São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2000


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BATALHA NA PAULISTA/PÚBLICO
Comércio fechou as portas, camelôs saíram correndo; crianças assistiram ao conflito
Confronto deixa pedestres em pânico

Caio Guatelli/Folha Imagem
Estudante leva as mãos a cabeça durante passagem dos PMs


DA REPORTAGEM LOCAL

O confronto entre policiais e manifestantes levou pedestres e comerciantes ao pânico na avenida Paulista. Restaurantes fecharam as portas, clientes ficaram presos em bancos, camelôs saíram correndo.
O vendedor de bijuteria Danilo Menezes, 35, chegou a esquecer parte da mercadoria. "Foi bomba para tudo quanto é lado. Quando estava em uma rua lá em baixo é que percebi: tinha esquecido uma bolsa. Por sorte, voltei e ela estava no mesmo lugar."
O vigilante Sidney Monteiro Santos, 29, fechou o portão que dá acesso ao banco Santander com medo de assaltos. "É muita gente, um vaivém, você nunca sabe se alguém vai aproveitar para roubar", afirmou.
O Masp (Museu de Arte de São Paulo) interrompeu suas atividades por volta das 15h, três horas antes do previsto. "Eles tentavam entrar aqui para fugir da polícia, mas já estava tudo fechado", disse Milton Carvalho Silva, 45, funcionário do museu.
O turista Nelson Hartmann, 48, foi um dos que não conseguiram visitar o Masp. Vindo do Maranhão, ele disse estar assustado com a violência da polícia paulista. "Eles estavam batendo em estudante e professor, gente que só usa livro e caneta como arma."
Equipado com uma máquina fotográfica, Hartmann saiu correndo sem registrar o confronto. Por volta das 17h, voltou ao "campo de batalha" para tirar suas fotos. "Vou levar essa péssima recordação. Parecia uma guerra. Era gente correndo, tentando se esconder, outros jogando pedra. E a polícia em cima de todo mundo", afirmou.
O perfil dos manifestantes também chamou a atenção do dogueiro Hélio Gomes da Silva, 32.
"A maioria era senhora. Elas ficavam pedindo ajuda para pular o muro", disse, em referência a uma construção de quase dois metros ao lado do Masp.
As pessoas que vieram do interior do Estado ficaram ainda mais assustadas com o confronto.
Professores de Sertãozinho (330 km de São Paulo) anteciparam a viagem de volta. Às 17h, quando os grevistas ainda caminhavam pela rua da Consolação, eles já haviam desistido da manifestação.
"Viemos participar de um ato pacífico. Nunca poderíamos imaginar isso", disse a professora do ensino médio Janete de Araújo Silva Melo, 34, que, durante a manifestação, foi atingida na perna esquerda por uma bomba.
"Fui pisoteada. Estamos com gente machucada e crianças apavoradas. A gente já havia recuado, mas a polícia continuou jogando bomba", afirmou.
No grupo de Janete também estava a professora Sandra Regina Santana de Oliveira, 39, acompanhada do filho, Maciel, 14. "Queria mostrar para ele as nossas reivindicações, a nossa realidade, mas não essa violência."
Outro manifestante do interior que também havia levado o filho por não imaginar a possibilidade de confronto foi o eletricista Antonio Souza Carvalho, 45.
Vindo de Hortolândia, Rafael Carvalho, 14, disse que também queria protestar contra a má qualidade do ensino. "Meu pai me ensina a brigar pelo meu direito que é a escola."
O estudante Elias de Almeida, 20, presidente da União Municipal dos Estudantes de Itaquaquecetuba, machucou-se na perna com o estilhaço de uma bomba.
Ele disse que ajudou a organizar piquetes nas escolas da cidade e, com isso, conseguiu reunir 350 alunos no protesto.
Ao lado dele, a professora Nara Silva, 56, de Araras, se dizia revoltada com o governador Mário Covas. "A polícia bateu como se nós fossemos bandidos."



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