São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2000


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SAÚDE
Instituto é fechado pela Vigilância depois que 5 pessoas morreram supostamente por terem recebido sangue errado
Hemocentro de Recife sofre interdição

FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O Ihene (Instituto de Hemoterapia do Nordeste), de Recife, foi interditado anteontem à noite pela Vigilância Sanitária de Pernambuco e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Cinco pessoas podem ter morrido em consequência de transfusões feitas com sangue supostamente incompatível que teria sido fornecido pelo instituto.
Entre 28 de dezembro e 29 de janeiro, 51 transfusões em 30 pacientes foram feitas com sangue de tipagem errada.
As transfusões ocorreram em hospitais da região metropolitana de Recife. Os pacientes receberam transfusões com tipo sanguíneo diferente do que precisavam.
O secretário estadual da Saúde, Guilherme Robalinho, disse que "ainda é cedo" para afirmar que as mortes foram provocadas pelas transfusões.
"Temos de ver que esses pacientes estavam doentes e podem ter morrido em consequência dessas doenças."
Uma equipe de médicos e hematologistas (especialistas em sangue) será formada para investigar se há relação entre as mortes e as transfusões -entendidas como irregulares pela Vigilância Sanitária.
Ao decidir interditar o Ihene, a agência nacional, ligada ao Ministério da Saúde, concluiu que o instituto tinha "total descontrole do processo produtivo de sangue e de hemocomponentes".
As transfusões de maior risco foram feitas entre doadores A positivo e pacientes A negativo e entre um doador AB negativo e um paciente O positivo.
De acordo com o relatório da Vigilância, quando um paciente O positivo recebe sangue de um doador AB negativo, as reações vão de distúrbio de coagulação e insuficiência renal até a morte.
No mesmo relatório, a Vigilância Sanitária do Estado informa que a doação de sangue A positivo para paciente A negativo resulta em aloimunização (perda da imunidade). Um dos pacientes mortos se enquadrava nesse caso.
A hematologista do Hemope (Hemocentro de Pernambuco) Silvana Carneiro Leão disse que, dependendo do tipo de troca de sangue, as reações podem ser leves ou graves.
Segundo Silvana, o organismo do paciente pode passar por um processo de destruição das hemácias dentro ou fora dos vasos sanguíneos. As hemácias são responsáveis pela oxigenação do organismo.

Troca de rótulos
Jaime Brito, diretor da Vigilância Sanitária de Pernambuco, informou que há evidências de que teria havido troca nos rótulos de bolsas de sangue do Ihene.
As investigações, que ocorreram de 13 de março ao início desta semana, começaram após a ocorrência de telefonemas anônimos feitos para a Vigilância Sanitária, informando que seria costumeiro no Ihene fazer as substituições dos rótulos das bolsas de sangue coletado.
O secretário Guilherme Robalinho disse que a interdição do instituto não vai prejudicar as transfusões no Estado. "É raro estarmos com estoque zerado. Há reserva técnica e estratégica para cobrir a demanda", garantiu.



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