São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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NA JUSTIÇA
Após depoimentos de acusação, advogado diz ter certeza da inocência de vereador; Ministério Público discorda da opinião e diz que há provas
Viscome dispensa testemunhas de defesa

da Reportagem Local

Dez vítimas do esquema de propina da Administração Regional da Penha prestaram depoimento ontem à Justiça. Todas elas afirmaram ter sido extorquidas por fiscais da regional, mas negaram ter entregado dinheiro ao vereador Vicente Viscome (expulso do PPB).
Após os depoimentos, o advogado de Viscome, Ademar Gomes, afirmou que irá desistir de convocar as testemunhas de defesa a que teria direito. "Como ninguém acusa o vereador, não tenho motivos para apresentar testemunhas de defesa. Quero agilizar o processo, porque tenho certeza de que o Viscome será absolvido", declarou Ademar Gomes.
Mas o Ministério Público discorda da avaliação de Gomes. Para o promotor Gilberto Leme Garcia, que acompanhou todos os depoimentos do caso na Justiça, há provas materiais e testemunhais do envolvimento de Viscome na máfia que agia na Penha. Ele acredita na condenação do vereador.
Viscome, vereador em segundo mandato, está preso há três meses no 29º DP (Vila Diva, zona sudeste de São Paulo), acusado de concussão e formação de quadrilha. Segundo a acusação, o vereador comandava um esquema de propina na Regional da Penha, que era controlada politicamente por ele.
Mesmo preso, Viscome tem uma licença judicial que o permite participar de todas as sessões da Câmara Municipal, às terças, quartas e quintas-feiras.
Os dez depoimentos de ontem evidenciaram a existência do esquema de corrupção. Na semana passada, outras dez vítimas já haviam prestado depoimentos com o mesmo teor.
Metade dos depoentes de ontem era composta de donos de bancas de jornal na região da Penha. Todos eles afirmaram ter pago propina aos fiscais Nilton Figueiredo da Silva e Nélson Gomes para a banca poder continuar funcionando.
O valor pago pelos donos das bancas variou entre R$ 2.000 e R$ 4.000. Após o primeiro pagamento, eles afirmam ter sido obrigados a pagar entre R$ 100 e R$ 200 semanais aos mesmos fiscais.
Dois donos de banca de frutas afirmaram ter sido procurados pelo engenheiro Luiz Carlos Ferraz Pessoa, nomeado por Viscome para a regional. Pessoa, segundo os depoentes, pediu R$ 5.000 para autorizar o funcionamento das barracas, que eram ilegais.
Os dois últimos depoentes faziam reformas em suas casas e dizem ter sido extorquidos pelo fiscal Clóvis Feitosa para as obras não serem embargadas.
Na próxima sexta-feira prestam depoimento as últimas 11 testemunhas de acusação. Na semana seguinte, seria a vez das testemunhas de defesa, que devem ser dispensadas por Viscome.
Segundo o juiz Rui Porto, da 8ª Vara Criminal, a sentença dos envolvidos no caso da Penha deve sair em um mês.
(OTÁVIO CABRAL)


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