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EDUCAÇÃO
Parecer da Previdência justifica desvio de dinheiro do Fundef por prefeitos baianos; MEC se opõe
Verba escolar paga dívida do INSS
DANIELA FALCÃO
SÍLVIA MUGNATTO
da Sucursal de Brasília
Municípios baianos em débito
com a Previdência Social utilizam
recursos do Fundef (fundo de valorização do magistério) para pagar parte da dívida com o INSS.
A manobra é criticada pelos ministérios da Saúde e da Educação,
mas conta com aval do Tribunal
de Contas dos Municípios (TCM)
da Bahia e do Ministério da Previdência Social.
A estratégia dos prefeitos baianos abre precedente perigoso
porque, se for seguida por outros
municípios, pode comprometer o
sucesso do Fundef, já que parte do
fundo que deveria ser usada para
pagar salários dos professores poderá ser desviada para quitar débito previdenciário da categoria.
Parecer
O diretor do Departamento dos
Regimes de Previdência do Setor
Público, Delúbio Silva, não faz objeção à iniciativa.
Os administradores afirmam
ter baseado a decisão em parecer
jurídico elaborado pela Previdência que autoriza a transferência
dos recursos do Fundef para o pagamento de contribuições previdenciárias que incidem sobre a
remuneração dos professores.
"Não estamos fazendo nada ilegal. Temos um parecer favorável
da Previdência e outro do TCM
da Bahia", disse Emmerson Leal,
presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB).
O ministro da Educação, Paulo
Renato Souza, pretendia fazer ontem pronunciamento de três minutos, em cadeia nacional, convocando a população a fiscalizar a
aplicação dos recursos do Fundef.
Além de autorizar o uso de verba do fundo, o parecer da Previdência também avaliza que recursos do PAB (Piso de Assistência
Básica) sejam usados para pagar
dívidas com o INSS.
Para o secretário-executivo do
Ministério da Saúde, Barjas Negri,
a orientação do Ministério da Previdência "não faz sentido".
"O Fundef e o PAB são os dois
principais programas para melhorar os serviços básicos de educação e saúde, e os recursos não
podem ser usados para pagar dívida previdenciária", reclamou.
Segundo Barjas, os municípios
que usaram o dinheiro do PAB
para pagar débitos com o INSS
poderão ser punidos.
"O PAB não foi feito para pagar
profissionais da saúde, porque
seu objetivo é melhorar a qualidade da assistência básica. Estados e
municípios só podem usar recursos do PAB para pagar pessoal em
casos excepcionais, para expandir
o quadro. Logo, as verbas jamais
poderiam ser usadas para pagar
dívidas com o INSS", disse.
Delúbio Silva afirmou que os
municípios brasileiros devem R$
9,5 bilhões à Previdência. O Fundef movimentará neste ano R$ 16
bilhões, incluindo a contribuição
de Estados, municípios e União.
Segundo Emmerson Leal, da
UPB, as prefeituras decidiram
usar os recursos que deveriam ser
aplicados no ensino fundamental
para pagar parte das dívidas porque parcelas do Fundo de Participação dos Municípios -a cota
dos impostos federais que é distribuída para as cidades- estava
sendo retida pela União para abater a dívida com o INSS.
Apesar de prefeitos baianos terem adotado a medida, o presidente da Undime (União dos Dirigentes Municipais da Educação), Neroalto Pontes de Azevedo, é contra o uso de recursos
educacionais para o fim dado por
esses governantes.
"Não acho a medida legítima,
mesmo que eles só usem as verbas
do Fundef para pagar débitos referentes aos professores, porque
sobrará menos dinheiro para ser
investido na melhoria do ensino.
Se usarem para pagar outros funcionários, aí é o mesmo que rasgar a Constituição", afirmou.
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