São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

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DESABAMENTO
Segundo instituto de criminalística, 78% dos pilares foram feitos com coeficiente de segurança abaixo do exigido
Laudo aponta erro nos pilares do Palace 2

FELIPE WERNECK
da Sucursal do Rio

O edifício Palace 2 desabou devido a um erro generalizado em seu projeto de construção: 78% dos pilares do edifício foram construídos com coeficiente de segurança abaixo do estabelecido pela ABNT (Associação Brasileira das Normas Técnicas).
Mas a causa principal do desabamento, que provocou a morte de oito pessoas no dia 22 de fevereiro, foi o subdimensionamento dos pilares P4 e P44.
Os dois pilares deveriam ter capacidade para sustentar 480 toneladas, mas foram construídos para suportar somente 230, devido a uma falha no detalhamento da armação. Esse erro no detalhamento -adiantado pela Folha no dia 21 de abril- aconteceu no momento em que o calculista José Roberto Chendes transformou o projeto do prédio em desenhos, para facilitar o trabalho de construção.
Segundo a ABNT, um pilar deve ter o coeficiente mínimo de segurança 1,4. O P4 e o P44 apresentaram o coeficiente de 0,66.
Esse é o resultado do laudo do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli), divulgado ontem, quase três meses após a tragédia.
O delegado Carlos Alberto Nunes Pinto -responsável pelo inquérito que apura os responsáveis pelo desabamento- deve anunciar hoje pela manhã o resultado desse inquérito.
Antes da conclusão do laudo pericial, o delegado já havia afirmado que o processo "caminhava para o indiciamento" de José Roberto Chendes, projetista estrutural do prédio, e do ex-deputado Sérgio Naya, dono da construtora Sersan. Na ocasião, o delegado afirmou que só faltava saber qual seria a acusação, já que a participação dos dois era "evidente".
Em seu depoimento à polícia, Chendes admitiu a existência de erros no projeto, mas afirmou que eles não seriam suficientes para causar o desabamento. Naya não compareceu à polícia para depor.
Os peritos do ICCE também constataram a ausência de ganchos que deveriam amarrar a estrutura dos pilares. Segundo o laudo, o material utilizado na construção passou nos testes e não pode ser apontado como uma das causas do desabamento.
O subdimensionamento de pilares já tinha sido descoberto no Palace 1, prédio vizinho que foi construído com a mesma planta e está interditado desde o desabamento.
As obras de recuperação estrutural devem acabar no final deste mês, quando 150 famílias poderão retornar aos apartamentos.



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