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TRANSPORTE
80% dos veículos zero-quilômetro entregues pelas viações estão em desacordo com manual de padrões da SPTrans
Ônibus novo descumpre regra de segurança
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dos 1.220 ônibus zero-quilômetro entregues pelas empresas de
ônibus de São Paulo durante a
gestão Marta Suplicy (PT), 80%
descumprem requisitos básicos
de conforto e segurança previstos
no manual de padrões técnicos da
SPTrans, órgão da prefeitura responsável pelo transporte coletivo.
As especificações dos novos veículos que deveriam ser autorizados a operar na capital paulista foram elaboradas em 1998 e avalizadas por portarias da Secretaria
Municipal dos Transportes.
Uma delas é a que determina a
instalação de bloqueadores que
impedem a partida e a circulação
dos ônibus com as portas abertas
-que já estão difundidos em
grandes capitais, como Belo Horizonte e Rio, onde toda a frota tem
esse dispositivo para evitar acidentes. Em São Paulo, só 20% dos
ônibus novos e 10% da frota total
de 10 mil têm esse equipamento.
Os 1.220 veículos zero-quilômetro foram comprados pelas empresas após um acordo feito em
maio de 2001 com a administração petista, que estabeleceu a elevação de 21,74% da tarifa, de R$
1,15 para R$ 1,40, superando os
14,6% de inflação desde janeiro de
1999, data do reajuste anterior.
Do total entregue, apenas 20%
têm limitadores de velocidade
(dispositivo ligado à aceleração
que evita a ultrapassagem de uma
determinada velocidade), 22%
têm suspensão pneumática (que
deixa os degraus mais baixos, independentemente da quantidade
de passageiros) e 30% têm motor
traseiro (que evita danos auditivos dos operadores), por exemplo, três dos requisitos previstos
no manual de padrões técnicos.
O gerente-geral de engenharia e
informática da SPTrans, Carlos
Alqueres, diz que as regras são
"um ideal a ser perseguido", mas
que elas muitas vezes são uma dificuldade adicional para convencer as viações a renovar a frota.
Alqueres considera que não há
descumprimento das portarias
porque elas dizem que "excepcionalmente e a critério da SPTrans
poderão ser especificados equipamentos com características diferenciadas daquelas definidas".
A entrega de ônibus novos nessas condições são um exemplo do
atraso do transporte paulistano.
Em São Paulo, onde a tarifa é de
R$ 1,40, a idade média da frota é
de sete anos. No Rio, onde 95%
dos ônibus custam R$ 1,20, a idade beira quatro anos e a maioria
dos dispositivos de segurança começou a ser implantada em 1994
-de lá para cá, nenhum veículo
zero-quilômetro entrou no sistema sem bloqueador de porta.
Em Belo Horizonte, 8% da frota
foi renovada desde 2001 e todos os
ônibus novos atenderam a características de conforto e segurança
semelhantes às do manual da
SPTrans -suspensão pneumática e motor traseiro, por exemplo.
Lá, a tarifa custa R$ 1,15 e a idade
da frota atinge cinco anos e meio.
O gerente da SPTrans afirma
que a resistência dos empresários
paulistanos a alguns aparelhos se
deve provavelmente aos gastos de
manutenção, e não de compra.
Os bloqueadores de porta chegam a custar menos de 1% do valor total do veículo. Segundo Alqueres, eles também podem trazer situações complicadas ao motorista. "A gente sabe que alguns
passageiros seguram a porta e que
os ônibus trafegam cheios. Tivemos um motorista que foi agredido porque não conseguia fechar a
portar para rodar", diz.
Ele afirma que a prefeitura exigirá "muito mais" na licitação que
fará ainda neste ano para selecionar novos operadores. O Transurb (sindicato das viações) foi procurado pela Folha, mas não quis se manifestar.
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