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Greve faz Justiça soltar acusadas de tortura
Mulheres estavam presas em penitenciária de Ribeirão Preto sob acusação de maus-tratos a idoso; câmeras flagraram agressões
Acusadas não foram a audiência por falta de escolta da Polícia Civil de Ribeirão; TJ alegou excesso de prazo para soltá-las
ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO
O Tribunal de Justiça de São
Paulo decidiu pôr em liberdade
anteontem as acusadas de tortura Patrícia Santos Alves, 25, e
Rosângela de Nazaré Coutinho,
45, que estavam na Penitenciária Feminina de Ribeirão Preto
(313 km de São Paulo).
A decisão dos desembargadores foi baseada no conceito
de excesso de prazo.
As duas não compareceram a
uma audiência marcada para o
dia 29 de setembro, em Bilac,
cidade da região de Araçatuba
(527 km de São Paulo) onde
aconteceu o crime. O motivo foi
a falta de escolta da Polícia Civil
de Ribeirão Preto. A justificativa, segundo a Justiça de Bilac,
foi a greve dos policiais civis,
que já dura mais de um mês.
O TJ acatou o pedido de habeas corpus feito pela defesa,
que alegou que o período de
instrução do processo ultrapassou em muito a recomendação
legal de 81 dias.
As duas mulheres tiveram a
prisão temporária decretada
no dia 10 de março, e a preventiva, no dia 30 de abril.
Atraso
"O processo atrasou como
um todo, e a falta na audiência
foi o último ato. A defesa delas
alegava falta de segurança, e,
por isso, elas passaram por três
presídios diferentes nesse tempo", afirmou o juiz da comarca
de Bilac, João Alexandre Batagelo, que não quis opinar sobre
a decisão do TJ.
Segundo o promotor do caso,
Álvaro Roberto Teixeira, as
duas agora podem atrapalhar
ainda mais o processo caso decidam não comparecer à nova
audiência, marcada para o dia
30 de outubro.
Nessa data, a Promotoria espera pela condenação das acusadas. Pelo crime de tortura,
elas podem pegar de dois a oito
anos de prisão.
"No que dependeu da Justiça
da comarca de Bilac, elas permaneceram presas. Agora, temos que respeitar a decisão da
instância superior", disse.
Por meio da assessoria de imprensa da Secretaria de Estado
da Segurança Pública, a Delegacia Seccional de Ribeirão Preto
informou que a escolta de presos de penitenciárias é responsabilidade da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária. O apoio à operação,
segundo eles, teria de ser garantido pela Polícia Militar.
O Sindipol (Sindicato dos Policiais Civis do Estado de São
Paul) informou que, durante a
greve, escoltas não seriam prioridade. A decisão ficaria a cargo
dos delegados.
O crime
Patrícia e Rosângela foram
presas depois que câmeras escondidas as flagraram agredindo o aposentado Ovídio Martinelli, 93, de quem cuidavam -ele sofre do mal de Alzheimer. Nas imagens, gravadas pela família, elas empurram o idoso contra um sofá e o agridem
com tapas e socos.
Familiares
O crime aconteceu em março
deste ano. Os filhos do aposentado desconfiaram delas depois
que o pai passou a apresentar
hematomas pelo corpo constantemente.
A notícia da soltura das acusadas decepcionou familiares
do aposentado, que aguardavam uma condenação em razão
do vídeo, que consideram uma
prova consistente.
"Que lei é essa? É uma situação que constrange a todos os
brasileiros. Se elas não podiam
ter ido ao fórum sem escolta,
como podem estar soltas? É um
contra-senso grande da nossa
Justiça", questionou Florival
Martinelli, 65, filho da vítima.
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