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Para empresa,
acordo nem
sempre funciona
DA SUCURSAL DO RIO
Os acordos de convivência
pacífica que as empresas do
Rio têm muitas vezes que fazer
com o tráfico de drogas, conforme revelou a Folha ontem,
nem sempre são suficientes para garantir que elas sobrevivam. Isso fica comprovado no
caso do São Conrado Palace
Hotel (quatro estrelas), que
funcionou de 1987 a 1991 em
frente à favela da Rocinha, em
São Conrado (zona sul).
Fechado há dez anos, o prédio, situado bem em frente ao
largo do Boiadeiro (centro da
maior favela do Rio), é hoje um
esqueleto depredado que deverá ser reformado pela prefeitura para uso como centro de
treinamento profissional.
Carlos César Leite, gerente do
hotel no período que antecedeu o seu fechamento (1990/
1991), disse que a tentativa de
salvar o projeto passou pela negociação de um pacto com traficantes da Rocinha.
Antes disso, o hotel já havia
cedido uma área para funcionamento do barracão (local
onde são feitas as alegorias) da
escola de samba Acadêmicos
da Rocinha, buscando aproximação com a comunidade.
Além de empregar, preferencialmente, mão-de-obra da favela -uma sobrinha do traficante Dênis, morto este ano em
Bangu 1, chegou a fazer parte
da equipe-, Leite atendeu a
um pedido feito pessoalmente
pelo chefe do tráfico, que ele
diz não lembrar o nome. Em
uma visita que o traficante pediu, ele reivindicou a doação de
louças e outros equipamentos
que não servissem mais à empresa. Os objetos eram depois
distribuídos na favela.
Nada disso impediu que, somente em 1990, as vidraças do
hotel fossem atingidas três vezes por balas perdidas. A construção ficava na linha de tiro
das constantes disputas entre
traficantes de facções rivais.
Mas impediu, por exemplo,
que os hóspedes fossem molestados pelos assaltantes que
agiam nas imediações. Uma
vez, uma hóspede vinda de Curitiba foi assaltada por dois menores nas proximidades. O
chefe de segurança do hotel foi
à favela, em nome da boa convivência, e a moça conseguiu
de volta os objetos roubados.
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