São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007

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Delegado mineiro é acusado de homofobia

Policial pediu proibição de micareta e de parada gay na cidade de Alfenas

Segundo ele, local pode se tornar, em futuro próximo, uma versão moderna de Sodoma e Gomorra, cidades bíblicas amaldiçoadas

JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

Carnaval temporão e Parada Gay podem transformar um município do sul de Minas Gerais em uma versão atual de Sodoma e Gomorra, cidades que, segundo a Bíblia, mergulhadas na perversão sexual e atos imorais, foram destruídas pela ira de Deus em uma chuva de fogo e enxofre.
Pelo menos é esse o temor de um delegado da Polícia Civil da universitária Alfenas (352 km de Belo Horizonte).
Em documento enviado à prefeitura, ele pede a proibição do Carnalfenas e da Parada Gay do município.
A avaliação do delegado é criticada por entidade gay da cidade, que encaminhou à corregedoria da polícia reclamação sobre a conduta do policial, que classifica de "homofóbica".
"Haja [sic] enquanto é tempo, pois Carnalfenas aliado às paradas gays fará que Alfenas, em futuro muito próximo, se torne uma Sodoma e Gomorra, cidades destruídas por Deus, conforme reza a Bíblia", escreveu o delegado Clóvis de Oliveira Leite, no documento encaminhado à prefeitura. Enviado em setembro, o ofício foi redigido em papel timbrado da Polícia Civil mineira.
"Para esta cidade convergem uma infinidade de ladrões, vândalos e traficantes de drogas, o que fazem acontecer todos os tipos de fatos delituosos [...], vandalismo, promiscuidades", afirmou Leite no documento.
O público registrado pelo Carnalfenas nos quatro dias de evento, no início deste mês, girou em torno de 115 mil pessoas, segundo os organizadores, enquanto a Parada Gay, em junho, reuniu em torno de 25 mil pessoas, também de acordo com a organização.

"Preconceito"
Em requerimento encaminhado à Polícia Civil e ao governo do Estado, o MGA (Movimento Gay de Alfenas e Região Sul de Minas) pede "providências urgentes quanto à atitude preconceituosa e discriminatória do delegado".
"A questão principal é que ele agiu enquanto Estado. É o Estado que está dizendo que Alfenas irá virar Sodoma e Gomorra", disse Sander Maciel, fundador do MGA.
O delegado regional de Alfenas, João Simões de Almeida Junior, ressaltou que Leite não estava autorizado a produzir o documento enviado à prefeitura. Segundo ele, Leite irá dar explicações à corporação sobre o episódio.
Apesar de toda a polêmica, o prefeito de Alfenas, Pompilio Canavez (PT), afirmou que não há razões para proibir as festas. "Os motivos que ele alega são baseados no conservadorismo. Ele pede para eu proibir a Parada Gay. Tem jeito de fazer um trem desse? Imaginou São Paulo proibindo a Parada Gay?", questionou.
A reportagem não localizou o delegado Clóvis de Oliveira Leite na sexta-feira. Na delegacia onde atua, um funcionário disse que ele voltaria a suas atividades apenas na próxima segunda-feira.
O funcionário, a pedido da reportagem, entrou em contato com o delegado por meio de telefone celular. Segundo ele, o delegado não o autorizou a passar o número do telefone à reportagem da Folha.
Alfenas é conhecida principalmente por sua população universitária, pois, na cidade, existem duas universidades: Unifal e Unifenas. A prefeitura estima que cerca de 10 mil universitários vivam no local.


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