|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Os dois lados erraram, dizem analistas
Governo paulista erra ao não negociar e grevistas ao realizarem manifestações com confronto, armas e tiros, segundo especialistas
Para professor, governador não tem plano B; policiais desqualificam suas reivindicações ao usarem armas, afirma antropóloga
MARIO CESAR CARVALHO
LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo de José Serra
(PSDB) comete erros por mais
tempo ao não negociar com
grevistas, mas o equívoco dos
policiais civis ao trocarem tiros
anteontem nas imediações do
Palácio dos Bandeirantes foi
mais exuberante. A avaliação é
do sociólogo Claudio Beato,
professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)
e um dos maiores especialistas
em polícia no Brasil. Outros
analistas concordam que as
duas partes cometem erros.
"As imagens do conflito entre policiais vão ficar marcadas
para sempre. Os policiais conseguiram tirar das manchetes a
maior crise econômica desde
1929. Policial não pode fazer
greve e sair nas ruas com armas. É um erro primário do
ponto de vista político", diz.
Serra, segundo Beato, também erra em três frentes: ao
não negociar com os grevistas;
ao prestigiar a Polícia Militar e
aumentar a rivalidade com a
Polícia Civil; e por não ter planejado reajustes nos salários
dos policiais. "Houve muito investimento em equipamento e
pouco em pessoal."
Outra falha, para ele, foi não
ter um plano B que conseguisse
evitar que a população fosse
afetada. Beato diz que o governador de Minas, Aécio Neves,
foi mais hábil, em 2003, ao enfrentar uma greve das duas polícias: pôs o Exército nas ruas e
esvaziou o movimento.
A antropóloga Paula Miraglia, do Ilanud, órgão das Nações Unidas que trata da violência, endossa a posição: "O
maior erro dos policiais é fazer
passeata com arma. A greve é
legítima, a passeata é legítima,
mas eles desqualificam suas
reivindicações ao usar arma".
Os grevistas dizem que a
maioria deles não estava armada nem fez disparos.
Erros do governo
José Afonso da Silva, professor aposentado da Faculdade
de Direito da USP e secretário
de Segurança de 1995 a 1999, na
gestão Mário Covas (PSDB), diz
que só o desenrolar do movimento mostrará qual dos dois
lados errou mais. "A greve é defensável, mas talvez os grevistas estejam inflexíveis demais.
O governo também erra ao não
negociar. Se tivesse dialogado
no começo, a greve não teria
chegado ao estágio de conflito."
Afonso da Silva classifica como "erro grave" o plano dos
grevistas de tentar atingir a sede do governo. "Atacar o Palácio é como derrubar uma autoridade. Não é legítimo."
O cientista político Leôncio
Martins Rodrigues, pesquisador da história do sindicalismo,
diz que a disputa eleitoral teve
"papel importante" no confronto. O governo acusa a CUT
e a Força Sindical de terem incitado os grevistas. "Fica estranho esse súbito amor dos sindicalistas pelo sindicalismo policial, porque os policiais sempre
foram vistos como adversários
dos sindicalistas. Isso pode ter
uma conotação eleitoral."
Não dá para dizer se os sindicalistas erraram, diz, porque a
questão depende de como a opinião pública absorverá o conflito. "Não dá para saber se isso será benéfico para Marta [Suplicy,
candidata do PT à prefeitura].
Vai depender da capacidade do
Serra de justificar o confronto."
O desembargador Henrique
Calandra, do Tribunal de Justiça e presidente Associação
Paulista de Magistrados, diz
que faltou empenho do governo para resolver a questão no
Supremo Tribunal Federal.
O governo praticamente
abandonou a negociação no
Tribunal Regional do Trabalho
ao pleitear que o fórum adequado para o conflito era a Justiça comum, e não a trabalhista.
Como não há lei sobre greve para funcionários públicos, a
questão será decidida pelo ministro Eros Grau, do STF. Para
Calandra, a Procuradoria paulista deveria pedir ao ministro
uma resolução rápida. "O que
não pode é ficar com o processo
parado, olhando para a crise
que se agrava a cada dia."
Ariel de Castro Alves, do
Condepe (Conselho Estadual
de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), diz que o governo foi intransigente ao não
aceitar que o órgão e a OAB intermediassem a negociação.
Houve, para ele, um erro de
avaliação do governo: o de que a
greve perderia força e acabaria.
Texto Anterior: Saiba mais: Policiais de elite se unem a grevistas Próximo Texto: Serra acusa Paulinho de ser responsável pelo conflito entre PMs e policiais civis Índice
|