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Estudo não é conclusivo, diz professor
DA REPORTAGEM LOCAL
O coordenador do laboratório
de Apoio ao Desenvolvimento
Tecnológico da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro),
Francisco Aquino Neto, diz que
seus estudos sobre qualidade do
ar interno não são conclusivos, isto é: não é possível dizer que a fumaça do cigarro é um poluidor
importante e faz mal, mas também não é possível dizer a partir
deles que não é prejudicial.
Jari Nóbrega Cardoso, professor da mesma instituição, afirma
que os resultados não podiam ser
"extrapolados". Segundo ele, isso
seria "irresponsabilidade".
Apesar de hoje ambos relativizarem seus estudos, em 1998, em
artigo no jornal "O Estado de S.
Paulo", diziam que a poluição do
ar em habitações, escritórios e outros ambientes fechados tem como origem móveis, máquinas e
equipamentos, pisos, carpetes, estofados e outros objetos. Diziam
que "mais importante que restringir o fumo em ambientes fechados seria o tratamento adequado do ar interno". Segundo
Aquino Neto, era importante destacar o risco de outros poluentes
desprezados pela população.
Os dois pesquisadores reconhecem que receberam o financiamento da indústria -segundo o
trabalho de Stanton Glantz e Joaquin Barnoya sobre o Projeto Latino, eles e Antonio Miguel (ex-professor da USP e hoje diretor de
laboratório de análises químicas
da Universidade da Califórnia em
Los Angeles) receberam em 92
mais de US$ 72 mil para o estudo
feito em restaurantes e escritórios.
Ambos negam ter sido consultores e que a indústria tenha interferido na condução dos resultados. "Não acho o dinheiro vindo
das tabaqueiras impuro. Só não
me deixo conduzir pelo dinheiro
para fora do meu comportamento ético", disse Aquino Neto.
Os dois pesquisadores também
reconheceram que receberam dinheiro de órgãos do governo brasileiro. Para eles, os trabalhos
eram de interesse público. Sobre
as críticas a suas pesquisas, Aquino Neto disse: "Cada um pode dizer o que bem entende".
Os trabalhos sobre o Projeto Latino relacionam outros quatro
cientistas brasileiros que teriam
trabalhado como consultores. Os
professores Luiz Fernando de
Góes Siqueira, da Faculdade de
Saúde Pública da USP, e Luiz Britto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, negam.
Siqueira confirma que participou de evento no Chile, mas diz
que quando tentou saber quem
fazia parte do corpo científico da
indústria não teve resposta e cortou relações com o setor.
A Folha não conseguiu encontrar dois cientistas. Os documentos acessados os citam, mas não
com grande frequência. Por isso
seus nomes são omitidos.
Antonio Miguel foi procurado
nos últimos dez dias. Anteontem,
disse que estava de férias no Brasil
e que precisaria ler os artigos sobre a ação da indústria para dar
uma resposta, o que não ocorreu.
A Associação Brasileira de Imprensa, que em 94 promoveu seminário com a indústria do fumo,
não se manifestou sobre o caso.
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