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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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Bombeiros prestaram homenagem às vítimas, entre as quais Felipe, na cerimônia acompanhada por mais de 500 pessoas

Enterro coletivo causa comoção em Minas

LEONARDO WERNER
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Em clima de revolta, mais de 500 pessoas acompanharam ontem em Belo Horizonte o enterro de 13 das quase quarenta vítimas das chuvas que atingem Minas Gerais desde quinta-feira.
De acordo com a Defesa Civil, a temporada de chuva já causou a morte de 38 pessoas em todo o Estado. Outras 95 ficaram feridas e cerca de 1.200 estão desabrigadas.
No enterro coletivo de ontem, compareceram ao cemitério da Saudade, na periferia da capital mineira, moradores dos bairros Vila Cafezal, onde uma família de quatro pessoas morreu, e Morro das Pedras, onde nove crianças e adolescentes, também de uma só família, perderam a vida. Muitos carregavam placas com os dizeres: "Queremos justiça".
Houve princípio de tumulto no início do sepultamento. As pessoas queriam se aproximar do túmulo onde seriam enterrados os irmãos Felipe, 10, Samuel, 8, e Cleiton, 7.
Cinco soldados do Corpo de Bombeiros fizeram o isolamento do local, para permitir a aproximação dos pais, o lavador de carros Antônio José Laurêncio e Valdezita dos Santos.
O momento de maior emoção aconteceu durante o sepultamento de Felipe, que chegou a ser resgatado com vida após passar quase 15 horas debaixo de lama e escombros, mas morreu anteontem. Houve toque de trombeta em uma homenagem dos bombeiros às vítimas.
Enquanto isso, bombeiros, parentes e amigos choravam muito. Uma mulher chegou a desmaiar. Cláudia Gonçalves e Cláudio Laurêncio, tios dos meninos mortos, tiveram crises nervosas e foram contidos por amigos e parentes.
Os demais filhos e sobrinhos de Laurêncio foram enterrados em duas outras covas. Nas despedidas, o lavador de carros chorava de forma compulsiva. "Vai ficar muita lembrança. Nós éramos amigos, uma família unida. Meus meninos eram educados", disse Laurêncio.
Representantes das localidades atingidas deverão se reunir amanhã com o governador Aécio Neves (PSDB) para discutir medidas de socorro e de prevenção.
Em Minas Gerais, a ocorrência mais grave de ontem em relação às chuvas aconteceu em Juiz de Fora, na Zona da Mata, onde duas crianças morreram soterradas durante a madrugada devido a um deslizamento.

Novas quedas
Uma mulher de 20 anos e suas duas filhas, de 1 e 3 anos, morreram soterradas na madrugada de ontem pela queda de um barranco sobre sua casa, no município de Valença (a 150 km do Rio).
Durante a tempestade, o açude da fazenda Veneza transbordou, abrindo uma cratera de lado a lado na estrada que liga a BR-393 ao distrito de Conservatória.
Em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, o deslizamento de uma casa de alvenaria, também provocado pelas chuvas, seguido de uma explosão de um botijão de gás, às 20h de anteontem, deixou 16 feridos.

Vulnerabilidade
O ministro das Cidades, Olívio Dutra, anunciou ontem que fará um ""mapeamento detalhado" das áreas de risco ocupadas por habitações em todo o país. O objetivo é adotar medidas preventivas contra tragédias como deslizamentos de terras.
Olívio pretende, em parceria com o Ministério da Justiça, regularizar assentamentos urbanos, transferindo as pessoas para locais ""menos vulneráveis a fenômenos meteorológicos".

Colaboraram a AGÊNCIA FOLHA e a SUCURSAL DO RIO


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