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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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Presidente do tribunal diz, em Presidente Prudente, que o anúncio da "falência" do PCC, em 2002, foi apressado

TJ vê precipitação em atos do governo de SP

Carolina Costa/"O Imparcial"
À frente, Sérgio Augusto Nigro Conceição, presidente do TJ de SP, no Fórum de Presidente Prudente


EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE PRUDENTE

O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Sérgio Augusto Nigro Conceição, criticou ontem em Presidente Prudente (SP) a "precipitação" do Palácio dos Bandeirantes de ter anunciado, no fim de 2002, a "falência" do PCC (Primeiro Comando da Capital) e de outros grupos criminosos dos presídios paulistas.
Segundo o magistrado, as políticas de segurança nos fóruns do Estado e as escoltas aos juízes não foram intensificadas devido à declaração do governo paulista. "A informação que se tinha era que tudo tinha sido desmobilizado e que essas facções já não sobreviviam", disse, em entrevista no fórum de Presidente Prudente, após ter falado a cerca de 50 juízes.
O desembargador referia-se à declaração do diretor do Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado), Godofredo Bittencourt, em novembro passado, por ocasião do depoimento do ex-líder do PCC José Márcio Felício, o Geleião, no qual ele revelava detalhes de funcionamento da organização.

A frase
Na época, Bittencourt afirmou que "o PCC é uma organização falida e desmantelada". "Presos do PCC choraram aqui porque estavam próximos de receber uma progressão da pena e vão ficar mais alguns anos na cadeia. Se o PCC tinha uma boca cheia de dentes, agora tem um dentinho ali e outro lá. Não morde mais ninguém", afirmou.
Questionado se o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) se precipitou ao afirmar que as facções criminosas estavam dominadas, Nigro Conceição disse: "Como seria precipitado dizer agora que foi o crime organizado que executou o [juiz-corregedor] Machado".
O presidente do Tribunal de Justiça também não poupou críticas ao rodízio de presos no Estado. "Se eventualmente há um grupo organizado em uma determinada cadeia, esse grupo está sendo disseminado para outros presídios", disse o desembargador.
Nigro Conceição anunciou que serão mantidos na capital por tempo indeterminado os casos envolvendo execuções criminais da região de Presidente Prudente. Prometeu cobrar do governo do Estado a instalação de bloqueadores de celular nos presídios e detectores de metal nos fóruns.

Outro lado
A Secretaria da Segurança Pública de SP negou, por meio de assessoria, que o governo tenha declarado o fim do PCC e das ações contra os grupos criminosos ou que o assassinato do juiz-corregedor esteja ligado a alguma facção.
Em novembro passado, na versão dos assessores do secretário Saulo de Castro Abreu Filho, o Deic e o Ministério Público anunciaram que o PCC estava falido e desestruturado, mas que não havia sido extinguido.
Quanto ao assassinato do juiz de Presidente Prudente, nenhuma das linhas de investigação foi descartada, afirma a assessoria. O envolvimento do PCC está sendo pesquisado, mas a facção não é a única ou a principal suspeita.
A única manifestação do secretário da Segurança Pública sobre a investigação teria sido a de que o envolvimento do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, no crime era pouco provável.

Colaborou a Reportagem Local

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