São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

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OPINIÃO
Solução para a seca do Nordeste

PAULO PLANET BUARQUE

Embora possa, a princípio, parecer ato de loucura ou solução absurda, resolver definitivamente o problema da seca -e não apenas o fenômeno, mas igualmente o desenvolvimento do Nordeste- impõe iniciativa compatível com esse imenso flagelo.
Se em tempos que já se inscrevem como parte da história do mundo houve quem sonhasse com soluções que chocaram os de então, agora, por certo, essa idéia causará o mesmo espanto.
Trata-se, contudo, de obra perfeitamente factível, de fácil execução em face da altíssima tecnologia do mundo contemporâneo. Melhor: sem custo para os já comprometidos cofres públicos, significando a redenção daquela parte do Brasil e solução para muitos dos seus problemas, além de mitigar o solo e aquelas populações com água em abundância.
Construir um canal navegável, de proporções, ligando o Amazonas ao São Francisco.
São mil quilômetros, sem intervenções naturais consideráveis, que transformariam toda a região, como sucedeu com o canal de Suez ou com o canal do Panamá, para cuja construção se exigiram imensos recursos em face das dificuldades, inclusive das áreas onde foram construídos.
Bastaria que se fizesse uma licitação internacional, fazendo interessar empresas de todo o mundo, oferecendo como contrapartida, digamos, dez quilômetros das margens àquelas empreiteiras que se propusessem a erguer cem quilômetros desse canal. Seriam dez empresas tão-somente, 20, se o objetivo fosse conceder 50 quilômetros por obra.
Nenhum custo para o governo senão, eventualmente, a desapropriação dessas áreas hoje sem nenhum valor devido precisamente à inexistência de água.
Utopia? Simplesmente um sonho megalópico? Ou realmente uma arrojada solução, mas perfeitamente compatível com as imediatas necessidades para a emancipação de vasto território nacional, onde existência de água abundante, irrigação farta e transporte barato acabariam com a migração, sedimentando aquela brava gente nas suas plantações - onde, enfim, até mesmo o clima mudaria?
Faça-se a análise técnica, consultem-se engenheiros e se verificará que esse canal -que chamaríamos da integração nacional- permitiria, além do mais, a ligação fluvial entre o Norte, o Nordeste e o Sul do país, chegando até o rio da Prata. E no máximo em dois anos, deixando para o passado definitivo essa chaga social que é a seca nordestina.


Paulo Planet Buarque, 70, advogado, conselheiro aposentado do Tribunal de Contas de São Paulo, é membro da Ordem dos Advogados do Brasil/SP e do Instituto dos Advogados de São Paulo



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