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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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História de fraudes começa em 54

DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria do cigarro tem uma tradição de fraudes. A primeira tem quase 40 anos. Alarmada com a primeira pesquisa que detectou câncer em ratos pincelados com extrato de nicotina, a indústria adotou uma estratégia que se repete: promete a verdade, abre supostos institutos de pesquisa e continua a difundir inverdades.
Um marco dessa política é o anúncio publicado em 4 de janeiro de 1954, em 448 jornais americanos. Sob o título, "A Frank Statement to Cigarette Smokers" (Uma Declaração Franca Para os Fumantes), os fabricantes diziam que não haver provas de que cigarro causasse câncer e se dispunham a divulgar qualquer novidade que surgisse em relação à nocividade do fumo. "Acreditamos que os produtos que fabricamos não são prejudiciais à saúde", dizia um trecho do anúncio.
A declaração era falsa -pesquisas dos fabricantes, a mais contundente de 1953, haviam apontado que cigarro era cancerígeno.
Essa pesquisa só veio à tona nos anos 90, quando procuradores levaram a indústria aos tribunais sob a acusação de que ela havia fraudado a saúde pública, e as finanças dos Estados que bancavam os tratamentos, ao esconder os males causados pelo cigarro.
O centro de pesquisa que a indústria criou em 1954, o Tobacco Industry Research Commitee, virou um instrumento de relações públicas. Foi usado para desacreditar as pesquisas acadêmicas.
A indústria culpava a poluição e a alimentação. Em 1962, um médico do Sloan-Kettering Institute, um dos mais importantes centros de câncer de Nova York, dizia que "tem mais cancerígenos em um tomate do que num maço de cigarro". A Philip Morris criou um prêmio anual de US$ 25 mil para médicos do centro.
Em 1964, quando sai o primeiro relatório do governo americano sobre cigarro, a indústria criou a mais eficaz de suas estratégias: começou a difundir a idéia de que as pesquisas não eram conclusivas.
Todas essas idéias nasceram dentro de uma agência de relações públicas de Nova York, a Hill & Knowtown.
O plano era muito simples: pesquisadores que se disponham a endossar as idéias da indústria são agraciados com financiamentos e acesso à mídia.



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