessoa
sofrida, em outra hora era
agressivo, em outra era compreensivo. É difícil negociar
com uma pessoa que quer se
matar e matar a parceira."
A avaliação feita por Félix sobre o criminoso também mudou entre quinta-feira e ontem.
O oficial, indagado anteontem
pela Folha, dizia que Alves
aparentava não estar mais disposto a matar a ex-namorada
nem cometer suicídio.
Segundo Félix, Alves estava
mais calmo na quinta. "Ele não
quer mais se matar ou matar a
vítima. Ele quer mais aparecer
e ficar famoso", afirmava.
Ontem, segundo o coronel, a
disposição de Alves havia se alterado. "O que levou [o Gate a
planejar a invasão] foi o comportamento dele, que estava
muito agressivo."
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO)
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