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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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Indústria desejava ver programa que permitiria fumantes em ambientes fechados implantado na Câmara, mas técnica não era 100% eficiente

Lobby da "convivência" agiu no Congresso

DA REPORTAGEM LOCAL

O lobby da indústria do cigarro sempre atuou no Congresso em Brasília, mas às escuras. Para tentar evitar que o cigarro fosse banido de ambientes fechados, no entanto, ele agiu às claras e teve como aliado ocasional um médico e militante antifumo, o deputado Elias Murad (PSDB-MG).
Em 1997, Murad aceitou a sugestão da indústria de estudar a troca do sistema de ar-condicionado do Congresso para implantar ali o programa Convivência em Harmonia. Documentos do Projeto Latino dizem que o Congresso deveria ser um dos principais alvos da ação da indústria.
O programa Convivência em Harmonia, implantado em 1.300 restaurantes, bares e hotéis do Brasil, defende que o uso de um sistema eficiente de circulação evita que os males da fumaça atinja os não-fumantes.
Representantes da indústria levaram Murad para conhecer o sistema em um hotel de São Paulo e ele ficou tão encantado que fez até um discurso na Câmara:
"Recentemente, vi em um hotel de São Paulo (L'Hotel) um método que dispensa a separação física por meio da criação de fumódromo ou salas isoladas. Trata-se de um sistema de refrigeração (ar-condicionado), mas com renovação de ar dirigida sob certa pressão. A coisa é feita de tal maneira que o ar frio insuflado no restaurante, acima dos não-fumantes, vai sob pressão para o lado dos fumantes, saindo através de respiradouros e levando consigo a fumaça de eventuais cigarros fumados. Assim, o setor de não-fumantes ficará constantemente sem fumaça nenhuma, uma vez que o ar condicionado sob pressão a empurrará sempre para fora. É a tecnologia moderna a serviço da saúde num sistema que também não interfere no direito do fumante de desfrutar o seu cigarro, contanto que o faça no lugar adequado."
O deputado reconhece que caiu numa armadilha: "Confesso que fiquei bem impressionado na época. Depois, descobri que esse sistema não funciona 100%. O fumo tem de ser banido de espaços fechados". Ele foi o autor do projeto de lei, aprovado pelo Congresso em 1996, que baniu o fumo de ambientes fechados -uma dessas lei que não pegou.
Ironicamente, quem fez Murad mudar de idéia sobre o sistema de circulação foi um engenheiro britânico enviado pela indústria para estudar o ar da Câmara.
A implantação do programa Convivência em Harmonia no Congresso seria a melhor vitrine para a indústria, mas não foi adiante. Segundo Murad, porque os deputados ficaram convencidos de que não funcionaria.
Antonio Conde, consultor do programa, tem outra versão. Para ele, ocorreram dois problemas: o sistema de ar-condicionado do Congresso era ultrapassado e não havia "viabilidade política" em separar os deputados entre fumantes e não-fumantes. "Você não pega um deputado que senta há 20 anos no mesmo lugar e diz que agora ele vai ter de mudar para a ala de fumantes. Não dá."



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