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OPINIÃO
'Judeufobia' de uma negra
JACOB PINHEIRO GOLDBERG
Marilene Felinto escreveu uma
crônica na Folha, anteontem, a
pretexto do filme ""Amistad" -
outra vez, de maneira agressiva,
dando seu recado anti-semita, fruto, parece, de um problemático
complexo de inferioridade. O deboche começa no título, em que
usa "caramba' ' para qualificar o
pênis avacalhado, ao qual se reporta no fim do texto quando fala
do pênis grande dos negros, fantasia recorrente da homossexualidade não assumida, em plenitude.
Arrola, de maneira confusa e angustiada, argumentos anti-semitas, pobres no conteúdo e criminosos na finalidade.
1) Diz que judeus e negros são
inimigos, porque judeus são milionários e negros são pobres. Impossível luta comum contra o racismo. Imitação do ódio de Farrakhan, arauto do "lúmpen" negro
norte-americano, sempre pronto
a extorquir dinheiro das organizações liberais judaicas. Sugere que
Steven Spielberg, em vez de gastar
US$ 70 milhões no filme, deveria
reservar a esmola aos negros.
Embora não considere Spielberg
o melhor tradutor da indignação
diante do morticínio nazista (prefiro o clássico "Shoah" ), "Amistad" ajuda a resgatar a negritude
diante do racismo branco. Marilene, aparentando a inveja da fracassada, insiste nos chavões do
"dinheiro judeu", "controle judeu sobre a mídia" (mas é ela que
tem a coluna na Folha para projetar seus minúsculos sentimentos).
Aliás, são ditadores negros, ladrões e corruptos que, da África,
depositam milhões de dólares roubados de seus povos na Suíça...
Lembro a frase paradigmática de
Engels: "O anti-semitismo é o socialismo dos tolos".
2) Diz que a raça (concepção anticientífica) judia é endogâmica. O
genro do presidente e o companheiro de Xuxa desmentem a bobagem, sustentada por fanáticos
de cá e de lá. O medo retorna à
contração, ao gueto físico e espiritual. A lição do passado ilustra. José e Moisés casaram-se com mulheres que não eram do povo de
Israel. A figura feminina mais impressionante da Bíblia é Rute, a
moabita, bisavó do rei Davi.
Na grande jornada histórica, o
futuro da Anunciação teológica
passa pelo amálgama com os povos do mundo, o ímpeto messiânico. Ao contrário do que prega a
tradição posterior, a base do judaísmo autêntico é o casamento
misto. A importância do laço sanguíneo (matrilinhagem) para
identificar o judeu é racista, étnica. O judaísmo de Buber e Spinoza
(linhagem moseísta) é ético, não
étnico; depende só da opção espiritual. A identidade se faz pela escolha. É judeu quem se crê judeu.
Registro o verso lapidar de Gilberto Gil, este, sim, negro humanista: "Bob Marley morreu porque além de negro era judeu". Em
Israel, judeus negros da Etiópia, os
"falashas", compõem o esforço
de alteridade que uniu um dia o rei
Salomão e a rainha de Sabá.
E, ainda que para desgosto de
Marilene, cito, de meu livro "A
Discriminação Racial e a Lei Brasileira", a apresentação de Eduardo
de Oliveira, da Casa da Cultura
Afro-Brasileira: "Frente à mesa
eucarística da comunhão de todos
os povos e todas as raças, todos e
cada criatura encontrem sobejas
razões para viver em paz, sob o
signo do amor e da fraternidade".
Jacob Pinheiro Goldberg é doutor em psicologia pela Universidade Mackenzie, advogado e
assistente social. E-mail: goldberg@uol.com.br
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