São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 2000

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HERANÇA DE PITTA
Cem ex-atletas ganham mais que professores para dar aulas em escolinhas municipais três vezes por semana
Ex-jogadores ensinam futebol sem concurso

ESTANISLAU MARIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Contratações sem concurso de cem ex-jogadores de futebol na Secretaria Municipal de Esportes, que ganham mais e trabalham menos que professores concursados da rede municipal de ensino, podem ser mantidas pela futura titular da secretaria, Nádia Campeão (PC do B).
O salário dos jogadores é de R$ 1.564,04 por três dias de trabalho por semana (24 horas semanais). Um professor concursado de educação física que cumpre 40 horas nas escolas municipais recebe salário de R$ 953,70.
Considerando-se as quatro semanas do mês, o professor ganha por hora R$ 5,96, e o ex-jogador, R$ 16,29 -173% a mais.
O atual secretário municipal de Esportes, Fausto Camunha, disse não ver nenhum problema. "Esses jogadores valem pelo carisma, pela magia que exercem nos meninos das escolinhas de futebol", afirmou Camunha.
"A princípio, não descartamos os projetos. Estamos estudando e não vamos desfazer tudo de cara", disse a futura secretária municipal de Esportes, Nádia Campeão, referindo-se aos contratos.
Foram cem as escolinhas implantadas pelo prefeito Celso Pitta, que atendem cerca de 50 mil crianças e adolescentes de 7 a 17 anos. Cada jogador trabalha em uma, geralmente às segundas, quartas e sextas.
O grupo reúne veteranos e estrelas do passado, como Ademir da Guia, Zé Maria, Coutinho, Basílio e até o capitão da seleção brasileira campeã de 1958, Bellini.
Para atender a todos os 50 mil jovens, o projeto conta com quatro assistentes sociais e cinco médicos. "Tivemos problemas financeiros e trabalhamos com o possível", disse o atual secretário.

Terceirizados
Os ex-jogadores mantêm um contrato de prestação de serviço com a prefeitura. Mas não há concurso público para assumir uma escolinha. "Analisamos o curriculum", diz Carlos Alberto Rodrigues -conhecido como Carlinhos-, que também dirige a associação dos ex-atletas.
Uma comissão formada por ele e duas funcionárias da prefeitura faz a análise e encaminha o nome do candidato escolhido para sanção do secretário.
"Qualquer um pode participar. É só mandar o currículo", explica Carlinhos, que diz ter na fila de espera cerca de 120 atletas.
Questionada sobre o processo de contratação dos jogadores de futebol, a futura secretária Nádia preferiu não comentar.
"Precisamos analisar e isso só será possível depois da posse", disse ela.
Em novembro, mesmo antes da indicação de Marta, Nádia e outros membros do PC do B, do PT e de partidos da coligação participaram de evento com atletas e pessoas ligadas ao esporte em uma cervejaria na zona norte. No encontro, também estiveram Carlinhos e parte dos jogadores-professores das escolinhas.
"Não ligo para meu cargo. Se estiver fora no dia 1º, não tem problema. Defendo é o projeto", disse o atual coordenador.

Reação
O emprego de jogadores como professores nas escolinhas tem a oposição dos conselhos de educação física e dos Supeem (Sindicato dos Professores e Especialistas do Ensino Municipal).
"Vamos entrar com uma representação contra esses contratos", disse a diretora do sindicato Jupiara Vieira, que é professora de educação física.

Legislação
"A lei federal (de 1998) exige que o profissional seja formado em educação física ou que entre com pedido de autorização comprovando que já trabalhava antes disso", disse o primeiro-Secretário do Cref (Conselho Regional de Educação Física), Sérgio Luiz de Souza Vieira.
O coordenador das escolinhas disse já ter dado entrada na documentação. "Para ensinar futebol, ninguém melhor do os craques", disse o secretário Camunha.



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