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Helicóptero com Papai Noel é alvejado
Vôo entre favelas rivais para distribuir brinquedos teria motivado tiros de traficantes; ninguém se feriu
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
A guerra do tráfico no Rio de
Janeiro quase acabou com a
festa de Natal de cerca de 700
crianças de três favelas do complexo da Maré (zona norte).
Um helicóptero que levava um
Papai Noel até a favela Baixa do
Sapateiro, no último domingo,
foi atingido por dois tiros e teve
de voltar à base de decolagem.
A aeronave sobrevoava a favela Vila do João, também no
complexo, quando foi atingida.
A polícia atribui o ataque à rivalidade entre traficantes que
controlam a venda de drogas
nas duas favelas. A ADA (Amigos dos Amigos) atua na favela,
e o TCP (Terceiro Comando
Puro), na Baixa do Sapateiro,
local da festa.
A festa foi organizada por
três associações de moradores
de favelas do complexo: Baixa
do Sapateiro, Nova Maré e
Timbau. Cerca de mil pessoas
aguardavam a chegada do Papai
Noel. O Jet Ranger 206, saiu
por volta das 17h da base da empresa Helirio Táxi Aéreo. Piloto, co-piloto e Papai Noel seguiram para a Baixa do Sapateiro.
A aeronave foi atingida na
tampa da turbina e na altura do
tanque de óleo, a 150 m, sobre a
Vila do João. A polícia ainda
não sabe o calibre da arma usada. Após o impacto, o piloto voltou à base. Avisados, os organizadores foram buscar o Papai
Noel, que identificou-se como
Paulo Henrique, e foi de carro à
festa, na praça do Dezoito.
"Foi tudo muito rápido. Eu
sinto tristeza. Ver que a coisa
chegou a esse ponto. Foi a primeira vez que aconteceu comigo" disse Henrique, que afirmou ainda que, antes de voar,
faz orações. "O resto fica por
conta do destino."
O aluguel do helicóptero custou R$ 1.500. Henrique cobrou
R$ 300 para fazer o papel.
A festa começou com quase
duas horas de atraso, mas fez a
alegria das crianças, com a distribuição de cerca de 500 brinquedos, comprados, segundo os
organizadores, com o apoio dos
comerciantes da região.
"Infelizmente temos este tipo de problema. Mas demos
um jeito e continuamos a festa", disse Flávio Aguiar, presidente da associação de moradores da Nova Maré.
Para o delegado Aldari Viana,
que investiga o caso, traficantes
miraram contra o Papai Noel
para atingir a facção rival.
"Como eram de facção contrária, não queriam a festa do
outro lado", disse Viana.
O complexo da Maré é composto por 22 favelas e dividido
pelas três principais facções
criminosas do Rio -TCP, ADA
e Comando Vermelho-, que
estão em constante conflito.
Segundo Carlos Lemos, um
dos sócios da Helirio Táxi Aéreo, foi a primeira vez que o
problema ocorreu com uma de
suas aeronaves.
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