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DROGAS
Relatório confidencial entregue a FHC revela presença de crime organizado e armas modernas no Polígono da Maconha
Governo teme roças de coca no sertão
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília
O governo federal perdeu o controle policial e social da região do
sertão pernambucano conhecida
como polígono da maconha e teme que ela acabe atraindo máfias
internacionais de narcotraficantes. O maior dos temores: que a
maconha seja substituída nas
plantações pela coca, para a produção de cocaína, ou pela papoula, matéria-prima da heroína.
A aliança entre os plantadores de
maconha e o crime organizado da
região Sul/Sudeste já existe.
Relatório produzido no final do
ano passado pela Subsecretaria de
Inteligência da Casa Militar da
Presidência, ao qual a Folha teve
acesso, diz que foi detectada a
"presença de elementos oriundos
do Sudeste do país que fornecem
armas modernas de grosso calibre
na troca por maconha".
O relatório, classificado como
"confidencial" e repassado ao
presidente Fernando Henrique
Cardoso, traz uma revelação surpreendente: que as quadrilhas que
agem no assalto a bancos, carros-fortes, caminhões de carga e
estabelecimentos comerciais
"têm duas metralhadoras ponto
50 montadas em duas camionetes", numa demonstração do poderio bélico que possuem.
Essa aliança entre produtores de
maconha e o crime organizado,
diz o relatório, elevou os crimes a
um estágio de "violência avassaladora". Os investigadores que
percorreram a região citam como
exemplo o assalto à agência do
Banco do Brasil de Inajá (PE), em
26 de novembro do ano passado.
O assalto terminou com um saldo
de sete mortos e cinco feridos.
"É essa falta de controle que pode ser um passo para, além da maconha, haver o plantio da coca e da
papoula, pois a área tem clima e
solo ideais para essas produções",
disse à Folha o secretário nacional
Antidrogas, Walter Maierovitch,
que assume o cargo em outubro.
Delegacias sem delegados
A pressão para que os agricultores nordestinos não plantem apenas maconha pode crescer na medida em que governos, como o da
Colômbia, vêm intensificando
campanhas de incentivo aos plantadores para trocarem a coca pela
produção de café.
Ao listar as causas que contribuíram para a transformação da
região, o relatório é claro e exemplifica: o descumprimento de
compromissos assumidos por
parte da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), no
reassentamento de famílias retiradas de áreas inundadas por barragens nos anos 80, resultou no incremento do plantio da maconha.
Outra causa é o lucro rápido. Enquanto um hectare de feijão produz 2 toneladas (rendendo cerca
de R$ 1.200), o mesmo terreno
plantado com maconha rende 3,6
toneladas (cerca de R$ 90 mil)
-um lucro 75 vezes maior.
O trabalhador rural, em uma roça comum, ganha cerca de R$ 5
por dia. No plantio de maconha, a
remuneração diária chega a R$ 50.
Isso justifica o alto padrão de vida
de algumas famílias de agricultores da região, incompatível com a
pobreza generalizada.
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