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Fabricantes de cigarros negam ter financiado pesquisas com o objetivo de contradizer as conclusões de estudiosos independentes
Público deve seguir governo, diz empresa
DA REPORTAGEM LOCAL
A Philip Morris brasileira diz
em nota enviada à Folha que considera "não ser construtivo insistir em eventos que ocorreram há
vários anos", principalmente por
se tratar de documentos que não
foram escritos no Brasil.
"É mais produtivo pensar hoje
sobre o que pode e deve ser feito
para encaminhar as preocupações legítimas da sociedade sobre
o tabaco", afirma. A empresa diz
apoiar "uma regulamentação governamental consciente".
Sobre a exposição à fumaça do
cigarro, a Philip Morris afirma
que "as autoridades de saúde pública de diversos países concluíram que ela causa doenças -incluindo câncer do pulmão e doenças do coração- em adultos não-fumantes, além de originar problemas em crianças tais como asma, infecções respiratórias, tosse,
dificuldades respiratórias, otite
média (infecção do ouvido médio) e síndrome de morte súbita
infantil. Adicionalmente, concluíram que a exposição à fumaça do
cigarro de terceiros pode agravar
a asma em adultos e provocar irritação nos olhos, garganta e nariz".
A companhia recomenda que o
consumidor deve seguir as "conclusões das autoridades de saúde
pública no que se refere aos efeitos da fumaça do tabaco".
A Philip Morris diz acreditar
que, nos locais onde se pode fumar, "os governos devem exigir a
colocação de avisos de advertência que comuniquem as conclusões da saúde pública de que o fumo passivo causa doenças em
não-fumantes".
Clodoaldo Celentano, 64, vice-presidente de assuntos corporativos e jurídicos da Philip Morris
até junho de 2001, citado nos documentos, afirma que só recebia
cópias dos textos, que não tinha
nenhuma participação na elaboração da estratégia científica.
Em junho de 1993, uma executiva da Philip Morris Internacional
enviou um fax a Celentano dando
sugestões sobre como tratar a poluição ambiental de cigarro. Uma
das sugestões era criar um "programa de cortesia/tolerância"
com o objetivo de mudar o foco
do ponto de vista da saúde para a
questão da tolerância.
Celentano diz que o programa
sugerido é o Convivência em Harmonia e não tinha relação alguma
com as pesquisas científicas.
Souza Cruz
A companhia informa, também
em nota, que "nunca financiou
pesquisas com o objetivo de enganar a opinião pública para evitar
que o fumo fosse banido de locais
fechados".
A Souza Cruz diz que se limitou
a enviar ao Ciar (Centro para Pesquisas sobre Ar em Ambientes Interiores) uma lista de especialistas
brasileiros em qualidade de ar. O
centro enviava os textos para o
Brasil como "cortesia".
O Ciar, segundo a companhia,
foi criado em 1987 por empresas
americanas, "sem qualquer participação da BAT, Souza Cruz ou
outra empresa do grupo".
A Souza Cruz afirma que jamais
contratou cientistas para colocar
em dúvida outras pesquisas. "A
credibilidade da marca Souza
Cruz e a integridade intelectual e
profissional dos seus funcionários
foram conquistados ao longo de
seus cem anos sem necessidade
de apelar para mecanismos escusos junto à opinião pública e à comunidade científica".
O ex-gerente do departamento
de pesquisa e desenvolvimento da
Souza Cruz, C.J.P. de Siqueira, citado em documento de 1988 no
qual a indústria debate estratégias
para contra-atacar as campanhas
contra o fumo passivo, "somente
recebeu os relatórios" de pesquisa. O Grupo de Pesquisa Científica, do qual ele fazia parte, "nunca
teve como finalidade estudar a fumaça ambiental de cigarros". Esse
grupo desenvolve novas estratégias de produtos.
A Folha solicitou uma resposta
da Souza Cruz sobre a avaliação
de especialistas de que o programa Convivência em Harmonia
não tem qualquer eficácia do ponto de vista científico. A empresa
disse que ele visa "acomodar os
interesses de fumantes e não-fumantes", com criação de áreas específicas para cada grupo.
Em relação ao impacto da fumaça na saúde de não-fumantes,
a companhia repete a mesma lista
de doenças da Philip Morris.
Ressalta que a conclusão de que
"pessoas expostas à fumaça ambiental dos cigarros estariam mais
propensas a desenvolver diversos
problemas de saúde" é da Organização Mundial de Saúde.
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