São Paulo, quinta, 19 de fevereiro de 1998

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Juiz proíbe preso de ir à faculdade

MARIANA SGARIONI
da Agência Folha

O detento Enaldo Campelo, 24, passou em nono lugar para o curso de história no vestibular da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru (PE), mas teve o acesso às aulas impedido.
O juiz Mauro Alencar de Barros -o mesmo que autorizou a participação de Campelo no vestibular e também sua matrícula no curso de história- foi quem negou a permissão para assistir às aulas. Até as 18h de ontem, Barros não tinha sido localizado pela reportagem da Agência Folha.
"A autorização que o juiz concedeu para o vestibular foi no ano passado, enquanto Campelo ainda cursava o supletivo. Ele não esperava uma aprovação", afirmou Guilherme Azevedo, gerente da Penitenciária de Caruaru, onde Campelo cumpre pena.
"Mas, depois da autorização para a matrícula, ficou implícito que ele poderia frequentar o curso. Ninguém esperava essa atitude", disse Azevedo.
Segundo ele, a decisão de Barros provocou, entre os próprios presos, a discussão sobre o papel do sistema penitenciário no Brasil. "Os detentos devem ser ressocializados. Com o exemplo de Campelo, muitos se animaram a voltar a estudar."
Bom comportamento
Para a gerência da penitenciária, Campelo tem um excelente comportamento. Ele trabalha na cadeia como auxiliar de enfermagem, professor de computação, auxiliar de escritório e está disposto a dar aulas de supletivo aos colegas.
"Ainda tenho esperanças de poder frequentar a faculdade", disse o preso, que, no ano passado, prestou vestibular para odontologia, mas não passou. "Fiquei em 98º lugar, mas só havia 40 vagas", disse.
Campelo está preso há cinco anos, condenado a 16 anos de detenção por tentativa de latrocínio (roubo seguido de morte).
Segundo Azevedo, a pena está sendo revista no Supremo Tribunal de Justiça em Brasília, já que a vítima de Campelo não morreu. "Caso a pena seja revista, ele pode ser solto a qualquer momento."



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