|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
História de fraudes começa em 54
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria do cigarro tem uma
tradição de fraudes. A primeira
tem quase 40 anos. Alarmada
com a primeira pesquisa que detectou câncer em ratos pincelados
com extrato de nicotina, a indústria adotou uma estratégia que se
repete: promete a verdade, abre
supostos institutos de pesquisa e
continua a difundir inverdades.
Um marco dessa política é o
anúncio publicado em 4 de janeiro de 1954, em 448 jornais americanos. Sob o título, "A Frank Statement to Cigarette Smokers"
(Uma Declaração Franca Para os
Fumantes), os fabricantes diziam
que não haver provas de que cigarro causasse câncer e se dispunham a divulgar qualquer novidade que surgisse em relação à
nocividade do fumo. "Acreditamos que os produtos que fabricamos não são prejudiciais à saúde", dizia um trecho do anúncio.
A declaração era falsa -pesquisas dos fabricantes, a mais contundente de 1953, haviam apontado que cigarro era cancerígeno.
Essa pesquisa só veio à tona nos
anos 90, quando procuradores levaram a indústria aos tribunais
sob a acusação de que ela havia
fraudado a saúde pública, e as finanças dos Estados que bancavam os tratamentos, ao esconder
os males causados pelo cigarro.
O centro de pesquisa que a indústria criou em 1954, o Tobacco
Industry Research Commitee, virou um instrumento de relações
públicas. Foi usado para desacreditar as pesquisas acadêmicas.
A indústria culpava a poluição e
a alimentação. Em 1962, um médico do Sloan-Kettering Institute,
um dos mais importantes centros
de câncer de Nova York, dizia que
"tem mais cancerígenos em um
tomate do que num maço de cigarro". A Philip Morris criou um
prêmio anual de US$ 25 mil para
médicos do centro.
Em 1964, quando sai o primeiro
relatório do governo americano
sobre cigarro, a indústria criou a
mais eficaz de suas estratégias: começou a difundir a idéia de que as
pesquisas não eram conclusivas.
Todas essas idéias nasceram
dentro de uma agência de relações públicas de Nova York, a Hill
& Knowtown.
O plano era muito simples: pesquisadores que se disponham a
endossar as idéias da indústria
são agraciados com financiamentos e acesso à mídia.
Texto Anterior: Menem barrou projeto argentino Próximo Texto: Público deve seguir governo, diz empresa Índice
|