São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

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JUSTIÇA
Há um ano, 3 foram mortos em confronto com a polícia em conjunto habitacional; processo está parado desde setembro
Defesa de PMs atrasa processo da Juta

MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

A morte de três pessoas em um confronto com a PM em um conjunto habitacional na Fazenda da Juta, na zona sudeste de São Paulo, completa um ano amanhã e não há previsão de quando os quatro policiais acusados irão a julgamento. O processo está parado desde setembro, quando a defesa pediu o depoimento de dois deputados estaduais.
Seis meses depois, em março, a defesa desistiu do depoimento dos dois deputados e pediu um laudo particular, que será feito por peritos da Unicamp, mas a Justiça não estipulou prazo para que a prova seja apresentada.
Após perícias em fitas de vídeo, necropsias, uma exumação de cadáver e exames de balística, o inquérito policial conduzido pelo delegado Antonio Mestre Júnior, ex-titular da 8ª Seccional, foi concluído e remetido ao Ministério Público no final de julho.
O promotor Francisco José Taddei Cembranelli, que acompanhava o caso desde o início, apresentou sua denúncia em agosto, acusando de co-autoria nos três homicídios o tenente-coronel José Izaías Boscatti e o major Ademir Vitturi. O cabo Carlos Manoel da Costa e o soldado Rui Pinto da Silva foram acusados por um homicídio cada.
Foram ouvidas as oito testemunhas de acusação, cujos depoimentos terminaram no final de setembro, quando começaram os depoimentos das testemunhas de defesa.
Foi então que o caso começou a emperrar. O advogado que defende os PMs, Norberto da Silva Gomes, arrolou 32 testemunhas, entre elas uma juíza federal e dois deputados estaduais -Edson Ferrarini (PL) e Daniel Marins (PPB), que fizeram discursos na Assembléia Legislativa de São Paulo, logo após o caso, elogiando a ação da PM na Juta.
A lei brasileira impede que os deputados sejam intimados a depor e, desde então, os depoimentos dos deputados eram constantemente adiados. "O juiz marcava com os deputados uma data e, na véspera, eles alegavam compromissos inadiáveis e faltavam", diz o promotor.
Quando o depoimento dos deputados estava marcado para 23 de março, após o fim do recesso na Assembléia Legislativa, a defesa, no dia 21, desistiu do depoimento dos deputados e pediu novo laudo, a ser pago pela defesa, na Unicamp. O juiz aceitou o pedido, mas não foi fixado prazo para a entrega do laudo. "Eu te pago um laudo, você vai fazer um laudo contra mim?", diz o promotor.
"Após três perícias, não sei o que a defesa está contestando. Não entendo também por que insistiu no depoimento desses deputados e depois desistiu na véspera", afirma Cembranelli.
"A sociedade espera por esse julgamento, mas interessa para a defesa que o processo demore mais para que caia no esquecimento do povo", diz o promotor.
O advogado Norberto da Silva Gomes, que defende os PMs, foi procurado pela reportagem da Folha em seu escritório desde a última quinta-feira, mas não respondeu aos telefonemas.



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