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RIO
Polícia suspeita de que traficantes utilizem organizações de moradores em suas atividades
Tráfico pode estar usando associações
PEDRO DANTAS
KARINE RODRIGUES
DA SUCURSAL DO RIO
Desde agosto do ano passado,
inquéritos abertos pela Polícia Civil do Rio tentam comprovar uma
suposta ligação entre as associações de moradores e o narcotráfico. A suspeita é a de que traficantes de drogas e armas estejam
usando até 60% das 752 entidades
da região metropolitana para acobertar e intermediar atividades.
Os delegados foram orientados
pelo chefe de Polícia Civil, Álvaro
Lins, para enviar todas as informações sobre o suposto envolvimento de associações com o tráfico de entorpecentes e de armas
para inquéritos centralizados na
Coordenadoria das 36 AISP
(Áreas Integradas de Segurança
Pública), criada para controlar
dados da criminalidade.
Os inquéritos -68 no total-
foram instaurados como uma
reação do governo do Estado ao
Dia de Luta do Povo contra a Violência, manifestação que começou a ser organizada por lideranças comunitárias a partir da morte de Gabriel Barros dos Santos, 6,
atingido por policiais no morro
de São Carlos (centro do Rio).
A morte de Gabriel, em 17 de
agosto, fez com que moradores
incendiassem dois ônibus em
protesto. André Fernandes, criador do movimento Favelania,
propôs então a realização de um
ato conjunto. A data escolhida, 29
de agosto, coincidia com o aniversário de sete anos da chacina de
Vigário Geral, quando 21 foram
mortos por policiais militares. Para o governo, o ato era insuflado
por traficantes. Daí a decisão de
instaurar os inquéritos.
Para o subsecretário da Segurança, coronel Lenine de Freitas, o
tráfico interfere na escolha dos representantes das associações, mas
não de forma generalizada.
"Ele (o traficante) dá o pão, o
barraco e a Justiça e passa a fazer
um poder paralelo. Assim, de forma direta ou indireta, acaba interferindo, em alguns casos, na eleição do presidente das associações", disse o subsecretário.
André Fernandes, um dos investigados pela Polícia Civil, disse
que a relação das associações com
o tráfico "não é uma questão de
conivência, mas de convivência".
"O tráfico faz parte do nosso cotidiano. Obviamente que, se você
não quiser se relacionar, pode
pintar uma pressão", afirmou.
A Associação de Moradores da
Favela Cidade de Deus (zona oeste) é uma das entidades investigadas. Após ser preso, o traficante
Ronald Alves de Almeida, o Edredon, disse que prestava serviços
para a entidade, que intermediaria as doações exigidas pelo tráfico das empresas da região aos
moradores.
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