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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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Documentos indicam plano de expansão

DA REPORTAGEM LOCAL

A pesquisadora brasileira Stella Aguinaga Bialous encontrou nos arquivos da indústria do cigarro documentos que mostram que o programa para a América Latina não só estava em atividade havia pouco tempo como uma das companhias desejava expandir seus projetos no Brasil.
Em um dos papéis, o executivo Bruce Davies, da área de assuntos científicos da Philip Morris, traçou as metas para 1999 na região: "Desenvolver e completar a execução de acordos com os cientistas já identificados". Cita o argentino Carlos Alvarez, o trio de pesquisadores brasileiros (Francisco Aquino Neto, Jari Cardoso e Antonio Miguel), além de Luiz Britto, neurofisiologista da USP.
Também fazia parte dos planos de Davies identificar outros profissionais na região "com apropriadas habilidades profissionais". "Desenvolver e executar entendimentos que irão permitir que nos beneficiemos do conhecimento dos consultores", destacou Davies entre as atividades que estavam em andamento.
Em outro texto, o foco é um projeto de Antonio Miguel para analisar a contribuição de fontes poluidoras para a qualidade do ar -um estudo que poderia subsidiar a estratégia da indústria contra o banimento do fumo em ambientes fechados. Davies propunha subsídio à pesquisa.
Britto, que nega ter aceitado qualquer proposta, disse ter sido procurado em 97. Afirma que Davies "reapareceu há uns dois anos". "Ele fez um convite formal. Se eu aceitaria um cargo. Depois mandou material sobre projeto de financiamento. Foi um pouco suspeito. É sempre assim quando envolve a indústria", diz o pesquisador, que diz ter sido "cortejado" também pelo setor farmacêutico.
A proposta de patrocínio que Britto recebeu é proveniente do PMERP (Philip Morris External Research Program), um programa de financiamento externo de pesquisas da empresa.
Estudo de que Stella Bialous participou, publicado em 2001 na revista "Tobacco Control", aponta que a estrutura do PMERP é quase idêntica à do Ciar (sigla em inglês para Centro para Pesquisa sobre Ar em Ambientes Interiores), o órgão extinto em 1998 sob acusação de fraude que canalizava recursos da indústria para cientistas. Pelo estudo, a maioria dos cientistas já afiliados têm ligação anterior com a indústria.



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