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HERANÇA DE PITTA
Cem ex-atletas ganham mais que professores para dar aulas em escolinhas municipais três vezes por semana
Ex-jogadores ensinam futebol sem concurso
ESTANISLAU MARIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Contratações sem concurso de
cem ex-jogadores de futebol na
Secretaria Municipal de Esportes,
que ganham mais e trabalham
menos que professores concursados da rede municipal de ensino,
podem ser mantidas pela futura
titular da secretaria, Nádia Campeão (PC do B).
O salário dos jogadores é de R$
1.564,04 por três dias de trabalho
por semana (24 horas semanais).
Um professor concursado de
educação física que cumpre 40
horas nas escolas municipais recebe salário de R$ 953,70.
Considerando-se as quatro semanas do mês, o professor ganha
por hora R$ 5,96, e o ex-jogador,
R$ 16,29 -173% a mais.
O atual secretário municipal de
Esportes, Fausto Camunha, disse
não ver nenhum problema. "Esses jogadores valem pelo carisma,
pela magia que exercem nos meninos das escolinhas de futebol",
afirmou Camunha.
"A princípio, não descartamos
os projetos. Estamos estudando e
não vamos desfazer tudo de cara",
disse a futura secretária municipal de Esportes, Nádia Campeão,
referindo-se aos contratos.
Foram cem as escolinhas implantadas pelo prefeito Celso Pitta, que atendem cerca de 50 mil
crianças e adolescentes de 7 a 17
anos. Cada jogador trabalha em
uma, geralmente às segundas,
quartas e sextas.
O grupo reúne veteranos e estrelas do passado, como Ademir
da Guia, Zé Maria, Coutinho, Basílio e até o capitão da seleção brasileira campeã de 1958, Bellini.
Para atender a todos os 50 mil
jovens, o projeto conta com quatro assistentes sociais e cinco médicos. "Tivemos problemas financeiros e trabalhamos com o possível", disse o atual secretário.
Terceirizados
Os ex-jogadores mantêm um
contrato de prestação de serviço
com a prefeitura. Mas não há concurso público para assumir uma
escolinha. "Analisamos o curriculum", diz Carlos Alberto Rodrigues -conhecido como Carlinhos-, que também dirige a associação dos ex-atletas.
Uma comissão formada por ele
e duas funcionárias da prefeitura
faz a análise e encaminha o nome
do candidato escolhido para sanção do secretário.
"Qualquer um pode participar.
É só mandar o currículo", explica
Carlinhos, que diz ter na fila de espera cerca de 120 atletas.
Questionada sobre o processo
de contratação dos jogadores de
futebol, a futura secretária Nádia
preferiu não comentar.
"Precisamos analisar e isso só
será possível depois da posse",
disse ela.
Em novembro, mesmo antes da
indicação de Marta, Nádia e outros membros do PC do B, do PT e
de partidos da coligação participaram de evento com atletas e
pessoas ligadas ao esporte em
uma cervejaria na zona norte. No
encontro, também estiveram Carlinhos e parte dos jogadores-professores das escolinhas.
"Não ligo para meu cargo. Se estiver fora no dia 1º, não tem problema. Defendo é o projeto", disse
o atual coordenador.
Reação
O emprego de jogadores como
professores nas escolinhas tem a
oposição dos conselhos de educação física e dos Supeem (Sindicato
dos Professores e Especialistas do
Ensino Municipal).
"Vamos entrar com uma representação contra esses contratos",
disse a diretora do sindicato Jupiara Vieira, que é professora de
educação física.
Legislação
"A lei federal (de 1998) exige que
o profissional seja formado em
educação física ou que entre com
pedido de autorização comprovando que já trabalhava antes disso", disse o primeiro-Secretário
do Cref (Conselho Regional de
Educação Física), Sérgio Luiz de
Souza Vieira.
O coordenador das escolinhas
disse já ter dado entrada na documentação. "Para ensinar futebol,
ninguém melhor do os craques",
disse o secretário Camunha.
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