São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PM quer punir elite da Polícia Civil que se uniu a grevistas

Comandante exige punição daqueles que deixaram barreiras para engrossar protesto

Governo registrou em vídeo e fotos a manifestação que acabou em confronto entre as duas polícias e se dedica a identificar os mais inflamados


DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA

Um dia depois do embate, o comandante da Polícia Militar, Roberto Diniz, exigiu ontem a punição de integrantes da elite da Polícia Civil civis que, recrutados para garantir a segurança do Palácio dos Bandeirantes, acabaram engrossando o confronto contra PMs na tarde de quinta-feira.
O governo de São Paulo registrou em vídeo e fotos a participação dos grevistas na manifestação que acabou em confronto entre as polícias Civil e Militar no Morumbi (zona oeste). Agora, se dedica à identificação dos mais inflamados.
Pelo menos dois deverão ser punidos: o autor de um tiro que atingiu um coronel da PM e o grevista que deu um tapa no rosto de um tenente.
Há controvérsia, porém, sobre o momento da punição. O governo Serra também não definiu o que acontecerá com os integrantes de dois grupamentos especiais da Polícia Civil que escoltavam os manifestantes e aderiram ao protesto.
Segundo grevistas, eles entraram para o confronto depois que PMs lançaram bombas de gás lacrimogênio e atiraram.
Apontada como uma traição, a adesão desses policiais civis à manifestação azedou a relação entre as duas polícias. A Folha apurou que Diniz defende a punição imediata daqueles que agrediram os PMs. Do contrário, ficarão desmoralizados.
Escalado para a negociação, o chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, propõe que só mais tarde se discuta a oportunidade das sanções. Agora, seria o momento de conciliação.

Punidos no termos da lei
Já o vice-governador Alberto Goldman sugere que "sejam punidos nos termos da lei". "Ninguém reivindica reajuste salarial armado. Eles tentaram sitiar o governo."
As imagens foram captadas pelos serviços secretos das polícias Militar e Civil que se infiltraram entre os manifestantes.
Cópias de reportagens de TVs também serão usadas. Carros danificados e munições serão periciados.
Enquanto isso, o governo procura arregimentar novos interlocutores para as negociações. Deputados estaduais, como Fernando Capez (PSDB), foram recrutados. Cinco integrantes do Conselho da Polícia Civil procuraram o sindicato dos investigadores para conversar informalmente.
Nunes Ferreira se reuniu com integrantes da polícia para avaliar o movimento. A preocupação é uma nova manifestação na quarta-feira, na Assembléia.
Os comandos das polícias ficaram encarregados de dimensionar a mobilização para o novo protesto e, para isso, vão infiltrar policiais entre os grevistas mais uma vez. Ontem, o governo calculou em 1.200 os manifestantes de quinta-feira.
"Quem está colocando gasolina no movimento não gosta dos policiais civis. Eles deveriam ao menos analisar a proposta do governo. Temos que colocar água na fervura", recomenda Capez, reproduzindo o secretário de Gestão, Sidney Beraldo. "Agora, o momento é de avaliação dos reflexos do movimento na corporação e na opinião pública", disse Beraldo.

Retaliação
Na quinta, após o conflito, Serra reuniu secretários e ordenou que fossem contestadas as informações do movimento, como a de que não têm reajuste desde 1995. "Temos que fazer uma guerra de informação."
Ao mesmo tempo em que o governo identifica manifestantes, os grevistas também se dedicam a identificar os PMs que os agrediram para retaliações. Os grevistas falam em agressões e isso preocupa o governo.
Em solidariedade aos grevistas, policiais do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) combinaram não registrar casos que costumam ser apresentados por PMs ao órgão.
Segundo o presidente da Adpesp (Associação dos Delegados de São Paulo), Sérgio Marcos Roque, "a Polícia Civil e a PM sempre foram como óleo e água, agora essa situação se agravou e tende a ficar pior".
No interior do Estado, policiais civis protestaram. Em Dracena (634 km de SP), um policial civil que pediu anonimato disse que a Polícia Civil na cidade "evitava" contato com a PM.
Em Bauru (343 km de SP), as delegacias funcionaram com portas fechadas como forma de protesto. Os agentes dizem estar "em luto" após o confronto.
Ontem, cerca de 200 policiais civis fizeram um ato em Jales (585 km de SP). Segundo o delegado Charles de Oliveira, foi uma recepção para o grupo da região que foi à capital e se envolveu no confronto.
(CATIA SEABRA, ANDRÉ CARAMANTE, TALITA BEDINELLI e LUIS KAWAGUTI)


Texto Anterior: Maria Isabel Baltar da Rocha (1946-2008): A luta de Bel pelos direitos feministas
Próximo Texto: Quatro feridos no conflito ainda estão internados
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.