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Indústria desejava ver programa que permitiria fumantes em ambientes fechados implantado na Câmara, mas técnica não era 100% eficiente
Lobby da "convivência" agiu no Congresso
DA REPORTAGEM LOCAL
O lobby da indústria do cigarro
sempre atuou no Congresso em
Brasília, mas às escuras. Para tentar evitar que o cigarro fosse banido de ambientes fechados, no entanto, ele agiu às claras e teve como aliado ocasional um médico e
militante antifumo, o deputado
Elias Murad (PSDB-MG).
Em 1997, Murad aceitou a sugestão da indústria de estudar a
troca do sistema de ar-condicionado do Congresso para implantar ali o programa Convivência
em Harmonia. Documentos do
Projeto Latino dizem que o Congresso deveria ser um dos principais alvos da ação da indústria.
O programa Convivência em
Harmonia, implantado em 1.300
restaurantes, bares e hotéis do
Brasil, defende que o uso de um
sistema eficiente de circulação
evita que os males da fumaça atinja os não-fumantes.
Representantes da indústria levaram Murad para conhecer o
sistema em um hotel de São Paulo
e ele ficou tão encantado que fez
até um discurso na Câmara:
"Recentemente, vi em um hotel
de São Paulo (L'Hotel) um método que dispensa a separação física
por meio da criação de fumódromo ou salas isoladas. Trata-se de
um sistema de refrigeração (ar-condicionado), mas com renovação de ar dirigida sob certa pressão. A coisa é feita de tal maneira
que o ar frio insuflado no restaurante, acima dos não-fumantes,
vai sob pressão para o lado dos fumantes, saindo através de respiradouros e levando consigo a fumaça de eventuais cigarros fumados.
Assim, o setor de não-fumantes
ficará constantemente sem fumaça nenhuma, uma vez que o ar
condicionado sob pressão a empurrará sempre para fora. É a tecnologia moderna a serviço da saúde num sistema que também não
interfere no direito do fumante de
desfrutar o seu cigarro, contanto
que o faça no lugar adequado."
O deputado reconhece que caiu
numa armadilha: "Confesso que
fiquei bem impressionado na
época. Depois, descobri que esse
sistema não funciona 100%. O fumo tem de ser banido de espaços
fechados". Ele foi o autor do projeto de lei, aprovado pelo Congresso em 1996, que baniu o fumo
de ambientes fechados -uma
dessas lei que não pegou.
Ironicamente, quem fez Murad
mudar de idéia sobre o sistema de
circulação foi um engenheiro britânico enviado pela indústria para
estudar o ar da Câmara.
A implantação do programa
Convivência em Harmonia no
Congresso seria a melhor vitrine
para a indústria, mas não foi
adiante. Segundo Murad, porque
os deputados ficaram convencidos de que não funcionaria.
Antonio Conde, consultor do
programa, tem outra versão. Para
ele, ocorreram dois problemas: o
sistema de ar-condicionado do
Congresso era ultrapassado e não
havia "viabilidade política" em separar os deputados entre fumantes e não-fumantes. "Você não
pega um deputado que senta há
20 anos no mesmo lugar e diz que
agora ele vai ter de mudar para a
ala de fumantes. Não dá."
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