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ESTIVE LÁ
Invasão atrai engajados e curiosos
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Durou menos de uma hora,
mas foi proveitosa a visita da
Folha à reitoria da USP, tomada há 16 dias pelos estudantes.
Fora da reitoria, fogueira e
violão; pequenos grupos de alunos sentados na grama se aquecem no calor do debate, em
conversas de onde escapam palavras como "condução", "discurso", "sociedade civil".
Na entrada do prédio, uma
tenda amarela estilo canteiro
de obras funciona como toldo.
Ali embaixo há uma espécie de
"corredor polonês do bem", onde grevistas sentados em cadeiras zelam para que apenas alunos ingressem no prédio.
Hora de entrar. Um, dois e...
A Folha vai bem até o último
manifestante postado no corredor; ele solicita a carteirinha
de estudante. A foto do verdadeiro aluno é ocultada com o
dedão. Ninguém nota nada. A
sensação é parecida à de uma
das crianças premiadas para visitar a fantástica fábrica de
chocolates Wonka.
Logo no corredor de entrada,
mais grupos de "chineludos"
tocam violão aqui e ali. Para
onde quer que se olhe, há faixas
convocando para debates.
Mais para dentro está o principal evento: a assembléia. Ali,
alunos sentados em círculo fazem o que eles chamam de
"saudação", ou o momento de
colocar questões relevantes.
Paira uma atmosfera vintage
sobre aqueles gorros de tricô
furado, paletós do papai, calças
quadriculadas, puídas, bolsas a
tiracolo, sandálias havaianas,
dreadlocks, bermudões.
Naquele momento, uma garota faz um aparte com voz alta
e firme: "...Acho que é o momento de abrir a discussão para a sociedade, fazer panfletagem, levantar um fundo de greve, e, para isso, é importante
que todos nós tenhamos informação sobre o conteúdo político da mobilização, tá ligado?"
"É preciso ver como a gente
vai colocar a questão da defesa
para quem classificou a paralisação como vandalismo..."
Uma outra, mais jovem, vestindo sapato boneca, saia de
florzinha e blusa de babado,
passa com uma amiga que usa
vestido estilo "maria-mijona"
largão e casaco tipo da vovó
meio furado. "Pô, mó legal a assembléia", diz a primeira.
De repente, uma manifestante diz bem alto: "Atenção,
gente, tenho aqui a informação
de que há um repórter da Folha entre nós..." Silêncio.
"Será que ele vai se apresentar espontaneamente?"
Silêncio. Todos se olham. Minutos depois, um rapaz louro
com cabelo black power chega
perto e pergunta:
"Você é repórter?", e pede a
carteirinha de estudante. A reportagem diz que já a apresentou na entrada. "Qual o seu curso? Dá para mostrar de novo a
carteirinha", perguntam.
Não, não dá, sob o risco de
comprometer o colega que a
emprestou. Fim da visita.
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