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DÉJÀ VU
Casa será reaberta amanhã na galeria Ouro Fino, na rua Augusta, com entrada a R$ 15
Ícone dos anos 80, Rose Bom Bom volta à ativa para unir tribos
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil não tinha eleições diretas para presidente; os meninos brincavam com um boneco
barbudo e hipermásculo, o Falcon; na TV, o palhaço Bozo era a
sensação; o paralamas Herbert
Vianna tinha cabelos crespinhos
e usava óculos. A modelo Monique Evans, ainda não convertida
a uma seita neopentecostal, era a
versão parede de borracharia da
outra modelo, Luiza Brunet.
Foi nesse Brasil paleolítico de
21 anos atrás que surgiu a danceteria Rose Bom Bom. É um pouco desse país que se tentará ressuscitar amanhã, quando o novo Rose reabrir as portas fechadas durante 15 anos.
O local escolhido pelo empresário Angelo Leuzzi para a reestréia é a cobertura da galeria Ouro Fino (rua Augusta, 2.690, Jardins). O endereço, que abriga
110 lojas, é referência para o pessoal que adora moda. Nesse
mundo, "retrô" ou "usado" recebe o nome de "vintage" e vira
chique -ótimo para quem quer
trazer de volta, sem parecer nostálgico, o som de Devo, B-52's,
Clash ou Police (em vinil, que
era o que tocava havia 20 anos; o
CD só explodiria bem depois).
Como da primeira vez, Leuzzi
será o DJ da casa. Ele espera repetir a química que fez do primeiro Rose um ponto de encontro de gente tão diferente quanto
o herdeiro e playboy Chiquinho
Scarpa, João Gordo quando era
apenas o vocalista da banda
punk Ratos de Porão, Monique
Evans ou Renato Russo. "O Rose tinha isso: o punk moicano
comendo ao lado do casal de
black-tie", lembra Leuzzi.
Há 20 anos, o Rose intercalava
o som das picapes com apresentações ao vivo de bandas como
Titãs, Ultrage a Rigor, Plebe Rude, Engenheiros do Hawaii. No
pequeno palco de apenas três
metros de largura por dois de
comprimento, os oito integrantes da formação original dos Titãs se acotovelavam para tocar
"Sonífera Ilha", o primeiro hit.
Eram duas ou três entradas de
meia hora por noite, sempre encerradas com o providencial café da manhã servido para os últimos combatentes, pouco antes
de a danceteria fechar.
Pulava-se do Gallery e do Victoria Pub (mais caros) para os
modernos Radar Tan Tan, Madame Satã, Rose Bom Bom ou
Napalm. Esses últimos eram
destino de universitários depois
das reuniões em que planejavam derrubar o regime.
Hoje, a noite tem programas
cada vez mais segmentados, para ouvir música e dançar, incluindo alguns concorrentes diretos do novo Rose, já que especializados nos anos 80, como
Autobahn (na Vila Madalena) e
Trash 80's (na região central).
"Nos dias de hoje, talvez seja
uma utopia reunir várias tribos
de novo, mas a gente vai tentar",
diz Leuzzi. Quando fechou as
portas, há 15 anos, o Rose recebeu do publicitário José Zaragoza o epitáfio: "O Rose foi Bom."
Ressurrecto, o Rose tem de provar que, no presente, segue bom.
(LAURA CAPRIGLIONE)
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