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POLÍTICAS PÚBLICAS
Ação conjunta de conselhos com o Ministério Público quer mais controle da sociedade sobre serviços
Conferência debate controle social da saúde
AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A rede de quase 100 mil conselheiros-olheiros espalhada pelo
país começa a ser treinada e qualificada para melhor fiscalizar as
ações de saúde. Pela primeira vez,
o Ministério Público se junta de
forma ampla numa parceria com
os conselhos de saúde, ampliando
o grau de visão do controle social.
Também pela primeira vez, esse
"olho controlador" vai focalizar
tanto os serviços de saúde complementar, como os planos, seguros e convênios de saúde, quanto
aqueles serviços que são exclusivamente privados.
O controle social é um dos alicerces dos debates da 11ª Conferência Nacional de Saúde que
acontece desde a última sexta-feira em Brasília. São cerca de 2.500
delegados de todos os Estados e
quase todos os municípios onde
há algum serviço de saúde. Ao
longo de três dias, divididos em 80
grupos, os delegados tratam no
"varejo" dos três temas que permeiam a conferência: o controle
social, o financiamento da saúde e
o modelo assistencial para garantir um acesso "mais humano" e
mais generalizado.
Ao longo do dia de amanhã, esses diversos retalhos serão costurados numa imensa colcha que,
depois de aprovada em plenário,
se transforma em documento-diretriz para a saúde dos próximos
anos. A conferência acontece a cada quatro anos e esta é dedicada à
efetivação do Sistema Único de
Saúde, "com acesso, qualidade e
humanização".
Controle social
"O controle social cresceu muito nos últimos dez anos, mas é
preciso agora qualificar os conselheiros", diz Rita Barradas Barata,
coordenadora geral da conferência. Os conselhos estão instituídos
nas esferas municipais, dos Estados e da União. Nas cidades maiores, há conselhos distritais ou de
bairros. Em cada um deles, há representantes dos usuários, dos
trabalhadores da saúde, dos gestores (as autoridades nas áreas de
saúde, incluindo a direção dos
serviços públicos) e os prestadores -hospitais e laboratórios privados que prestam serviços ao
Sistema Único de Saúde.
A vigilância, no geral, é exercida
pelos representantes dos usuários
e trabalhadores. Em maior número, eles são também os mais militantes e nem sempre têm conhecimento técnico para avaliar possíveis falhas. "Ainda temos muito
de militância limitada a denúncias", diz Barata.
A qualificação desses olheiros
passa agora a ser prioridade nacional com a participação de várias instituições. A "capacitação
de conselheiros e membros do
Ministério Público" é um dos temas dos debates de hoje na conferência. Segundo Humberto Jacques Medeiros, procurador da
República, "para o sistema de
saúde, o Ministério Público é um
potencializador do controle social
e um reforço da cidadania".
Mário Scheffer, representante
dos usuários no Conselho Nacional de Saúde, lembra que, além da
capacitação, os milhares de conselhos serão interligados por uma
Rede Nacional de Comunicação
coordenada pelo Conselho Nacional de Saúde. Todos os conselhos do país estarão conectados
pela Internet.
José Noronha, presidente da
Abrasco, Associação Brasileira de
Saúde Coletiva, e professor da
Universidade Estadual do Rio de
Janeiro, defende que o controle
social deva ser levado até os postos de saúde e que se crie mecanismos de avaliação dos cuidados na
assistência médica. "Mecanismos
de controle da qualidade da assistência e da humanização do atendimento devem ser implantados
em todos os serviços, públicos e
privados", afirma. "Esses mecanismos implicam, além do controle, a melhora da assistência e
da humanização e dependem de
um treinamento e da conscientização dos próprios médicos",
concluiu Noronha.
O repórter Aureliano Biancarelli viajou a
convite da Conferência Nacional de Saúde
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