São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 2001

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RIO

Polícia suspeita de que traficantes utilizem organizações de moradores em suas atividades

Tráfico pode estar usando associações

PEDRO DANTAS
KARINE RODRIGUES


DA SUCURSAL DO RIO

Desde agosto do ano passado, inquéritos abertos pela Polícia Civil do Rio tentam comprovar uma suposta ligação entre as associações de moradores e o narcotráfico. A suspeita é a de que traficantes de drogas e armas estejam usando até 60% das 752 entidades da região metropolitana para acobertar e intermediar atividades.
Os delegados foram orientados pelo chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, para enviar todas as informações sobre o suposto envolvimento de associações com o tráfico de entorpecentes e de armas para inquéritos centralizados na Coordenadoria das 36 AISP (Áreas Integradas de Segurança Pública), criada para controlar dados da criminalidade.
Os inquéritos -68 no total- foram instaurados como uma reação do governo do Estado ao Dia de Luta do Povo contra a Violência, manifestação que começou a ser organizada por lideranças comunitárias a partir da morte de Gabriel Barros dos Santos, 6, atingido por policiais no morro de São Carlos (centro do Rio).
A morte de Gabriel, em 17 de agosto, fez com que moradores incendiassem dois ônibus em protesto. André Fernandes, criador do movimento Favelania, propôs então a realização de um ato conjunto. A data escolhida, 29 de agosto, coincidia com o aniversário de sete anos da chacina de Vigário Geral, quando 21 foram mortos por policiais militares. Para o governo, o ato era insuflado por traficantes. Daí a decisão de instaurar os inquéritos.
Para o subsecretário da Segurança, coronel Lenine de Freitas, o tráfico interfere na escolha dos representantes das associações, mas não de forma generalizada.
"Ele (o traficante) dá o pão, o barraco e a Justiça e passa a fazer um poder paralelo. Assim, de forma direta ou indireta, acaba interferindo, em alguns casos, na eleição do presidente das associações", disse o subsecretário.
André Fernandes, um dos investigados pela Polícia Civil, disse que a relação das associações com o tráfico "não é uma questão de conivência, mas de convivência".
"O tráfico faz parte do nosso cotidiano. Obviamente que, se você não quiser se relacionar, pode pintar uma pressão", afirmou.
A Associação de Moradores da Favela Cidade de Deus (zona oeste) é uma das entidades investigadas. Após ser preso, o traficante Ronald Alves de Almeida, o Edredon, disse que prestava serviços para a entidade, que intermediaria as doações exigidas pelo tráfico das empresas da região aos moradores.


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