São Paulo, sábado, 19 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESTIVE LÁ

Invasão atrai engajados e curiosos

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Durou menos de uma hora, mas foi proveitosa a visita da Folha à reitoria da USP, tomada há 16 dias pelos estudantes.
Fora da reitoria, fogueira e violão; pequenos grupos de alunos sentados na grama se aquecem no calor do debate, em conversas de onde escapam palavras como "condução", "discurso", "sociedade civil".
Na entrada do prédio, uma tenda amarela estilo canteiro de obras funciona como toldo. Ali embaixo há uma espécie de "corredor polonês do bem", onde grevistas sentados em cadeiras zelam para que apenas alunos ingressem no prédio.
Hora de entrar. Um, dois e... A Folha vai bem até o último manifestante postado no corredor; ele solicita a carteirinha de estudante. A foto do verdadeiro aluno é ocultada com o dedão. Ninguém nota nada. A sensação é parecida à de uma das crianças premiadas para visitar a fantástica fábrica de chocolates Wonka.
Logo no corredor de entrada, mais grupos de "chineludos" tocam violão aqui e ali. Para onde quer que se olhe, há faixas convocando para debates.
Mais para dentro está o principal evento: a assembléia. Ali, alunos sentados em círculo fazem o que eles chamam de "saudação", ou o momento de colocar questões relevantes.
Paira uma atmosfera vintage sobre aqueles gorros de tricô furado, paletós do papai, calças quadriculadas, puídas, bolsas a tiracolo, sandálias havaianas, dreadlocks, bermudões.
Naquele momento, uma garota faz um aparte com voz alta e firme: "...Acho que é o momento de abrir a discussão para a sociedade, fazer panfletagem, levantar um fundo de greve, e, para isso, é importante que todos nós tenhamos informação sobre o conteúdo político da mobilização, tá ligado?"
"É preciso ver como a gente vai colocar a questão da defesa para quem classificou a paralisação como vandalismo..."
Uma outra, mais jovem, vestindo sapato boneca, saia de florzinha e blusa de babado, passa com uma amiga que usa vestido estilo "maria-mijona" largão e casaco tipo da vovó meio furado. "Pô, mó legal a assembléia", diz a primeira.
De repente, uma manifestante diz bem alto: "Atenção, gente, tenho aqui a informação de que há um repórter da Folha entre nós..." Silêncio.
"Será que ele vai se apresentar espontaneamente?"
Silêncio. Todos se olham. Minutos depois, um rapaz louro com cabelo black power chega perto e pergunta:
"Você é repórter?", e pede a carteirinha de estudante. A reportagem diz que já a apresentou na entrada. "Qual o seu curso? Dá para mostrar de novo a carteirinha", perguntam.
Não, não dá, sob o risco de comprometer o colega que a emprestou. Fim da visita.


Texto Anterior: PM negocia na 2ª a desocupação da USP
Próximo Texto: A favor da invasão: É um movimento em defesa da universidade, afirma sociólogo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.