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PM quer punir elite da Polícia Civil que se uniu a grevistas
Comandante exige punição daqueles que deixaram barreiras para engrossar protesto
Governo registrou em vídeo e fotos a manifestação que acabou em confronto entre as duas polícias e se dedica a identificar os mais inflamados
DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA
Um dia depois do embate, o
comandante da Polícia Militar,
Roberto Diniz, exigiu ontem a
punição de integrantes da elite
da Polícia Civil civis que, recrutados para garantir a segurança
do Palácio dos Bandeirantes,
acabaram engrossando o confronto contra PMs na tarde de
quinta-feira.
O governo de São Paulo registrou em vídeo e fotos a participação dos grevistas na manifestação que acabou em confronto entre as polícias Civil e
Militar no Morumbi (zona oeste). Agora, se dedica à identificação dos mais inflamados.
Pelo menos dois deverão ser
punidos: o autor de um tiro que
atingiu um coronel da PM e o
grevista que deu um tapa no
rosto de um tenente.
Há controvérsia, porém, sobre o momento da punição. O
governo Serra também não definiu o que acontecerá com os
integrantes de dois grupamentos especiais da Polícia Civil
que escoltavam os manifestantes e aderiram ao protesto.
Segundo grevistas, eles entraram para o confronto depois
que PMs lançaram bombas de
gás lacrimogênio e atiraram.
Apontada como uma traição,
a adesão desses policiais civis à
manifestação azedou a relação
entre as duas polícias. A Folha
apurou que Diniz defende a punição imediata daqueles que
agrediram os PMs. Do contrário, ficarão desmoralizados.
Escalado para a negociação,
o chefe da Casa Civil, Aloysio
Nunes Ferreira, propõe que só
mais tarde se discuta a oportunidade das sanções. Agora, seria o momento de conciliação.
Punidos no termos da lei
Já o vice-governador Alberto
Goldman sugere que "sejam
punidos nos termos da lei".
"Ninguém reivindica reajuste
salarial armado. Eles tentaram
sitiar o governo."
As imagens foram captadas
pelos serviços secretos das polícias Militar e Civil que se infiltraram entre os manifestantes.
Cópias de reportagens de
TVs também serão usadas. Carros danificados e munições serão periciados.
Enquanto isso, o governo
procura arregimentar novos
interlocutores para as negociações. Deputados estaduais, como Fernando Capez (PSDB),
foram recrutados. Cinco integrantes do Conselho da Polícia
Civil procuraram o sindicato
dos investigadores para conversar informalmente.
Nunes Ferreira se reuniu
com integrantes da polícia para
avaliar o movimento. A preocupação é uma nova manifestação
na quarta-feira, na Assembléia.
Os comandos das polícias ficaram encarregados de dimensionar a mobilização para o novo protesto e, para isso, vão infiltrar policiais entre os grevistas mais uma vez. Ontem, o governo calculou em 1.200 os manifestantes de quinta-feira.
"Quem está colocando gasolina no movimento não gosta
dos policiais civis. Eles deveriam ao menos analisar a proposta do governo. Temos que
colocar água na fervura", recomenda Capez, reproduzindo o
secretário de Gestão, Sidney
Beraldo. "Agora, o momento é
de avaliação dos reflexos do
movimento na corporação e na
opinião pública", disse Beraldo.
Retaliação
Na quinta, após o conflito,
Serra reuniu secretários e ordenou que fossem contestadas
as informações do movimento,
como a de que não têm reajuste
desde 1995. "Temos que fazer
uma guerra de informação."
Ao mesmo tempo em que o
governo identifica manifestantes, os grevistas também se dedicam a identificar os PMs que
os agrediram para retaliações.
Os grevistas falam em agressões e isso preocupa o governo.
Em solidariedade aos grevistas, policiais do Deic (Departamento de Investigações sobre o
Crime Organizado) combinaram não registrar casos que
costumam ser apresentados
por PMs ao órgão.
Segundo o presidente da Adpesp (Associação dos Delegados de São Paulo), Sérgio Marcos Roque, "a Polícia Civil e a
PM sempre foram como óleo e
água, agora essa situação se
agravou e tende a ficar pior".
No interior do Estado, policiais civis protestaram. Em
Dracena (634 km de SP), um
policial civil que pediu anonimato disse que a Polícia Civil
na cidade "evitava" contato
com a PM.
Em Bauru (343 km de SP), as
delegacias funcionaram com
portas fechadas como forma de
protesto. Os agentes dizem estar "em luto" após o confronto.
Ontem, cerca de 200 policiais civis fizeram um ato em
Jales (585 km de SP). Segundo
o delegado Charles de Oliveira,
foi uma recepção para o grupo
da região que foi à capital e se
envolveu no confronto.
(CATIA SEABRA, ANDRÉ CARAMANTE, TALITA BEDINELLI e LUIS KAWAGUTI)
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