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Defesa de pilotos americanos vê discriminação
COLUNISTA DA FOLHA
O advogado Theo Dias, que
representa os pilotos do Legacy, os americanos Joe Lepore
e Jan Paladino, classificou de
"absolutamente injusto e discriminatório" o fato de a comissão de investigação do acidente
com o Boeing não ter tomado o
depoimento dos controladores
de vôo, enquanto seus clientes
já depuseram três vezes.
Mais diplomático, o advogado americano dos pilotos, Robert Torricella, se disse "preocupado". Ele diz não entender
por que os controladores estão
tendo tanto tempo para se preparar. Ele lembra que os pilotos
já deram três depoimentos-
um na base da serra do Cachimbo e outros à Justiça estadual e
à federal e aguardam convocação da PF. O depoimento dos
controladores está marcado
para a próxima semana.
Dias e Torricella frisam que o
relatório preliminar confirma
que o jato ficou em 37 mil pés
em todo o trajeto, o que "afasta
hipóteses absurdas e falsas que
chegaram a ser levantadas, de
que estariam fazendo manobras com o avião", diz Dias.
Apesar de o relatório ter ignorado e de Rufino ter se negado a comentar os motivos para
o Legacy estar em 37 mil pés na
aerovia UZ6, que exige altitudes pares no sentido Brasília-Manaus, ontem os advogados
insistiram que os pilotos seguiam a autorização de São José dos Campos, de onde saíram.
Outra coisa que o relatório
"prova", para os advogados, é
que não houve desligamento
intencional do transponder.
"Quem tentou umas 20 vezes, desesperadamente, estabelecer comunicação não iria desligar o transponder. Desligar o
transponder é coisa de traficante de droga", disse Dias.
Ele disse que o transponder
funcionou ao menos dez minutos depois de Brasília e, em nenhum instante, os controladores do Cindacta-1 estranharam
a altitude de 37 mil pés e tentaram instruir os pilotos para
mudá-la. Dez minutos, em
aviação, é um bom tempo.
Anteontem, Rufino chegou a
admitir hipótese de que os pilotos não teriam visto que o
transponder estava inoperante
porque o sol atrapalhou.
Dias diz que, pelas informações disponíveis, não é possível
saber por que o aparelho estava
desligado: "E, enquanto não ficarem claras as falhas materiais, operacionais e de comunicação, não se pode aventar
eventuais falhas humanas".
A premissa vale para controladores, diz ele: "Não vou cair
no mesmo erro que andaram
cometendo com os pilotos, o de
apontar culpas e responsabilidades prematuramente, sem
dados concretos para isso".
Uma questão crucial no relatório, disse Dias, é que não há
dados sobre o Boeing da Gol.
Ontem, a Justiça Federal negou pedido de liminar que permitiria a liberação dos passaportes dos pilotos. A decisão final sobre o habeas corpus não
tem data. O resultado do inquérito levará no mínimo dez meses, lembram os advogados.
(ELIANE CANTANHÊDE)
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