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SEGURANÇA
Criminosos aproveitam experiência de ex-integrantes das Forças Armadas, que chegam a assumir comando de morros no Rio
Processos mostram ajuda de militar a facção
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Nos últimos cinco anos, ao menos 45 militares e ex-militares de
baixa patente foram condenados,
denunciados ou citados em processos da Justiça Militar por envolvimento em roubos ou extravios de armas e munições em
quartéis no Rio de Janeiro.
A maioria do armamento foi
parar com traficantes, segundo os
autos. Desde 2000, 211 armas foram roubadas de quartéis no Rio.
O envolvimento entre militares
e ex-militares com o tráfico não se
resume apenas a desvio de armas
ou auxílio à invasão a unidades.
Integrantes ou ex-integrantes
das Forças Armadas pertencem à
quadrilhas de criminosos. Um ex-pára-quedista e um ex-fuzileiro
naval são chefes de dois morros.
Outros trabalham como armeiros
ou ensinam técnicas de guerrilha
aos traficantes.
Antes da prisão de dois ex-militares acusados do roubo de dez
fuzis e uma pistola do Estabelecimento Central de Transportes do
Exército, no último dia 3, a investigação mais recente aponta o envolvimento de quatro soldados
do Exército com o roubo de um
fuzil do Depósito de Suprimentos
no Rocha (zona norte), em dezembro do ano passado. A arma
foi entregue a traficantes da Vila
dos Pinheiros, no complexo da
Maré (na mesma zona norte).
O fuzil só foi recuperado depois
que o Exército ocupou a comunidade. Segundo os autos, os suspeitos facilitaram a entrada dos
criminosos no quartel para roubar a arma. Todos estão presos.
Outro caso que ainda não está
concluído é o roubo de 22 fuzis do
Depósito de Aeronáutica, em
maio de 2004. O Inquérito Policial
Militar (IPM) revela que um soldado e dois ex-soldados, que serviam ou serviram na unidade, são
os principais suspeitos da ação.
Eles não estão presos.
A investigação indica que eles
teriam vendido as armas para traficantes do morro do Dendê, na
Ilha do Governador (zona norte),
e para grupos de assaltantes cariocas que roubaram bancos e carros-fortes no Nordeste. Um dos
fuzis foi apreendido em Recife.
Um marinheiro foi condenado
no ano passado a três anos e sete
meses de prisão por ter roubado
um fuzil da Policlínica Naval da
Nossa Senhora da Glória para
vendê-lo a traficantes. A negociação aconteceria para pagar dívidas contraídas pelo irmão dele
com os criminosos.
Em julho de 2004, um soldado
do Exército furtou um fuzil do Batalhão de Escola de Engenharia da
corporação. A arma, segundo investigações, foi entregue ao traficante Patrick Henrique Chimenes, da favela de Antares, em Santa Cruz (zona oeste).
Nesse mesmo ano, um sargento
e um cabo foram detidos sob acusação de roubar armamentos do
acervo do Espaço Histórico do
Batalhão de Infantaria Motorizado. Ainda em 2004, dois outros
soldados do Exército roubaram
três fuzis do Museu Histórico da
corporação, no forte de Copacabana (zona sul). As armas foram
levadas para o morro do Vidigal
(zona sul) e, após operações do
Exército na favela, os traficantes
decidiram entregá-las.
Quatro militares respondem
pelo sumiço de cinco pistolas, cinco fuzis e cinco granadas em 2001
do Parque Material Bélico da Aeronáutica, na Ilha do Governador
(zona norte).
Chefões
Muitos militares que são dispensados das Forças Armadas
após cumprirem de sete a nove
anos de serviço são cooptados pelo tráfico, já que não conseguem
encontrar emprego.
Alguns viram chefes, como é o
caso de Evanílson Marques da Silva, o Dão, um ex-fuzileiro naval
que atualmente controla a venda
de drogas no morro da Providência (zona central carioca) e que é
um dos principais líderes da facção criminosa CV (Comando
Vermelho). Ele abandonou a Marinha no ano de 2002.
Outro chefe do tráfico no Rio de
Janeiro oriundo das Forças Armadas é Cláudio da Conceição, o
Claudinho, que controla o morro
da Casa Branca, na Tijuca, na zona norte carioca, há vários anos.
Conceição integrava a brigada pára-quedista do Exército.
Devido aos seus conhecimentos
com técnicas de guerrilha, ex-militares acabam sendo úteis para
traficantes, que usam seus ensinamentos para invadir áreas inimigas e atacar a polícia.
Em novembro, a polícia apreendeu no complexo de favelas da
Maré (zona norte) um manual de
guerrilha com dicas para invasão
a favelas e ataques na cidade. Ele
foi elaborado por um ex-soldado
que serviu no Batalhão de Guardas do Exército e foi morto em tiroteio com a polícia.
Seis meses antes, foi encontrado
no morro da Fazendinha, no
complexo de favelas do Alemão
(zona norte), um croqui que traçava planos para explodir o Caveirão, veículo blindado usado
pelo Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar.
O manual também foi elaborado
por um ex-soldado pára-quedista, que já morreu.
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