São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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Defesa de pilotos americanos vê discriminação

COLUNISTA DA FOLHA

O advogado Theo Dias, que representa os pilotos do Legacy, os americanos Joe Lepore e Jan Paladino, classificou de "absolutamente injusto e discriminatório" o fato de a comissão de investigação do acidente com o Boeing não ter tomado o depoimento dos controladores de vôo, enquanto seus clientes já depuseram três vezes.
Mais diplomático, o advogado americano dos pilotos, Robert Torricella, se disse "preocupado". Ele diz não entender por que os controladores estão tendo tanto tempo para se preparar. Ele lembra que os pilotos já deram três depoimentos- um na base da serra do Cachimbo e outros à Justiça estadual e à federal e aguardam convocação da PF. O depoimento dos controladores está marcado para a próxima semana.
Dias e Torricella frisam que o relatório preliminar confirma que o jato ficou em 37 mil pés em todo o trajeto, o que "afasta hipóteses absurdas e falsas que chegaram a ser levantadas, de que estariam fazendo manobras com o avião", diz Dias.
Apesar de o relatório ter ignorado e de Rufino ter se negado a comentar os motivos para o Legacy estar em 37 mil pés na aerovia UZ6, que exige altitudes pares no sentido Brasília-Manaus, ontem os advogados insistiram que os pilotos seguiam a autorização de São José dos Campos, de onde saíram.
Outra coisa que o relatório "prova", para os advogados, é que não houve desligamento intencional do transponder.
"Quem tentou umas 20 vezes, desesperadamente, estabelecer comunicação não iria desligar o transponder. Desligar o transponder é coisa de traficante de droga", disse Dias.
Ele disse que o transponder funcionou ao menos dez minutos depois de Brasília e, em nenhum instante, os controladores do Cindacta-1 estranharam a altitude de 37 mil pés e tentaram instruir os pilotos para mudá-la. Dez minutos, em aviação, é um bom tempo.
Anteontem, Rufino chegou a admitir hipótese de que os pilotos não teriam visto que o transponder estava inoperante porque o sol atrapalhou.
Dias diz que, pelas informações disponíveis, não é possível saber por que o aparelho estava desligado: "E, enquanto não ficarem claras as falhas materiais, operacionais e de comunicação, não se pode aventar eventuais falhas humanas".
A premissa vale para controladores, diz ele: "Não vou cair no mesmo erro que andaram cometendo com os pilotos, o de apontar culpas e responsabilidades prematuramente, sem dados concretos para isso".
Uma questão crucial no relatório, disse Dias, é que não há dados sobre o Boeing da Gol.
Ontem, a Justiça Federal negou pedido de liminar que permitiria a liberação dos passaportes dos pilotos. A decisão final sobre o habeas corpus não tem data. O resultado do inquérito levará no mínimo dez meses, lembram os advogados. (ELIANE CANTANHÊDE)


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