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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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Estudo não é conclusivo, diz professor

DA REPORTAGEM LOCAL

O coordenador do laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Francisco Aquino Neto, diz que seus estudos sobre qualidade do ar interno não são conclusivos, isto é: não é possível dizer que a fumaça do cigarro é um poluidor importante e faz mal, mas também não é possível dizer a partir deles que não é prejudicial.
Jari Nóbrega Cardoso, professor da mesma instituição, afirma que os resultados não podiam ser "extrapolados". Segundo ele, isso seria "irresponsabilidade".
Apesar de hoje ambos relativizarem seus estudos, em 1998, em artigo no jornal "O Estado de S. Paulo", diziam que a poluição do ar em habitações, escritórios e outros ambientes fechados tem como origem móveis, máquinas e equipamentos, pisos, carpetes, estofados e outros objetos. Diziam que "mais importante que restringir o fumo em ambientes fechados seria o tratamento adequado do ar interno". Segundo Aquino Neto, era importante destacar o risco de outros poluentes desprezados pela população.
Os dois pesquisadores reconhecem que receberam o financiamento da indústria -segundo o trabalho de Stanton Glantz e Joaquin Barnoya sobre o Projeto Latino, eles e Antonio Miguel (ex-professor da USP e hoje diretor de laboratório de análises químicas da Universidade da Califórnia em Los Angeles) receberam em 92 mais de US$ 72 mil para o estudo feito em restaurantes e escritórios.
Ambos negam ter sido consultores e que a indústria tenha interferido na condução dos resultados. "Não acho o dinheiro vindo das tabaqueiras impuro. Só não me deixo conduzir pelo dinheiro para fora do meu comportamento ético", disse Aquino Neto.
Os dois pesquisadores também reconheceram que receberam dinheiro de órgãos do governo brasileiro. Para eles, os trabalhos eram de interesse público. Sobre as críticas a suas pesquisas, Aquino Neto disse: "Cada um pode dizer o que bem entende".
Os trabalhos sobre o Projeto Latino relacionam outros quatro cientistas brasileiros que teriam trabalhado como consultores. Os professores Luiz Fernando de Góes Siqueira, da Faculdade de Saúde Pública da USP, e Luiz Britto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, negam.
Siqueira confirma que participou de evento no Chile, mas diz que quando tentou saber quem fazia parte do corpo científico da indústria não teve resposta e cortou relações com o setor.
A Folha não conseguiu encontrar dois cientistas. Os documentos acessados os citam, mas não com grande frequência. Por isso seus nomes são omitidos.
Antonio Miguel foi procurado nos últimos dez dias. Anteontem, disse que estava de férias no Brasil e que precisaria ler os artigos sobre a ação da indústria para dar uma resposta, o que não ocorreu.
A Associação Brasileira de Imprensa, que em 94 promoveu seminário com a indústria do fumo, não se manifestou sobre o caso.



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