São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

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LEI
Teste com 173 pessoas verifica que 52% estavam com teor alcoólico acima do permitido pelo código de trânsito
Jovem desrespeita limite de álcool para dirigir

Antonio Gaudério/Folha Imagem
A estudante S., 16, na praça Vilaboim (região central de SP), diz ter sorte e afirma nunca ter sido apanhada pelo bafômetro


GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial

RENATO KRAUSZ
da Reportagem Local

Os limites de ingestão de álcool, determinados pelo código de trânsito, não são respeitados, especialmente pelos jovens.
Uma bateria de testes feita no último dia 13 de março com 173 jovens na região de bares da Vila Madalena e da avenida Faria Lima, em São Paulo, constatou que 52% deles estavam com teor alcoólico superior ao permitido por lei -0,6 grama de álcool por litro de sangue.
Pior: mais de 30% dos jovens que aceitaram submeter-se ao teste voltariam para casa dirigindo.
Os testes, realizados pelo Hospital Albert Einstein e pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), voltaram a ser feitos em outros dois dias e os resultados novamente revelaram desrespeito aos limites da lei.
"Havia muito desinformação", afirma Ana Cecília Fortes, coordenadora do Programa de Prevenção de Drogas, do Hospital Albert Einstein.
O pesquisador responsável pela coleta de dados do Einstein, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Unifesp, alerta para o perigo da combinação de jovens e álcool.
"É um período de testar os limites, de correr riscos. O álcool potencializa esses riscos", analisa.
Cerca de 35% dos acidentes de trânsito com vítimas que ocorrem no Brasil são causados pelo álcool, segundo estimativa da Abramet (Associação Brasileira de Acidentes e Medicina de Tráfego).
"Nenhuma droga provoca tanta ameaça pública como o álcool", afirma o diretor do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, Elisaldo Carlini.
Uma pesquisa da Abdetran (Associação Brasileira dos Departamentos Estaduais de Trânsito), feita entre agosto e setembro do ano passado com 1.114 vítimas de acidentes de tráfego em quatro grandes cidades brasileiras -Brasília, Salvador, Curitiba e Recife-, encontrou álcool no sangue em 61% dos acidentados.
Os acidentes predominantes foram as colisões (33,2%) e os atropelamentos (26,7%). Entre os atropelados, 56,2% estavam alcoolizados, o que permite supor que mesmo voltar a pé para casa pode ser perigoso. Melhor seria beber menos.
"O que mais nos preocupou foram os dados relativos aos jovens. A pesquisa mostra que adolescentes de 13 anos já têm uma vida noturna ativa, estão dirigindo e causando ou sofrendo acidentes", diz o presidente da Abdetran, Antônio Carlos de Carvalho.
De acordo com a pesquisa, 52,8% dos acidentados com menos de 20 anos estavam sob efeito da bebida.
A influência do álcool nos acidentes também é comprovada pela grande concentração dos desastres nos fins-de-semana: 43,3% dos casos estudados na pesquisa ocorreram nos sábados e domingos, quando o consumo de bebida é maior. A quinta-feira aparece em terceiro lugar, com 15,1% dos acidentes.
Outra pesquisa, feita no final do ano passado pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia em regiões de bares em toda cidade de São Paulo, também comprovou o hábito brasileiro de dirigir após beber.
Foram entrevistadas 1.986 pessoas que estavam com álcool à mesa e 49,35% delas disseram que voltariam para casa guiando.
Dos entrevistados, 83,73% admitiram que já pegaram o carro após beber e 28% disseram que conseguem tomar mais de cinco latas de cerveja sem que isso atrapalhe dirigir. Detalhe: para um adulto de 70 kg, o limite de 0,6 g/l é obtido com quatro copos.



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