São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRANSPORTE

80% dos veículos zero-quilômetro entregues pelas viações estão em desacordo com manual de padrões da SPTrans

Ônibus novo descumpre regra de segurança

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dos 1.220 ônibus zero-quilômetro entregues pelas empresas de ônibus de São Paulo durante a gestão Marta Suplicy (PT), 80% descumprem requisitos básicos de conforto e segurança previstos no manual de padrões técnicos da SPTrans, órgão da prefeitura responsável pelo transporte coletivo.
As especificações dos novos veículos que deveriam ser autorizados a operar na capital paulista foram elaboradas em 1998 e avalizadas por portarias da Secretaria Municipal dos Transportes.
Uma delas é a que determina a instalação de bloqueadores que impedem a partida e a circulação dos ônibus com as portas abertas -que já estão difundidos em grandes capitais, como Belo Horizonte e Rio, onde toda a frota tem esse dispositivo para evitar acidentes. Em São Paulo, só 20% dos ônibus novos e 10% da frota total de 10 mil têm esse equipamento.
Os 1.220 veículos zero-quilômetro foram comprados pelas empresas após um acordo feito em maio de 2001 com a administração petista, que estabeleceu a elevação de 21,74% da tarifa, de R$ 1,15 para R$ 1,40, superando os 14,6% de inflação desde janeiro de 1999, data do reajuste anterior.
Do total entregue, apenas 20% têm limitadores de velocidade (dispositivo ligado à aceleração que evita a ultrapassagem de uma determinada velocidade), 22% têm suspensão pneumática (que deixa os degraus mais baixos, independentemente da quantidade de passageiros) e 30% têm motor traseiro (que evita danos auditivos dos operadores), por exemplo, três dos requisitos previstos no manual de padrões técnicos.
O gerente-geral de engenharia e informática da SPTrans, Carlos Alqueres, diz que as regras são "um ideal a ser perseguido", mas que elas muitas vezes são uma dificuldade adicional para convencer as viações a renovar a frota.
Alqueres considera que não há descumprimento das portarias porque elas dizem que "excepcionalmente e a critério da SPTrans poderão ser especificados equipamentos com características diferenciadas daquelas definidas".
A entrega de ônibus novos nessas condições são um exemplo do atraso do transporte paulistano. Em São Paulo, onde a tarifa é de R$ 1,40, a idade média da frota é de sete anos. No Rio, onde 95% dos ônibus custam R$ 1,20, a idade beira quatro anos e a maioria dos dispositivos de segurança começou a ser implantada em 1994 -de lá para cá, nenhum veículo zero-quilômetro entrou no sistema sem bloqueador de porta.
Em Belo Horizonte, 8% da frota foi renovada desde 2001 e todos os ônibus novos atenderam a características de conforto e segurança semelhantes às do manual da SPTrans -suspensão pneumática e motor traseiro, por exemplo. Lá, a tarifa custa R$ 1,15 e a idade da frota atinge cinco anos e meio.
O gerente da SPTrans afirma que a resistência dos empresários paulistanos a alguns aparelhos se deve provavelmente aos gastos de manutenção, e não de compra.
Os bloqueadores de porta chegam a custar menos de 1% do valor total do veículo. Segundo Alqueres, eles também podem trazer situações complicadas ao motorista. "A gente sabe que alguns passageiros seguram a porta e que os ônibus trafegam cheios. Tivemos um motorista que foi agredido porque não conseguia fechar a portar para rodar", diz.
Ele afirma que a prefeitura exigirá "muito mais" na licitação que fará ainda neste ano para selecionar novos operadores. O Transurb (sindicato das viações) foi procurado pela Folha, mas não quis se manifestar.



Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Prefeitura recomeça as obras do Fura-Fila após um ano e sete meses
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.