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Delegado mineiro é acusado de homofobia
Policial pediu proibição de micareta e de parada gay na cidade de Alfenas
Segundo ele, local pode se
tornar, em futuro próximo,
uma versão moderna de
Sodoma e Gomorra, cidades
bíblicas amaldiçoadas
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA
Carnaval temporão e Parada
Gay podem transformar um
município do sul de Minas Gerais em uma versão atual de Sodoma e Gomorra, cidades que,
segundo a Bíblia, mergulhadas
na perversão sexual e atos imorais, foram destruídas pela ira
de Deus em uma chuva de fogo
e enxofre.
Pelo menos é esse o temor de
um delegado da Polícia Civil da
universitária Alfenas (352 km
de Belo Horizonte).
Em documento enviado à
prefeitura, ele pede a proibição
do Carnalfenas e da Parada Gay
do município.
A avaliação do delegado é criticada por entidade gay da cidade, que encaminhou à corregedoria da polícia reclamação sobre a conduta do policial, que
classifica de "homofóbica".
"Haja [sic] enquanto é tempo, pois Carnalfenas aliado às
paradas gays fará que Alfenas,
em futuro muito próximo, se
torne uma Sodoma e Gomorra,
cidades destruídas por Deus,
conforme reza a Bíblia", escreveu o delegado Clóvis de Oliveira Leite, no documento encaminhado à prefeitura. Enviado
em setembro, o ofício foi redigido em papel timbrado da Polícia Civil mineira.
"Para esta cidade convergem
uma infinidade de ladrões, vândalos e traficantes de drogas, o
que fazem acontecer todos os
tipos de fatos delituosos [...],
vandalismo, promiscuidades",
afirmou Leite no documento.
O público registrado pelo
Carnalfenas nos quatro dias de
evento, no início deste mês, girou em torno de 115 mil pessoas, segundo os organizadores, enquanto a Parada Gay, em
junho, reuniu em torno de 25
mil pessoas, também de acordo
com a organização.
"Preconceito"
Em requerimento encaminhado à Polícia Civil e ao governo do Estado, o MGA (Movimento Gay de Alfenas e Região
Sul de Minas) pede "providências urgentes quanto à atitude
preconceituosa e discriminatória do delegado".
"A questão principal é que ele
agiu enquanto Estado. É o Estado que está dizendo que Alfenas irá virar Sodoma e Gomorra", disse Sander Maciel, fundador do MGA.
O delegado regional de Alfenas, João Simões de Almeida
Junior, ressaltou que Leite não
estava autorizado a produzir o
documento enviado à prefeitura. Segundo ele, Leite irá dar
explicações à corporação sobre
o episódio.
Apesar de toda a polêmica, o
prefeito de Alfenas, Pompilio
Canavez (PT), afirmou que não
há razões para proibir as festas.
"Os motivos que ele alega são
baseados no conservadorismo.
Ele pede para eu proibir a Parada Gay. Tem jeito de fazer um
trem desse? Imaginou São Paulo proibindo a Parada Gay?",
questionou.
A reportagem não localizou o
delegado Clóvis de Oliveira Leite na sexta-feira. Na delegacia
onde atua, um funcionário disse que ele voltaria a suas atividades apenas na próxima segunda-feira.
O funcionário, a pedido da
reportagem, entrou em contato
com o delegado por meio de telefone celular. Segundo ele, o
delegado não o autorizou a passar o número do telefone à reportagem da Folha.
Alfenas é conhecida principalmente por sua população
universitária, pois, na cidade,
existem duas universidades:
Unifal e Unifenas. A prefeitura
estima que cerca de 10 mil universitários vivam no local.
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