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ADMINISTRAÇÃO
Obra de 4.300 m2 foi construída sob terreno da prefeitura na Vila Olímpia; texto abre a possibilidade de regularização
Projeto pode beneficiar garagem irregular
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um projeto aprovado ontem na
Câmara Municipal poderá beneficiar uma das maiores incorporadoras de São Paulo, que escavou
irregularmente 4.300 m2 para
construir quatro andares de garagem sob um terreno público.
O próprio líder do governo,
João Antonio (PT), e vereadores
da base governista reconhecem
que o projeto abre a possibilidade
de que a garagem ilegal seja regularizada. No entanto os vereadores afirmam que o intuito do projeto não é esse, mas sim a melhoria urbana da região.
A obra irregular fica na rua Funchal, na Vila Olímpia, um dos metros quadrados mais caros da cidade, e foi revelada pela Folha em
fevereiro. A garagem, que estava
escondida da fiscalização por
uma parede de gesso com uma camada de cimento, foi embargada.
Mas o restante do empreendimento, um prédio de 38 andares,
continua em construção. Batizado de e-Tower, o projeto tem um
custo estimado em R$ 70 milhões.
O projeto altera o traçado da rua
Funchal. Antes, a previsão era que
a ampliação dessa via passasse
por cima da área onde hoje está a
garagem. Com o projeto aprovado ontem, o alargamento da Funchal será para o outro lado, e não
mais sobre o local da obra. Assim,
a empreiteira vai poder comprar a
área e regularizar a situação.
O problema começou quando
da construção do prédio. Para que
pudesse erguer um edifício mais
alto do que o permitido, a empreiteira doou à prefeitura, no início
de 2002, uma área para melhorias
no traçado viário da região.
Acontece que sob essa área
-que passou a ser um terreno
público- a empresa construiu a
garagem irregular. Em fevereiro
deste ano, a prefeitura embargou
a obra e multou a empresa.
O projeto da prefeitura será, assim, o primeiro passo para permitir que a incorporadora recompre
o terreno e regularize a garagem.
Se o projeto não for aprovado, o
buraco pode ter de ser aterrado.
Para o vereador Paulo Frange
(PTB), a regularização da garagem ao menos dá solução a um
problema da cidade. "Interessa ao
município uma garagem debaixo
de uma área pública que não tem
porta de entrada nem porta de
saída?" Segundo ele, a empresa
ainda terá de pagar à prefeitura
pela garagem que ela própria
construiu, como uma punição.
O vereador Nabil Bonduki (PT)
disse que o traçado do projeto
aprovado ontem é melhor que o
anterior e que a mudança vem
sendo estudada há anos.
Mas o petista defendeu que o
texto, apesar de permitir a regularização da garagem, inclua uma
punição adicional, para servir de
exemplo a quem desrespeita a lei.
O projeto, aprovado ontem por
30 votos a 4, ainda precisa de uma
segunda votação na Câmara.
O que diz a empresa
Na época em que a garagem foi
descoberta, em fevereiro, a empresa manifestou intenção de recomprar a área. Quando o projeto
chegou à Câmara, em agosto, a
Munir Abbud Empreendimentos
Imobiliários disse à Folha, por
meio de seu advogado, que não
sabia se tomaria a medida.
Em fevereiro, Jefferson Abbud,
sócio-diretor da incorporadora,
havia dito que um projeto iria alterar o traçado da rua Funchal,
permitindo a regularização. Na
época, Abbud afirmou que o projeto estava em tramitação na Câmara, mas ele nem sequer havia
sido encaminhado ao Legislativo.
A garagem começou a ser feita
em 2001 e, até 2003, quando a Folha publicou reportagem sobre o
caso, nunca tinha sido questionada pela prefeitura. A fiscalização
da Subprefeitura de Pinheiros até
esteve no local em dezembro de
2002, mas o chefe do setor disse
que o buraco não foi visto.
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