São Paulo, sábado, 19 de julho de 2003 |
Próximo Texto | Índice
LIXO Deficiências em postos de entrega, falta de apoio e de estrutura e material ruim fazem com que cooperativas só usem 15% da capacidade SP subaproveita centrais de coleta seletiva
MARIANA VIVEIROS DA REPORTAGEM LOCAL Devido a deficiências nos Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), falta de apoio e de infra-estrutura para trabalhar a todo vapor e má qualidade do material enviado pela população, as centrais de triagem do programa Coleta Seletiva Solidária, da Prefeitura de São Paulo, operam hoje com 15% da capacidade, em média. Segundo a coordenação do projeto, as centrais (onde atuam 61 ex-catadores de rua) poderiam receber e mandar para a reciclagem num mês, juntas, 1.200 toneladas. De 11 de junho a 11 de julho, recolheram apenas 180 toneladas. A situação é pior na central da cooperativa Tietê (Tatuapé, zona leste de SP), a mais antiga, que funciona desde março. Das 400 t mensais que poderiam chegar à central, só entram 30 t (7,5%), diz o presidente da cooperativa, Daniel Bazílio da Silva. Segundo ele, além de não ter esteira instalada (o que atrasa a separação), a população não leva recicláveis aos PEVs e "falta apoio da prefeitura". Na Coopere, há dois meses no centro, a quantidade de recicláveis que chega por dia não supera 500 kg, diz Adriana Nascimento, educadora social da cooperativa. Já segundo Rubens Xavier Martins, coordenador da Coleta Seletiva Solidária, a central recebe de 1,5 a 2,5 toneladas por dia -o que, admite, ainda é pouco, já que ela comporta até 20 t diárias. Nascimento diz que, por causa da precariedade das instalações, não é possível ter mais de 12 trabalhadores. "E o material que recolhemos dos cerca de 50 PEVs instalados é de má qualidade, tem pouco papel e ainda vem sujo." Os membros da Coopere, pagos por produção, se dizem arrependidos de terem saído dos grupos de origem. "Se pudesse, voltava para a Coopamare [Cooperativa de Catadores de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis]. Ganhava muito mais", conta Léa, que não quis dizer o sobrenome. O ganho médio nas centrais da prefeitura vai de R$ 300 a R$ 350 por mês. Em grupos como a Coopamare, chega a R$ 500. "Mas as condições de trabalho são bem piores", sustenta Martins. O quadro é um pouco melhor na recém-criada central da Vila Leopoldina (zona oeste), onde atua a CooperAção. Num galpão improvisado, dentro da usina de compostagem, 21 cooperados recebem de 3,5 a 4,5 toneladas por dia de material -a capacidade máxima é de 20 toneladas. A central da zona oeste é beneficiada por circuitos porta a porta herdados da gestão Luiza Erundina (89-92) e pela infra-estrutura montada para a compostagem. Mesmo assim, não consegue acumular material suficiente para vender diretamente às indústrias recicladoras. "Ainda lidamos com aparistas, sucateiros e vidreiros, que pagam menos. O objetivo, com a central, era justamente eliminar esses intermediários", diz o presidente, Neilton César Polido. O problema lá são as condições de trabalho do galpão provisório -o definitivo não deve sair antes do fim do ano. A CooperAção tem uma esteira para ajudar na separação do material coletado. Nas centrais do Tatuapé e do centro, as esteiras, que deveriam ter sido instaladas logo após a inauguração, ainda estão desmontadas num canto. Há 15 dias, a prefeitura disse que elas seriam colocadas para funcionar nesta semana, o que não ocorreu. "Tudo deve estar instalado em 30 dias", disse Martins ontem. Aposta Para Silva e Nascimento, a sensação é que o município vem abandonando o projeto. Martins nega. "Se uma prensa quebra, como aqui, a prefeitura não conserta", conta Nascimento. Para divulgar sua coleta porta a porta, a cooperativa Tietê teve de mandar imprimir 20 mil folhetos por conta própria. Pagou R$ 280 -uma empresa bancou a outra metade. E o sistema porta a porta é a grande aposta das centrais e da prefeitura para alavancar a produtividade. Na área da cooperativa Tietê, a expectativa é duplicar o material arrecadado por dia. A propaganda serve como educação ambiental e é uma forma de conhecer a vizinhança e superar "atravessadores", que impedem a chegada de material nobre, como papelão e latas de alumínio. "As pessoas deixam papelão e papel com zeladores ou faxineiros. Tem gente que junta lata em casa para vender. Mas, conversando, mostrando o trabalho, ganhamos confiança, simpatia e um material melhor", diz Silva. Próximo Texto: Projeto duplicou a reciclagem oficial Índice |
|