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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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Fabricantes de cigarros negam ter financiado pesquisas com o objetivo de contradizer as conclusões de estudiosos independentes

Público deve seguir governo, diz empresa

DA REPORTAGEM LOCAL

A Philip Morris brasileira diz em nota enviada à Folha que considera "não ser construtivo insistir em eventos que ocorreram há vários anos", principalmente por se tratar de documentos que não foram escritos no Brasil.
"É mais produtivo pensar hoje sobre o que pode e deve ser feito para encaminhar as preocupações legítimas da sociedade sobre o tabaco", afirma. A empresa diz apoiar "uma regulamentação governamental consciente".
Sobre a exposição à fumaça do cigarro, a Philip Morris afirma que "as autoridades de saúde pública de diversos países concluíram que ela causa doenças -incluindo câncer do pulmão e doenças do coração- em adultos não-fumantes, além de originar problemas em crianças tais como asma, infecções respiratórias, tosse, dificuldades respiratórias, otite média (infecção do ouvido médio) e síndrome de morte súbita infantil. Adicionalmente, concluíram que a exposição à fumaça do cigarro de terceiros pode agravar a asma em adultos e provocar irritação nos olhos, garganta e nariz".
A companhia recomenda que o consumidor deve seguir as "conclusões das autoridades de saúde pública no que se refere aos efeitos da fumaça do tabaco".
A Philip Morris diz acreditar que, nos locais onde se pode fumar, "os governos devem exigir a colocação de avisos de advertência que comuniquem as conclusões da saúde pública de que o fumo passivo causa doenças em não-fumantes".
Clodoaldo Celentano, 64, vice-presidente de assuntos corporativos e jurídicos da Philip Morris até junho de 2001, citado nos documentos, afirma que só recebia cópias dos textos, que não tinha nenhuma participação na elaboração da estratégia científica.
Em junho de 1993, uma executiva da Philip Morris Internacional enviou um fax a Celentano dando sugestões sobre como tratar a poluição ambiental de cigarro. Uma das sugestões era criar um "programa de cortesia/tolerância" com o objetivo de mudar o foco do ponto de vista da saúde para a questão da tolerância.
Celentano diz que o programa sugerido é o Convivência em Harmonia e não tinha relação alguma com as pesquisas científicas.

Souza Cruz
A companhia informa, também em nota, que "nunca financiou pesquisas com o objetivo de enganar a opinião pública para evitar que o fumo fosse banido de locais fechados".
A Souza Cruz diz que se limitou a enviar ao Ciar (Centro para Pesquisas sobre Ar em Ambientes Interiores) uma lista de especialistas brasileiros em qualidade de ar. O centro enviava os textos para o Brasil como "cortesia".
O Ciar, segundo a companhia, foi criado em 1987 por empresas americanas, "sem qualquer participação da BAT, Souza Cruz ou outra empresa do grupo".
A Souza Cruz afirma que jamais contratou cientistas para colocar em dúvida outras pesquisas. "A credibilidade da marca Souza Cruz e a integridade intelectual e profissional dos seus funcionários foram conquistados ao longo de seus cem anos sem necessidade de apelar para mecanismos escusos junto à opinião pública e à comunidade científica".
O ex-gerente do departamento de pesquisa e desenvolvimento da Souza Cruz, C.J.P. de Siqueira, citado em documento de 1988 no qual a indústria debate estratégias para contra-atacar as campanhas contra o fumo passivo, "somente recebeu os relatórios" de pesquisa. O Grupo de Pesquisa Científica, do qual ele fazia parte, "nunca teve como finalidade estudar a fumaça ambiental de cigarros". Esse grupo desenvolve novas estratégias de produtos.
A Folha solicitou uma resposta da Souza Cruz sobre a avaliação de especialistas de que o programa Convivência em Harmonia não tem qualquer eficácia do ponto de vista científico. A empresa disse que ele visa "acomodar os interesses de fumantes e não-fumantes", com criação de áreas específicas para cada grupo.
Em relação ao impacto da fumaça na saúde de não-fumantes, a companhia repete a mesma lista de doenças da Philip Morris.
Ressalta que a conclusão de que "pessoas expostas à fumaça ambiental dos cigarros estariam mais propensas a desenvolver diversos problemas de saúde" é da Organização Mundial de Saúde.



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