São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 2001

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Para empresa, acordo nem sempre funciona

DA SUCURSAL DO RIO

Os acordos de convivência pacífica que as empresas do Rio têm muitas vezes que fazer com o tráfico de drogas, conforme revelou a Folha ontem, nem sempre são suficientes para garantir que elas sobrevivam. Isso fica comprovado no caso do São Conrado Palace Hotel (quatro estrelas), que funcionou de 1987 a 1991 em frente à favela da Rocinha, em São Conrado (zona sul).
Fechado há dez anos, o prédio, situado bem em frente ao largo do Boiadeiro (centro da maior favela do Rio), é hoje um esqueleto depredado que deverá ser reformado pela prefeitura para uso como centro de treinamento profissional.
Carlos César Leite, gerente do hotel no período que antecedeu o seu fechamento (1990/ 1991), disse que a tentativa de salvar o projeto passou pela negociação de um pacto com traficantes da Rocinha.
Antes disso, o hotel já havia cedido uma área para funcionamento do barracão (local onde são feitas as alegorias) da escola de samba Acadêmicos da Rocinha, buscando aproximação com a comunidade.
Além de empregar, preferencialmente, mão-de-obra da favela -uma sobrinha do traficante Dênis, morto este ano em Bangu 1, chegou a fazer parte da equipe-, Leite atendeu a um pedido feito pessoalmente pelo chefe do tráfico, que ele diz não lembrar o nome. Em uma visita que o traficante pediu, ele reivindicou a doação de louças e outros equipamentos que não servissem mais à empresa. Os objetos eram depois distribuídos na favela.
Nada disso impediu que, somente em 1990, as vidraças do hotel fossem atingidas três vezes por balas perdidas. A construção ficava na linha de tiro das constantes disputas entre traficantes de facções rivais.
Mas impediu, por exemplo, que os hóspedes fossem molestados pelos assaltantes que agiam nas imediações. Uma vez, uma hóspede vinda de Curitiba foi assaltada por dois menores nas proximidades. O chefe de segurança do hotel foi à favela, em nome da boa convivência, e a moça conseguiu de volta os objetos roubados.


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