São Paulo, terça-feira, 18 de dezembro de 2007

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Helicóptero com Papai Noel é alvejado

Vôo entre favelas rivais para distribuir brinquedos teria motivado tiros de traficantes; ninguém se feriu

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

A guerra do tráfico no Rio de Janeiro quase acabou com a festa de Natal de cerca de 700 crianças de três favelas do complexo da Maré (zona norte). Um helicóptero que levava um Papai Noel até a favela Baixa do Sapateiro, no último domingo, foi atingido por dois tiros e teve de voltar à base de decolagem.
A aeronave sobrevoava a favela Vila do João, também no complexo, quando foi atingida. A polícia atribui o ataque à rivalidade entre traficantes que controlam a venda de drogas nas duas favelas. A ADA (Amigos dos Amigos) atua na favela, e o TCP (Terceiro Comando Puro), na Baixa do Sapateiro, local da festa.
A festa foi organizada por três associações de moradores de favelas do complexo: Baixa do Sapateiro, Nova Maré e Timbau. Cerca de mil pessoas aguardavam a chegada do Papai Noel. O Jet Ranger 206, saiu por volta das 17h da base da empresa Helirio Táxi Aéreo. Piloto, co-piloto e Papai Noel seguiram para a Baixa do Sapateiro.
A aeronave foi atingida na tampa da turbina e na altura do tanque de óleo, a 150 m, sobre a Vila do João. A polícia ainda não sabe o calibre da arma usada. Após o impacto, o piloto voltou à base. Avisados, os organizadores foram buscar o Papai Noel, que identificou-se como Paulo Henrique, e foi de carro à festa, na praça do Dezoito.
"Foi tudo muito rápido. Eu sinto tristeza. Ver que a coisa chegou a esse ponto. Foi a primeira vez que aconteceu comigo" disse Henrique, que afirmou ainda que, antes de voar, faz orações. "O resto fica por conta do destino."
O aluguel do helicóptero custou R$ 1.500. Henrique cobrou R$ 300 para fazer o papel.
A festa começou com quase duas horas de atraso, mas fez a alegria das crianças, com a distribuição de cerca de 500 brinquedos, comprados, segundo os organizadores, com o apoio dos comerciantes da região.
"Infelizmente temos este tipo de problema. Mas demos um jeito e continuamos a festa", disse Flávio Aguiar, presidente da associação de moradores da Nova Maré.
Para o delegado Aldari Viana, que investiga o caso, traficantes miraram contra o Papai Noel para atingir a facção rival.
"Como eram de facção contrária, não queriam a festa do outro lado", disse Viana.
O complexo da Maré é composto por 22 favelas e dividido pelas três principais facções criminosas do Rio -TCP, ADA e Comando Vermelho-, que estão em constante conflito.
Segundo Carlos Lemos, um dos sócios da Helirio Táxi Aéreo, foi a primeira vez que o problema ocorreu com uma de suas aeronaves.


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